domingo, 11 de março de 2012

NÓS E AS ABELHAS
Sérgio Farias
Jornalista

O endereço é pomposo e a vizinhança solene: o palácio potengi, a assembléia legislativa, o tribunal de justiça. Alheias ao que se passa nos bastidores do poder, abelhas decidiram fixar morada bem no meio da praça sete de setembro. Pra ser mais exato, bem num rasgo aberto pelo tempo no bronze oco no qual a jovem senhora república foi moldada. E estão por lá  faz tempo: motorista da assembléia  há mais de 15 anos, José ferreira, o  Zeca , assegura:  quase invisíveis, elas já zumbiam por aqui , bem antes de quando ele chegou. “É morada muito antiga”, especula escaneando com o olhar o entra-e-sai dos insetos prodigiosos. Não há notícia de ataques, nem do sabor do mel que fabricam ou quanto voam por dia pra conseguir o pólen vital de que precisam. A persistente colméia serve como mais um alerta sutil e ao mesmo tempo, dramático: a forçada convivência das abelhas com os passantes, em pleno coração da cidade, é sinal de que alguma coisa mudou e se perdeu. O  sofá onde você pode estar sentado agora, poderia muito bem ser uma árvore, de uma mata, onde abelhas como as que moram na estátua oca da praça sete de setembro, tinham uma colméia e faziam mel...

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