segunda-feira, 2 de julho de 2012

Poesia pura


Pau de arara
Pompílio Diniz

Lá vem vindo os pau-de-arara
Num caminhão Fê-Nê-Mê
Desses, que, quando para,
Suspira pra gente vê!
Lá vem vindo os pau-de-arara,
E o só, bateno na cara,
Fazeno os póbe sofrê.

Fê-Nê-Mê é caminhão
Das Fábrica Nacioná
De Motô, qui dá insprusão
E custa muntho a pegá.
Fê-Nê-Mê tem nome inzato,
É Fome no Norte é Mato,
Assim diz o pessoá!

Vem todo mundo lá drento,
Uns de cóca, ôtos de pé,
Naquela farta de assento,
Se arrume lá quem pudé!
A gente tem impressão
Qui o peste do caminhão
Virô barca de Noé!

Suó, catinga, puêra,
Fadiga, fome, cansaço,
Dô de cabeça, tontêra,
Molêza e dô no ispinhaço!
Tudo isso o cabra sente,
No meio daquela gente,
Além dos ôto imbaraço!

É quando grita um de lá:
- Qui farta de inducação!
Tu num pudia isperá
Qui parasse o caminhão?
Apelando pra saúde,
Diz o ôto: - Fiz o qui pude,
Mar num hôve jeito não!

As istrada?... É uma disgraça,
Só tem buraco e disvio!
Quando passa o caminhão
Pu riba dos catabio,
Quem tá lá dent dá pinote,
Qui inté parece os caçote,
Na ribancêra do rio!

Isso, porém, num é nada
Pus cabôco do Sertão!
As istrada insburacada,
As farta de inducação,
Nada disso se cumpara
Cum o sofrê dos pau-de-arara,
Quando quebra o caminhão!

Intonce, grita o chofé:
- Muitha atenção, pessoá!
In riba fica as mulé,
Os home tem qui apiá!
O caminhão trôxe ocêis,
Agora, chegô a vêiz
De nóis tomém li levá!

E vamicê num imagina
O qui é um caminhão
Quebrado nas travessia
Das istrada do Sertão!
É cansaço, sêde, fome,
E o home qui num fô home
Num arrizéste, nhôr, não!

E assim chêga os pau-de-arara,
Impurrano um Fê-Nê-Mê!
O só, bateno na cara,
Fazeno os póbe sofrê!
Coitado dos pau-de-arara,
A sorte nunca lhe ampara,
Nem os Guvêrno lis vê!
  

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