sábado, 23 de abril de 2016

Sertanejando

Minha felicidade é verde como a esperança
Zenóbio Oliveira das Aguilhadas

Hoje eu fui contemplar o sertão. Ver de perto o metamorfismo desse ambiente tão vicissitudinário. A casca pálida que descorava a caatinga se esfolou perante o matiz que se estampa agora, trazido pela magia da chuva, como tivesse o campo bebido gotas de arco íris.
Ainda me encanto com o orvalho suando as folhas do marmeleiro. Ah, quanto me faz bem o cheiro de mato molhado, o rumor dos córregos, as pequeninas fontes borbulhantes na beirada dos caminhos, como flores d’água, me sugerindo, desde menino, ser o solo chorando as lágrimas da felicidade.
Tenho a alma recompensada toda vez que avisto o sertanejo, ombreando a enxada, atravessar as poças pelo caminho do roçado, com a mesma fé de quem atravessou o mar em busca da terra prometida.
Sempre me fascinou as feições dos janeiros milagrosos, a generosidade do aguaceiro dos marços botando vida nas sangrias dos açudes.
Como me apraz a visão lilás da floração do feijoeiro, como me conforta a paisagem de uma lavoura bageada enchendo as mãos do homem do campo.
Fico contente ao ver essa fartura estendida em esteiras pelos terreiros de abril.
O que é a alegria senão um punhado de festa na simplicidade dos bichos, e no dueto harmonioso do vento com as árvores?
Diante desse cenário esverdeado do sertão compreendo que a concupiscência emparedou-me o regalo na ilusão de concreto da cidade grande, porém aqui parado, pés desnudados sobre a lama dessas veredas, posso enxergar todos os atributos do meu contentamento e compreender que minha felicidade mora neste chão sublime e que ainda me espera adormecida sob a sombra dessas catingueiras.

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