quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Violência Simbólica

          A violência simbólica existente em diversos setores da sociedade não se apresenta de forma pragmática. Ela é estabelecida entre os homens como base do processo de socialização, imposta culturalmente para ser instrumento de manutenção da ordem social e hierarquizada na relação de dominação para que possa ser aceita dentro de um aspecto de normalidade. O preconceito e a discriminação social são exemplos desse tipo de violência. O conceito de violência simbólica foi desenvolvido pelo francês Pierre Bourdieu, como forma de descrever o processo pelo qual a classe dominante impõe sua cultura à sociedade em geral. Esse módulo de violência pode ser exercido sob vários aspectos. Pelo Estado, ao criar leis que promovem a naturalização das disparidades entre os povos; pela mídia, que massifica a cultura pela imposição da indústria cultural; pela escola, que hierarquiza o sistema de ensino-aprendizagem na figura do professor e pelos próprios grupos comunitários, que criam estamentos étnicos, raciais e sociais. 
          A violência é comumente entendida como o ataque à integridade física do indivíduo, constituindo-se uma contravenção social. No entanto outros tipos de violência escapam à observação geral por estarem camuflados em sistemas de inter-relação dos indivíduos em uma sociedade. Nessa perspectiva podemos destacar a violência simbólica, um tipo construído historicamente nas relações sociais através da criação de valores, da produção e reprodução de significados normatizados e legitimados tão somente na subjetivação das pessoas. A violência simbólica é uma imposição cultural, pela qual se consolidam as idéias de manutenção da ordem social que garantem a supremacia dos poderes estruturados.
          Para Bourdieu, a violência simbólica não presume coerção física nas relações de poder, mas uma força de coação social aplicada pela reprodução de valores simbólicos, na qual se apóia o exercício da autoridade. Nesse tipo de relação de poder, os agentes ou grupo de agentes impõem suas representações e idéias dominantes através da transmissão dos bens simbólicos e valores culturais, criando uma hierarquia social capaz de internalizar na subjetividade dos dominados a adesão natural às suas regras e sanções. Ou seja, é uma violência velada que escamoteia o constrangimento e promove a cumplicidade dos que a sofrem, porque se concebe no processo de socialização do indivíduo. Para o sociólogo ela está diretamente associada ao poder simbólico que constrói a realidade para manter a ordem e homogeneizar as concepções do tempo, do espaço, do número, da causa, promovendo assim a “concordância entre as inteligências”.

Zenóbio Oliveira

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