Ponto de vista
Marcos Bezerra, do Novo Jornal
Chamo de Principado de Emaús, o
bairro panamirinense onde moro, nas franjas de Natal. Lugar de ruas sossegadas
que, um dia, há de ter São Nivaldo Monte como padroeiro.
A BR-101 divide o bairro em dois e,
do meu lado, Aeroporto Augusto Severo, Base Aérea de Natal e a Mata do Catre
fazem do lugar um nicho. Só vai lá quem tem negócio. Da minha janela de
apartamento popular, avisto e respiro o pedacinho de Mata Atlântica protegido
pela Aeronáutica. Santa proteção!
De incômodo só um ou outro tiro
disparado no treinamento dos recrutas. Menos mal que o orçamento parece ser
curto – calculo pelo número de tiros e fico a pensar na qualidade dos soldados
formados em nossas Forças Armadas. Só se aprende a atirar atirando. Sei disso
por experiência própria nas barraquinhas de tiro ao alvo da vida. R$ 2, cinco
chumbinhos. Mas, em lugar de cinco chocolates sem gosto para levar para casa,
dois ou três pirulitos derrubados pelo palito. Marcos “tiro certo” só precisa
de um tempo para se acostumar à mira das espingardas de ar comprimido! Para não
ser injusto, acredito não ser culpa dos comandantes militares, que vivem a
pedir mais verbas para treinar suas tropas.
Mas, ando meio aborrecido com eles.
Só não sei a quem endereçar meu inconformismo: Aeronáutica ou Exército. E tudo
por causa de um muro.
Não sei quem teve a ideia. Sei que
são os homens do Exército, trabalhadores da construção das marginais da BR-101,
que estão executando. Tijolo a tijolo, o paredão de seus três metros de altura
vai subindo bem na ponta do aterro da nova marginal, que consumiu algumas
centenas de carradas de areia e barro até ser concluída. A estrada ficou a
poucos metros do pedacinho de floresta que tanto prezo e, num trecho que vai
até quase o Rio Pitimbu, os carros passam na altura da copa das árvores. Eu,
que passo por lá dia sim e o outro também, curtia essa visão cada dia mais rara
numa cidade que cresce a passos acelerados. Até me deparar com o primeito tijolo
e entender, ou pelo menos tentar entender, o que estavam fazendo.
Eu, que entre muitos defeitos não
relaciono o egoísmo, pensei que outros motoristas bem poderiam sair da via
principal para também desfrutar desse contato com o verde. Mesmo que fosse só o
tempo de abrir a janela e respirar um pouco do ar que nós, moradores deste lado
de Emaús, respiramos e que, apesar do obstáculo, ainda estará lá quando a obra
for concluída. Chato vai ser encher os pulmões de cara para uma parede de
tijolos.
Como tudo tem seu lado positivo, a
obra da marginal inclui também um calçadão, tocado pelos mesmos operários
fardados. A revolta pelos tijolos que sobem serena com o cimento que se
espalha, da pontinha de Emaús até quase Nova Parnamirim. Como consolo, na
caminhada, ainda vamos ter um restinho da vista do Rio Pitimbu.
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