quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Poesia do sertão

O ECRIPE
Pompílio Diniz


Essa história de dizê
Qui o mundo vai se acabá
Já deu muito o qui fazê
Já deu muito o qui falá
As muié num hora dessa
Pra seus marido cumeça
Munto segredo contá!

Era comum no sertão
Si aquerditá nas bestêra
Do “Cabeça de Lião”
Um amanaque de fera
Qui o povo qui lê si intope
De pruficia e horoscope,
Pru resto da vida intera!...

Veja cuma o povo omenta
Essas coisa pra pió
Já no finá de quarenta
Naquele ecripe do Só
Os amanaque dizia
Qui o mundo naquele dia
Num ficava nem o pó!

Quando o buato correu
Todo mundo aquerditô
E a muié de Rumeu
Qui a principi num ligô
Veno o mundo iscurecê
Pensano qui ia morrê
Pra seu marido falô:

- Ô Rumeu, meu Rumeuzin!
Tu perdoa os erro meu?!
Já qui o mundo ta no fim
Vou contá o qui acunteceu
Tu sempre pensô qui eu era
Uma muié muito séra
Mas foi ingano, Rumeu!

Tu sabe cuma é os home
Eles num serve pra nada
Pois nunca arrespeita o nome
Nem liança de casada
E a gente cum sacrifiço
Vai regeitano no iníço
Mas a insistênça é danada!...

Tu te alembra de Justino?
Pois ele foi o premêro
Dispois dele o Belarmino,
Honorato Missanguêro,
Chico Brabo, Zé do Ganço,
Sivirino, véio Amanso
E o seu Mane Sapatêro...

Ô Rumeu tu ta lembrado
Daqueles vinte mi réis
Qui eu dixe qui tinha achado
Duas notinhas de dez?!
Aquelas nota Rumeu
Tu qué sabê quem me deu?
Foi teu cumpade Moisés!

Naquelas tuas viage
Pras fêra de Cunceição,
Te falo sem pabulage
Muitas vez o sacristão
Trazia do seu Vigáro
Aqueles vinho bem caro
Pra nóis dois tomá pifão!

Mas a curpa nun é minha,
Pois muitas veiz tu saía
E me dexava sozinha
Sem nenhuma cumpanhia
Tu num ligava pra nada
Eu tombem ficá parada
Desse jeito num pudia!...

Quantas veiz tu ia as festa
Pra dansá e se divirti
E eu ficava feito besta
Em casa sem pudê i!
Apois quando tu saía
Eu tombem mi divirtia
Cum Juvenço Bentivi!

Inquanto o Ecripe durô
Foi pra Rumeu padicê
Pois tudo qui se passô
A muié foi lhe dizê
Quando essas coisa acuntece
Os coitadinho parece
Qui é o derradêro a sabe!


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