Templos de
viagens
Genildo Costa
Vez por outra me vem aquela
sensação de que ainda há espaço para uma conversa aprumada por esses botequins
da vida. Até que de vez em quando aparece algumas almas privilegiadas. Confesso,
mas, dificilmente consigo ser seduzido quando
entra em cena o tão bem postado discurso da supremacia. Aliás, muito
comum quando a cena é gerada a partir de um certo grau de desenvoltura desses
atores decotidiano sombrio.
Os mais reservados, geralmente,
aguardam o momento ideal para sua intervenção. Tudo conforme os critérios da casa. Quem sempre
sai ganhando é o anfitrião que acaba conciliando e aprendendo, por demais. É
nesse expediente da diversidade humana que a vida se apresenta como um grande
espetáculo. Na verdade, nesse tabuleiro de discurso bem polido, os mais
irreverentes tornam-se paladinos do compromisso ético; Sempre em defesa da
causa perdida.
Sem perder o prumo e sempre
antenado, o tribuno não disfarça e se convence de que tudo não passa de uma
quimera. Uma fantasia, que vai muito além de sua imaginação. É quase que um
tiro certeiro. Uma tentativa de se redimir de tantos fracassos, de tantas
decepções. Mesmo assim a vida segue, normalmente, seu curso, por esses
corredores de tão profunda e visível decadência. E aí, a alma definha, lentamente,
como se num compasso de espera.
Por sob essas manhãs de tão
pouca claridade para com os dias que se repetem, o calendário pouco tem
alterado a rotina desses dias de cansaço
e de amigos ausentes. A tribuna está vazia. O copo deixado por sobre a mesa não
mais sugere a alegria e, nem tampouco, consegue evitar o desejo compulsivo da
bebida amarga que depaupera e estrangula o pouco que ainda resta de alguns
fracassados moribundos.
Quem outrora jurou estar
sempre por perto, sumiu no elevador do tempo. Não esperou, sequer, o próximo
espetáculo. Mas a platéia inquieta, em volta à mesa, insiste em não querer
desistir de ver, pela última vez, a mais profunda e legítima declaração de amor
e apreço às ilusões perdidas.
Tamanha é a sua capacidade
de permanecer altivo e sereno. Ciente de suas incursões. Frágil, mas sem perder
a elegância de sua essência e sem deixar vestígios, no camarim da vida.
Não há como compensar a dor,
em meio aos gritos da penúltima noite. O bêbado enfeitado, de fantasia torpe, numa
declaração aos raios primeiros de cinzenta aurora, tropeça e em gritos de
alucinação saúda as luzes que se desprendem dos faróis incandescentes. Agora sim,
a sós. Tenta e não consegue acertar o caminho da mais próxima estação. Parece
tão perto e tão distante. A mão amiga, é visagem. É horizonte que se encerra. É
tropeço que se configura, agora em verdade, absolutamente.
Creio que todas as verdades possam
estar expostas por esses varais de tão rude encantamento da vida que se esgota.
Que não seja os olhos de oberã os últimos a fitá-los. Prefiro, ainda mesmo que
tardiamente, esperar a última sessão, desse enorme palco da vida. Sei que por
essas instâncias de solidão e de medo, foram-se, pra nunca mais voltar, os aplausos.
As fantasias de minha tão pequena e singela morada e (alcova) desses corredores
por onde me perdi.
Para não mais ter que tentar
outra vez, depois de tantos embates, prefiro o meu mundo desabitado. Mesmo frágil,
me apresento como astro... que chora, rir e não se curva a derrota. Porque derrota,
às vezes, muito mais astro me faço.
Não sei o que sou. O que
represento. Devo estar por sob às luzes desses astros de infinitos
desejos.Talvez um astro vagabundo, que vagueia no silêncio dessas ruas
paralelas e de becos estreitos de profunda melancolia. É final. Estrangularam-se
as falas, agora, por onde devo ir?! não sei dizer pra onde e que rumo tomar. Perdi
o tino e o espaço que a mim resta, quando possível, é guarida para as palhetas
douradas de um sol quase sempre nessas manhãs que me despertam na incansável
monotonia desse badalar insano do som das catedrais.