terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Poesia do sertão

Queixa de sertanejo.

Diniz Vitorino

Sou sertanejo patrão
Trago nos óio istamapdo,
Os retrato disbotado,
Dos drama do meu sertão.
Faz tempo e pra eu foi onte,
Queu vi pro riba dos monte,
As nuve fazer lençó,
Pro riba da serra iscura,
Pra se queimar na quintura,
Da brasa acesa do só.

Eu sofri do mermo jeito,
Que os conterrano sofrêro,
As mão da seca iscrevêro,
Umas tragéida im meus peito,
No fundo do meu isprito,
Juro Cuma tem iscrito,
Uns rumance doloroso,
É um histora iscrivida,
Nos livro da minha vida,
Que se apagar é custoso.

Vi o verão assassino,
Queimando a cara dos home,
O ribuliço da fome,
Nos istambo dos minino,
O vurto magro da sede,
Recostado nas parede,
Das casa veia sem gente,
Taliguá visage feia,
Zombando da dor alêia,
E fazendo medo aos vivente.

Foi lá no sertão seu moço,
Queu vi o só incarnado,
Cuma um corpo avermeiado,
Derramando sangue grosso,
Os serrote cuma uns forno,
Ingulindo os vento morno,
Que iscorregava nas grota,
E as foia mucha nos vale,
Cumo uns taco de avuale,
Que o só do verão disbota.

Foi lá que eu vi os carnêro,
Butando a língua de fora,
Morrer três, quatro pur hora,
Pur a bêra dos barrêro,
Os vira-lata pé duro,
Iscrafunchando os munturo,
Inchendo os bucho de lixo,
E os povo pobe in jijum,
Morrendo de um in um,
Do mermo jeitpo dos bicho.

Pra eu tô uvindo o choro,
Dos sertanejo valente,
Levando a puêra quente,
Nas aprecata de couro,
No ombro um saco amarrado,
E o bucho seco e ingiado,
Que nem tripa in labareda,
E os pé iscrevendo o nome,
Das quatro letra das fome,
Nos carrascá das vareda.

Me dá um nó na gaiganta,
Quando alembro dos istalo,
Que o vento dava nos talo,
Dos gaio seco das pranta,
A ventania zangada,
Iscavacando as istrada,
Trocendo as paia dos rancho,
E as galinha poedêra,
Atrás de cumê poiquêra,
Pro dibaxo dos garrancho.

Quando eu vejo aqui na praça,
Os home rico bebendo,
As muié se arremexendo,
Surrindo sem achar graça,
Maguado eu lembro da mágua,
Das sertaneja atrás d’água,
Sair dez, doze num lote,
Ir triste e vortá chorando,
Cum os bucho seco roncando,
E sem água dento dos pote.

Vocês aí in São Palo,
Trata das égua parida,
Os cavalo de currida,
Nem se parece cavalo,
É uns bicho mantiúdo,
Os couro é cumo uns viludo,
Pru causo das vitamina,
Inquanto no meu sertão,
O povo cura os pumão,
Cum rapa de crina-crina.

Seu doto vossa insolença,
Dê cum uma chave bem dura,
Três vorta nas fechadura,
Das porta da consciença,
Se num abrir todas ela,
Abra um meno uma jinela,
Pra vê meu sertão diserto,
Onde ninguém tem priguiça,
Mas os chefe da justiça,
Nunca pássaro pru perto.

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