segunda-feira, 4 de junho de 2012

Vá... que eu vou dormir


Marcos Bezerra
do Novo Jornal

A profissão que abracei é pródiga em produzir cidadãos insones. Pelo menos os que trabalham à noite, como é o meu caso. Para manter os neurônios funcionando até tarde, nada como um cafezinho atrás do outro. A cota destinada à redação acaba cedo, mas sempre aparece uma garrafa extra “lá de baixo”, onde, acredito, não existem tantos cafeólatras. Assim, com uma boa dose de cafeína no juízo e martelando as ideias até a hora de largar o batente, chego em casa com o cérebro ligadão. Até desligar é coisa de varar a madrugada.
Entregar o corpo cansado à curiosidade de algum programa televisivo não vai me fazer relaxar. Filmes mamão com açúcar, também não. De ação muito menos, com o agravante de que, sempre que começo a assistir um ou outro,  só vou conseguir largar com os créditos subindo. A leitura de uma revista também não resolve meu problema e os bons livros, sinceramente, guardo o respeito de tê-los em mãos, não nas horas de cansaço, mas de relaxamento.
Isso tudo, mais a decisão – extemporânea para os costumes atuais – de nunca tomar nem mesmo um relaxante muscular para dormir, quanto mais um tarja preta, já faziam de mim um quase zumbi. Em autoanálise, um caso perdido...
Até esta semana.
Receita para insônia: encontre na programação televisiva algo que não lhe agrada – o que, convenhamos, é muito fácil –, mande  todos os envolvidos na produção e apresentação para a cucuia e vá dormir. A experiência é recente e, reconheço, não está cientificamente comprovada. Mas, mas por enquanto, estou com cem por cento de aproveitamento. 
Foram quatro tentativas. A primeira com Chitãozinho e Xororó no Jô Soares. O apresentador, de vez em quando, já é um pé no saco e música sertaneja não faz meu estilo. Então, sinto muito Chitãozinho e Xororó, mas eu prefiro dormir.
Na segunda noite lá vem William Waack clamando pelo fim do mundo por alguma mudança na economia. Interessante que, depois que a decisão do Ministério da Fazenda ou Banco Central se mostra acertada, eles nunca voltam ao assunto, o que seria reconhecer o erro em suas previsões eternamente sombrias. Em vez disso, estão sempre em busca do próximo erro; do próximo “mas”.  Vão ser pessimistas assim lá nos cafundós do Judas; reclamei com William Waack, ri do cabelo “lambido de gato” de Carlos Alberto Sardenberg e não esperei para ouvir o agradecimento de Eraldo Pereira pela audiência que “é sempre sinal de prestígio para o Jornal de Globo”.
Na terceira noite, Top Shot, do History Channel. Um reality show para descobrir quem é o melhor atirador dos Estados Unidos. Para quem não gosta de violência, bom que o controle remoto resolve rapidinho.
Na última noite, a chamada para a entrevista de Ronaldinho Gaúcho ao Jornal da Globo. Vá tomar num lugar impublicável seu mercenário de alguma coisa impublicável! Praguejei como bom flamenguista e fui dormir o sono dos justos.

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