terça-feira, 9 de outubro de 2012

Crônica



Quem é o pai da criança? 
Fabiano Regis - bancário e radialista.


Embalado pelo ócio naquela manhã de 07 de setembro, me espichei numa rede, e apontei o controle remoto rumo à televisão num desses programas que ensina a cozinhar. O assunto que temperava as panelas em fogo brando era a “paternidade depois dos 40 anos de idade”. Na roda de conversa com a apresentadora estavam alguns pais quarentões e um especialista. Os debatedores foram unânimes em dizer que a decisão de ser pai “tardiamente” se dava em função da carreira, estabilidade financeira e a experiência. No meu caso, fui pai do terceiro filho depois dos 40 anos, e confesso que não vejo nos atributos “carreira, estabilidade e experiência”, argumentação suficiente para convencer que eu não sou o “avô” do meu filho.
Ainda me lembro que na maternidade, uma enfermeira de rosto angelical ao passar por mim no corredor e me ver com o bebê no colo, perguntou: - “é o seu primeiro neto?” Cerca de um mês depois, a minha filha de 14 anos -toda orgulhosa – segurava o irmão para a primeira visita ao médico pediatra. De repente entra no consultório um amigo de infância do meu pai. Sem dizer uma palavra, ele olhou fixamente para a minha filha, e saiu. No dia seguinte telefonou para reclamar: - “Bela criação a sua, em rapaz? Não orientou e olha o que aconteceu. Além da mãe adolescente, agora tem um neto pra sustentar”. Já por volta dos 03 anos, quando meu filho tinha idade para ingressar na pré-escola, fui a uma papelaria com o objetivo de comprar o seu material escolar. No local das compras, o meu filho se engraçou por uma mochila que viu na televisão. Tentei convencê-lo a comprar outro modelo, com preço módico, mas não teve jeito, fez birra, acabei cedendo. A vendedora que presenciava tudo escorada no balcão sentenciou: - “avô é tudo igual, só muda o endereço”. Há um mês, entrei numa padaria para comprar um bolo e antes resolvi degustar. Do meu lado estava o meu filho, silente, observando o meu mastigar. Nesse momento, a atendente muito comovida falou: - “Que avô desnaturado. Não ofereceu um pedaço de bolo a essa pobre criança!” Por ultimo, fui buscá-lo na escola recentemente. Enquanto caminhávamos pelo pátio em direção ao portão de saída, ele pediu que eu parasse se dirigiu até uma coleguinha, e falou: - “este é o meu pai!”. Depois de tantas dúvidas a esse respeito, essa afirmação me deixou bastante emocionado. De volta para casa, com a família reunida, resolvi contar o quanto eu estava feliz, com a atitude do meu filho. Sem pestanejar, a fonte inspiradora do que você está lendo agora, arrematou: - “eu só falei aquilo, papai, porque a minha colega vive dizendo pra todo mundo que você é o meu avô!”                                                            
Quero deixar claro que não sou contra a paternidade depois dos 40 anos de idade, mas tenho que admitir o quanto é difícil e embaraçosa, quando já se tem uma penca de cabelos brancos.


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