quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

A ROTINA DA VIDA SERTANEJA

Zenóbio Oliveira

Em cada mão se arrebenta um calo
E o suor espesso pelo seu corpo escorre
Um sangue fervente em cada veia corre
E um sol de fogo, ardente, a castigá-lo.

Quando vestido em sombra o dia morre
As mãos dolentes a Deus pedem regalo
O corpo alquebrado pede abalo
E o estômago vazio pede porre.

E na tipóia, o sertanejo, em noite insone,
Espera que o vigor não lhe abandone,
Pois o amanhã lhe trará mesma peleja,

De enxada, terra seca e luta apenas,
Vai vivendo assim, a duras penas,
A rotina da vida sertaneja.

Contradições.

Zenóbio Oliveira

Disseram-me um dia que o amor,
Seria a causa dos meus sacrifícios,
Das renúncias que me causam dor,
E das entregas que se tornam vícios.

Disseram-me, também, que os meus suplícios,
São meus caminhos pra o jardim em flor,
E que são todos os meus benefícios,
As conseqüências do meu dissabor.

Mas não pude seguir esses caminhos,
Simplesmente por não poder acreditar,
Que é preciso andar sobre espinhos,

Para ao jardim em flor poder chegar,
E sem renúncias meus atos são mesquinhos,
Talvez porque nunca aprendi a amar.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Violência Simbólica

          A violência simbólica existente em diversos setores da sociedade não se apresenta de forma pragmática. Ela é estabelecida entre os homens como base do processo de socialização, imposta culturalmente para ser instrumento de manutenção da ordem social e hierarquizada na relação de dominação para que possa ser aceita dentro de um aspecto de normalidade. O preconceito e a discriminação social são exemplos desse tipo de violência. O conceito de violência simbólica foi desenvolvido pelo francês Pierre Bourdieu, como forma de descrever o processo pelo qual a classe dominante impõe sua cultura à sociedade em geral. Esse módulo de violência pode ser exercido sob vários aspectos. Pelo Estado, ao criar leis que promovem a naturalização das disparidades entre os povos; pela mídia, que massifica a cultura pela imposição da indústria cultural; pela escola, que hierarquiza o sistema de ensino-aprendizagem na figura do professor e pelos próprios grupos comunitários, que criam estamentos étnicos, raciais e sociais. 
          A violência é comumente entendida como o ataque à integridade física do indivíduo, constituindo-se uma contravenção social. No entanto outros tipos de violência escapam à observação geral por estarem camuflados em sistemas de inter-relação dos indivíduos em uma sociedade. Nessa perspectiva podemos destacar a violência simbólica, um tipo construído historicamente nas relações sociais através da criação de valores, da produção e reprodução de significados normatizados e legitimados tão somente na subjetivação das pessoas. A violência simbólica é uma imposição cultural, pela qual se consolidam as idéias de manutenção da ordem social que garantem a supremacia dos poderes estruturados.
          Para Bourdieu, a violência simbólica não presume coerção física nas relações de poder, mas uma força de coação social aplicada pela reprodução de valores simbólicos, na qual se apóia o exercício da autoridade. Nesse tipo de relação de poder, os agentes ou grupo de agentes impõem suas representações e idéias dominantes através da transmissão dos bens simbólicos e valores culturais, criando uma hierarquia social capaz de internalizar na subjetividade dos dominados a adesão natural às suas regras e sanções. Ou seja, é uma violência velada que escamoteia o constrangimento e promove a cumplicidade dos que a sofrem, porque se concebe no processo de socialização do indivíduo. Para o sociólogo ela está diretamente associada ao poder simbólico que constrói a realidade para manter a ordem e homogeneizar as concepções do tempo, do espaço, do número, da causa, promovendo assim a “concordância entre as inteligências”.

Zenóbio Oliveira

sábado, 29 de outubro de 2011

Brazilian language



Zenóbio Oliveira

Depois do stress da semana resolvi que estava precisando de um happy hour, então fui ao Shopping, ao Mossoró West Shopping.
Saí bem cedo para evitar o rush.
No Box de entrada uma voz me orientou a retirada do tiket de acesso. Estacionei, entrei para o hall e fui à praça de alimentação comer um Sandwuich. O garçon me trouxe o menu. Pedi um cheeseburger com coca-cola. Enquanto comia, observei o lugar. Algumas pessoas, nas mesas, navegavam na internet com seus notebooks, já que o estabelecimento possui Wi-fi (Wireless Fidelity), outras comiam apressadas, seus lunchs diets e lights. Um casal, ao meu lado, pagava a conta com Mastercard, enquanto a filha via, no Youtube, um clip da Beyoncê na tela, touchscreen, do seu iphone de última geração.
Saí do fast food e fui dar um tour pelas dependências do empreendimento, que abrigava muita gente naquele domingo. O vozeio promíscuo me fez lembrar o zumbido das feiras da infância, lá no mercado da minha São Sebastião. O burburinho é igual, o que muda é a estampa. Os meninos se divertiam nas máquinas de Game e as mocinhas bisbilhotavam o showcase das lojas, em busca de algo fashion. Outros jovens apenas caminhavam pelos corredores ouvindo seus Mp3 para corroborar a marca de geração readphone.
 Já estava indo embora e, quando passava novamente pela praça de alimentação, fui reconhecido por um amigo que não via há tempos. Seu grito me chamou atenção:
__Diga meu brother!
__Senta aí, vamos tomar um Skol!
Fica pra próxima, respondi e me despedi com um até logo. Compreensivo, ele me desejou sorte.
__Ok, Brother!
__Tchau!

domingo, 23 de outubro de 2011

O amor



Quem dera que o amor fosse uma prática,
Em que pudéssemos exercer total domínio,
Feito de lógica, razão, raciocínio,
De uma certeza axiomática.

Mas, o amor não é, nem matemática,
Nem prognóstico, profecia, vaticínio,
Ele nasce somente do mútuo fascínio,
E cresce na alma de maneira empática.

E acontece involuntariamente,
Extemporâneo ou repentinamente,
Invade o coração com seu furor,

Como um rio de emoção que se derrama,
Para encher o peito de quem ama,
De paz, e aflição, e alegria, e dor...

Zenóbio Oliveira

sábado, 15 de outubro de 2011

VERBO AD VERBUM


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A rua é pública?


Lembro-me que nas peladas de mirim no chão piçarrado da Rua 7 de Setembro, lá na minha infância longínqua, sempre havia um menino que era excluído do jogo e ficava no meio do “campo” atrapalhando. Quando convidado a sair, proclamava aquela frase, que para minha doce inocência, mais parecia um decreto revestido de uma sentença irrevogável:
__ A rua é pública!
Por um bom tempo acreditei na legitimidade dessa asserção. Em mim, porem, a infante inocência não evoluiu para uma ignorância juvenil, nem para o agravamento de uma cegueira intelectual adulta e hoje a luz da experiência aclara em mim outra certeza:
__ A rua tem dono!
E não são poucos.
O dono do botequim transforma a via em grande pátio para a seresta do fim de semana; o senhor do restaurante dispõe dela para oferecer refeições ao ar livre; o líder comunitário ou religioso a usa como espaço de eventos; o rapaz da quadrilha junina a fecha para os ensaios e apresentações; o político também faz seu comício ali... Nestes casos, a apropriação é temporária, como uma espécie de comodato.
Na posse vitalícia da rua o exemplo mais destacado fica por conta dos estacionamentos privativos para instituições e autoridades. Regalia ao prefeito e ao seu secretariado, ao vereador, ao juiz, ao promotor. A adequação do espaço público às necessidades específicas da população está prevista na Resolução 302 do CONTRAN. Vagas destinadas aos veículos de aluguel, de carga e descarga, conduzidos ou transportando portadores de deficiência física e idosos, ambulâncias, alem de viaturas policiais compreendem tudo que a lei determina.
Portanto, qualquer outra prescrição que não atenda os dispositivos desta Resolução, constitui-se manobra política e promoção de privilégio para favorecer os “amigos do rei”, agredindo vergonhosamente o princípio democrático e ferindo criminalmente o direito legal. 



Zenóbio Oliveira

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Opinião


Idolatria e Fanatismo.
Zenóbio Oliveira

É penoso ver essa juventude no exercício vergonhoso do fanatismo e da idolatria. Chega a desapontar quem sempre acreditou na evolução da humanidade e vê que esta caminha a passos largos para o abismo da bestialização.
As cenas televisivas de meninas histéricas que se esgoelavam pela atenção do “brasileirinho da mídia”, o Neymar, denunciam não apenas uma deficiência cultural, mas um atraso humano. “Por que todos esses gritos pelo Neymar?” perguntou um repórter. “Porque ele é lindo” responderam as garotas de Belém do Pará. Como se pode ver, a cegueira cultural leva à cegueira física, visual, propriamente dita.
Ontem presenciei a chegada da cantora Vanessa da Mata para um show na Praça de Eventos da Avenida Rio Branco, em Mossoró. Alguns fãs se acotovelaram em busca de um registro fotográfico com a cantora, que de cabeça baixa, num ato menoscabo, demonstrava desdém e altivez aos seus admiradores escravos.
Tive vergonha por essas pessoas, nos dois casos, pois compreendo que o fanatismo e a idolatria são atos extremos e irracionais, alem de atestado assinado e autenticado de inferioridade pura. É preciso que se combata essas anomalias sociais. A natureza nos deu o privilégio da racionalidade e, longe disso, estaremos, até o pescoço, num estado de inanição cultural, admirando tão somente nossa babaquice.
           




quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Rádio

Após mais de 100 dias fora do ar está voltando desde domingo passado o programa Palco Nordestino na FM Universitária 103,3. Para o apreciador da música nordestina acompanhar basta apenas sintonizar a Universitária FM aos domingos das 06h às 09h da manhã. É claro que, pela qualidade, recomendamos a sintonia de toda a programação da emissora.
Um diferencial.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Opinião

A DEUSA NÃO É “CEGA”. É LENTA.


O noticiário nacional, seja no rádio, jornal ou televisão, enche diariamente os nossos olhos e ouvidos com falcatruas e maracutaias: políticos medonhos afanando dinheiro público; bandidos de colarinho branco desviando verbas destinadas para a saúde e educação e outros crimes bárbaros. Este mesmo noticiário não mostra ninguém sendo preso. No máximo vão até à delegacia acompanhados de seus advogados para prestar “esclarecimentos”, e depois são liberados.Tais desmandos suscitaram uma grande dúvida: será que a justiça é “cega”?“Caí em campo”. Fiz uma pesquisa minuciosa para entender o que significa a figura daquela mulher com os olhos vendados, carregando em uma de suas mãos a balança e na outra uma espada. Durante a minha pesquisa,encontrei no jornal Carta Forense edição on-line que “a venda tem como função básica evitar privilégios na aplicação da justiça, sendo a balança o instrumento que pesa o direito que cabe a cada uma das partes e a espada item indispensável para defender os valores daquilo que é justo, já que a norma sem a possibilidade de coação dependeria apenas das regras de decência e convivência de cada comunidade, o que seria ineficaz para garantir o mínimo ético indispensável para a harmonia social. Podemos dizer que a espada sem a balança é força brutal, assim como a balança sem a espada tornaria o Direito impotente perante os desvalores que insistem em ser perenes na história da humanidade”. Eu acrescentaria algo mais na figura da mulher de olhos vendados. Uma corrente em seus pés para representar a lentidão da justiça. E para ilustrar esta lentidão, a história do servidor público de um município da região: Aquele teve o seu “robusto” salário mínimo reduzido pela metade (por ordem do prefeito eleito na época) como punição pelo simples fato de ter exercido um direito “sagrado” da democracia: votar livremente. O servidor procurou a justiça do trabalho e aguarda há exatamente 10 anos o reparo deste crime. O cidadão da história é resignado e extremamente religioso. Vê na lentidão da justiça um desígnio de Deus e acredita na “justiça” divina. Contextualizando esse episódio, com base na figura da mulher de olhos vendados, pode-se imaginar que a prefeitura está dentro de um prato da balança bastante inclinado para baixo, enquanto que o humilde servidor encontra-se dentro do segundo prato, inclinado para cima, com a espada enfiada na boca, perpassando o intestino grosso e delgado e saindo pela região glútea, a espera do veredicto final.

FABIANO REGIS
Radialista e bancário.


Preguiça Judicial 
Zenóbio Oliveira



Maria de Seu Chico três vinténs,
Casou-se com Titico de Honório,
E resolveram os dois, que o casório,
Iria ser com repartição de bens,
Consolidada a partilha dos teréns,
Documento em cartório foi lavrado,
Terras, imóveis, troços, gado,
Pertenceria, assim, a cada qual,
Só que a primeira querela do casal,
Foi parar no birô do magistrado.

É que Maria ganhou uma novilha,
Dada pelo pai, ele, seu Chico,
Que cruzou com um garrote que Titico,
Também tinha ganhado da família,
Só que o documento da partilha,
Não previa esse tipo de emperro,
E justamente por causa desse erro,
Estão, há tempo, na justiça a debater,
Num processo de litígio pra saber,
Qual dos dois é o dono do bezerro.

E enquanto espera uma sentença,
Essa novela de Maria com Titico,
Passeia pelas rodas de fuxico,
O que aumenta mais a malquerença,
A demora consolida a desavença,
E a lerdeza forense, essa preguiça,
Atiça neles o fogo da cobiça,
Pois no gado foi num foi nasce uma cria,
Tanto é meu patrão que hoje em dia,
Quase todo o curral ta na justiça.