Marcos Bezerra
do Novo Jornal
A profissão que
abracei é pródiga em produzir cidadãos insones. Pelo menos os que trabalham à
noite, como é o meu caso. Para manter os neurônios funcionando até tarde, nada
como um cafezinho atrás do outro. A cota destinada à redação acaba cedo, mas
sempre aparece uma garrafa extra “lá de baixo”, onde, acredito, não existem
tantos cafeólatras. Assim, com uma boa dose de cafeína no juízo e martelando as
ideias até a hora de largar o batente, chego em casa com o cérebro ligadão. Até
desligar é coisa de varar a madrugada.
Entregar o corpo
cansado à curiosidade de algum programa televisivo não vai me fazer relaxar.
Filmes mamão com açúcar, também não. De ação muito menos, com o agravante de
que, sempre que começo a assistir um ou outro,
só vou conseguir largar com os créditos subindo. A leitura de uma
revista também não resolve meu problema e os bons livros, sinceramente, guardo
o respeito de tê-los em mãos, não nas horas de cansaço, mas de relaxamento.
Isso tudo, mais a
decisão – extemporânea para os costumes atuais – de nunca tomar nem mesmo um
relaxante muscular para dormir, quanto mais um tarja preta, já faziam de mim um
quase zumbi. Em autoanálise, um caso perdido...
Até esta semana.
Receita para
insônia: encontre na programação televisiva algo que não lhe agrada – o que, convenhamos,
é muito fácil –, mande todos os envolvidos
na produção e apresentação para a cucuia e vá dormir. A experiência é recente
e, reconheço, não está cientificamente comprovada. Mas, mas por enquanto, estou
com cem por cento de aproveitamento.
Foram quatro
tentativas. A primeira com Chitãozinho e Xororó no Jô Soares. O apresentador,
de vez em quando, já é um pé no saco e música sertaneja não faz meu estilo. Então,
sinto muito Chitãozinho e Xororó, mas eu prefiro dormir.
Na segunda noite
lá vem William Waack clamando pelo fim do mundo por alguma mudança na economia.
Interessante que, depois que a decisão do Ministério da Fazenda ou Banco
Central se mostra acertada, eles nunca voltam ao assunto, o que seria reconhecer
o erro em suas previsões eternamente sombrias. Em vez disso, estão sempre em
busca do próximo erro; do próximo “mas”.
Vão ser pessimistas assim lá nos cafundós do Judas; reclamei com William
Waack, ri do cabelo “lambido de gato” de Carlos Alberto Sardenberg e não
esperei para ouvir o agradecimento de Eraldo Pereira pela audiência que “é
sempre sinal de prestígio para o Jornal de Globo”.
Na terceira
noite, Top Shot, do History Channel. Um reality show para descobrir quem é o
melhor atirador dos Estados Unidos. Para quem não gosta de violência, bom que o
controle remoto resolve rapidinho.
Na última noite,
a chamada para a entrevista de Ronaldinho Gaúcho ao Jornal da Globo. Vá tomar
num lugar impublicável seu mercenário de alguma coisa impublicável! Praguejei
como bom flamenguista e fui dormir o sono dos justos.