domingo, 28 de novembro de 2010

Relíquia

Em 1985 tivemos a maior cheia da história do Rio Apodi/Mossoró. Morávamos no sitio Aguilhadas, em Gov. Dix-Sept Rosado e a nossa casa ficou submersa nas grandes enxurradas de 11 de abril e 17 de maio. Dois dias antes da água cobrir nossa casa meu pai, conhecido no lugar como Chico Carlos professor, escreveu um texto de desabafo e que estava escondido nos baús lá de casa. Revirando esses baús encontrei esse texto e reproduzo aqui esse desafogo emocional do meu pai. 



Hoje são 9 de abril de 1985. É um dia de grande apreensão. Mesmo assim não estou preocupado, mas tomando minhas providências, porque já estou bem baseado com esses tipos de inverno. Sei, por experiência própria, quando vai inundar. Já passamos por dezenas de aperreios, alguns bem grandes: 1961, 1965, 1967, 1974, 1975, 1980 e agora passamos por mais este, 1985. Já fiz a mesma casa três vezes, quase no mesmo lugar. A conta é só mesmo três. Se tiver que passar pra quatro, tem que mudar. Aqui onde moramos, não dá mais para morar gente, já deu, hoje só serve pra morar cururu, pois que esses animais já se apoderaram das nossas casas desde o verão, aliás, isso foi o primeiro prenúncio. Hoje, 9 de abril, há notícias de um absurdo número de chuvas nas cabeceiras do rio Apodi e não vai ficar só nesses. Daqui para 31 de maio outros se seguirão, a pisada é essa. Mas, como disse, não estou mais preocupado, é que agora já perdi o medo, com todas as angústias que vivi no passado por conta de enchente, já me acostumei. Disparei pra fora de mim toda a carga de emoção que estava sentindo e agora sou um homem que que só teme a miséria enquanto ela não vem, porque depois que ela chega meu amigo, eu faço como diz Chico Jurema:
__Beleléu!

Francisco José de Oliveira
Professor aposentado

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Opinião

A cor do Brasil
            O racismo é um assunto que se manteve historicamente polêmico e que ainda hoje permanece tema de debates em nossa sociedade. Para uma análise mais profunda dessa questão vamos partir de dois pontos chaves: o preconceito e a democracia raciais. Antes, porem de adentrarmos no cerne desse tema, precisamos levantar alguns acontecimentos que marcaram a história da formação do povo brasileiro.
O nosso povo teve sua formação fundamentada em três bases étnicas continentais: uma européia especificada nos portugueses colonizadores, os brancos, outra africana formada pelos negros trazidos para servir de mão de obra escrava e a terceira, a dos índios nativos. O processo formativo se deu por entrechoques classistas, raciais e principalmente interétnicos, que envolveram esses três contingentes – índios, brancos e negros – de forma extremamente conflituosa. Todos esses conflitos, que se configuraram como força motora da história e da organização social brasileiras, culminaram na supremacia dos brancos e conseqüentemente na subjugação de índios e negros.
O intenso contato étnico entre essas três matrizes originais possibilitou a aculturação e os cruzamentos inter-raciais. Uma espécie de caldeamento que misturou índios, negros e brancos, desde o período da colonização, e que resultou numa miscigenação da cultura brasileira. Podemos apontar como resultado desses cruzamentos inter-raciais o caboclo, mistura do branco com o índio, o mulato, mistura do branco com o negro e cafuzo, do negro com o índio. A partir daí, dessa mistura de etnias, é que surgiu a idéia de que o mestiço, produto desse caldeamento, fosse o elemento constitutivo da identidade nacional brasileira.
Essa miscigenação garantiria naturalmente uma unidade para nossa raça, que, composta por mestiços, teria necessariamente igualdade social e jurídica, a chamada democracia racial, consolidada, no Brasil, na década de 1930. A coisa, porem, não é bem assim e aqui compactuamos com o pensamento do sociólogo Ronaldo Sales, da Fundação Joaquim Nabuco, quando este diz que “a miscigenação não conduz à democracia racial porque, na prática, não cria uma categoria homogênea de mestiços, mas, sim, uma hierarquia de subcategorias pela qual quanto mais perto um indivíduo estiver da ‘matriz branca’, maiores são suas chances de inclusão social”.
A bem da verdade, o mito da democracia racial foi construído sobre uma integração subordinada, de maneira progressiva pela abolição da escravatura, pela proclamação da república e pela revolução de 30, como forma de calar os movimentos de luta negros. Atualmente este mito se manifesta nas formas de tratamento – afro-descendente. Nossa sociedade foi conduzida ao regime de cordialidade racial, o chamado regime assimilacionista, em que o negro vai perdendo sua identidade, já que sua negritude se dilui na “branquização” gradativa.
A discriminação racial saiu do geral para o particular. O racismo passou a ser entendido como preconceito isolado. Mas basta que um negro ascenda à classe social superior, como o novo emergente, o preconceito até então latente se manifesta e logo se diz: ele está aqui, mas não é um de nós! isso porque o negro foi estigmatizado pelo estereótipo racial. Se for negro é pobre ou marginal. Lembro de uma história que ouvi de um amigo, quando este dizia que seu pai ao ver um repórter negro na televisão sempre dizia: “olhe aí um negrinho que se deu bem na vida”!  E aí, voltamos ao Ronaldo Sales, quando este afirma que “o estereótipo define, assim, um conjunto de expectativas socialmente estabelecidas e que visam à definição de situações cotidianas”. É o que ele chama de demarcação racial. Isso faz parte de uma competência social, e essa demarcação até pode ser corrigida, no entanto a correção que se é feita em relação às pessoas negras, aponta para uma quebra de expectativa individual, classificando o negro que transpõe o estereótipo como uma exceção: Negro que venceu, negro bem sucedido... são negros de alma branca.
Tudo isso promove a criação de estamentos sociais onde o preconceito se estabelece, impossibilitando a equidade racial, a implantação da justiça e a consolidação da cidadania. A democracia racial até seria possível, mas como bem avalia Darcy Ribeiro, isso só ocorrerá com uma democracia social. Ou há democracia para todos ou não há para ninguém.
Se pensássemos raça pelo seu conceito científico teríamos uma postura democrática verdadeira, porque a ciência classifica raça como espécie, categoria, sem, contudo, atribuir-lhe distinções biológicas e/ou morfológicas. Dizendo de outra forma, raça nada mais é que a condição humana. O que existe é uma classificação cultural que hierarquiza as raças em superiores e inferiores. Em nossa sociedade, infelizmente para negros, índios, pobres, homossexuais, os valores da nossa cultura não traduzem integralmente as idéias da nossa ciência.

                                                                                                                                         Zenóbio Oliveira

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Mídia

Dez estratégias de manipulação midiática
Reproduzido do Blog do Rodrigo Vianna
http://www.rodrigovianna.com.br/outras-palavras/noam-chomsky-10-estrategias-de-manipulacao-midiatica-2.html
O lingüista estadunidense Noam Chomsky elaborou a lista das “10 estratégias de manipulação” através da mídia:
1- A ESTRATÉGIA DA DISTRAÇÃO.
O elemento primordial do controle social é a estratégia da distração que consiste em desviar a atenção do público dos problemas importantes e das mudanças decididas pelas elites políticas e econômicas, mediante a técnica do dilúvio ou inundações de contínuas distrações e de informações insignificantes. A estratégia da distração é igualmente indispensável para impedir ao público de interessar-se pelos conhecimentos essenciais, na área da ciência, da economia, da psicologia, da neurobiologia e da cibernética. “Manter a atenção do público distraída, longe dos verdadeiros problemas sociais, cativada por temas sem importância real. Manter o público ocupado, ocupado, ocupado, sem nenhum tempo para pensar; de volta à granja como os outros animais (citação do texto ‘Armas silenciosas para guerras tranqüilas’)”.
2- CRIAR PROBLEMAS, DEPOIS OFERECER SOLUÇÕES.
Este método também é chamado “problema-reação-solução”. Cria-se um problema, uma “situação” prevista para causar certa reação no público, a fim de que este seja o mandante das medidas que se deseja fazer aceitar. Por exemplo: deixar que se desenvolva ou se intensifique a violência urbana, ou organizar atentados sangrentos, a fim de que o público seja o mandante de leis de segurança e políticas em prejuízo da liberdade. Ou também: criar uma crise econômica para fazer aceitar como um mal necessário o retrocesso dos direitos sociais e o desmantelamento dos serviços públicos.
3- A ESTRATÉGIA DA GRADAÇÃO.
Para fazer com que se aceite uma medida inaceitável, basta aplicá-la gradativamente, a conta-gotas, por anos consecutivos. É dessa maneira que condições socioeconômicas radicalmente novas (neoliberalismo) foram impostas durante as décadas de 1980 e 1990: Estado mínimo, privatizações, precariedade, flexibilidade, desemprego em massa, salários que já não asseguram ingressos decentes, tantas mudanças que haveriam provocado uma revolução se tivessem sido aplicadas de uma só vez.
4- A ESTRATÉGIA DO DEFERIDO.
Outra maneira de se fazer aceitar uma decisão impopular é a de apresentá-la como sendo “dolorosa e necessária”, obtendo a aceitação pública, no momento, para uma aplicação futura. É mais fácil aceitar um sacrifício futuro do que um sacrifício imediato. Primeiro, porque o esforço não é empregado imediatamente. Em seguida, porque o público, a massa, tem sempre a tendência a esperar ingenuamente que “tudo irá melhorar amanhã” e que o sacrifício exigido poderá ser evitado. Isto dá mais tempo ao público para acostumar-se com a idéia de mudança e de aceitá-la com resignação quando chegue o momento.
5- DIRIGIR-SE AO PÚBLICO COMO CRIANÇAS DE BAIXA IDADE.
A maioria da publicidade dirigida ao grande público utiliza discurso, argumentos, personagens e entonação particularmente infantis, muitas vezes próximos à debilidade, como se o espectador fosse um menino de baixa idade ou um deficiente mental. Quanto mais se intente buscar enganar ao espectador, mais se tende a adotar um tom infantilizante. Por quê? “Se você se dirige a uma pessoa como se ela tivesse a idade de 12 anos ou menos, então, em razão da sugestão, ela tenderá, com certa probabilidade, a uma resposta ou reação também desprovida de um sentido crítico como a de uma pessoa de 12 anos ou menos de idade (ver “Armas silenciosas para guerras tranqüilas”)”.
6- UTILIZAR O ASPECTO EMOCIONAL MUITO MAIS DO QUE A REFLEXÃO.
Fazer uso do aspecto emocional é uma técnica clássica para causar um curto circuito na análise racional, e por fim ao sentido critico dos indivíduos. Além do mais, a utilização do registro emocional permite abrir a porta de acesso ao inconsciente para implantar ou enxertar idéias, desejos, medos e temores, compulsões, ou induzir comportamentos…
7- MANTER O PÚBLICO NA IGNORÂNCIA E NA MEDIOCRIDADE.
Fazer com que o público seja incapaz de compreender as tecnologias e os métodos utilizados para seu controle e sua escravidão. “A qualidade da educação dada às classes sociais inferiores deve ser a mais pobre e medíocre possível, de forma que a distância da ignorância que paira entre as classes inferiores às classes sociais superiores seja e permaneça impossível para o alcance das classes inferiores (ver ‘Armas silenciosas para guerras tranqüilas’)”.
8- ESTIMULAR O PÚBLICO A SER COMPLACENTE NA MEDIOCRIDADE.
Promover ao público a achar que é moda o fato de ser estúpido, vulgar e inculto…
9- REFORÇAR A REVOLTA PELA AUTOCULPABILIDADE.
Fazer o indivíduo acreditar que é somente ele o culpado pela sua própria desgraça, por causa da insuficiência de sua inteligência, de suas capacidades, ou de seus esforços. Assim, ao invés de rebelar-se contra o sistema econômico, o individuo se auto-desvalida e culpa-se, o que gera um estado depressivo do qual um dos seus efeitos é a inibição da sua ação. E, sem ação, não há revolução!
10- CONHECER MELHOR OS INDIVÍDUOS DO QUE ELES MESMOS SE CONHECEM.
No transcorrer dos últimos 50 anos, os avanços acelerados da ciência têm gerado crescente brecha entre os conhecimentos do público e aquelas possuídas e utilizadas pelas elites dominantes. Graças à biologia, à neurobiologia e à psicologia aplicada, o “sistema” tem desfrutado de um conhecimento avançado do ser humano, tanto de forma física como psicologicamente. O sistema tem conseguido conhecer melhor o indivíduo comum do que ele mesmo conhece a si mesmo. Isto significa que, na maioria dos casos, o sistema exerce um controle maior e um grande poder sobre os indivíduos do que os indivíduos a si mesmos.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Folclo-rindo



Carnaval.

               Foi em 2005. Fazíamos a cobertura jornalística para a TV Cabugi de um evento denominado de “Carnaval da Terceira Idade”. Embalados pelas marchinhas e frevos, senhores e senhoras recordavam aqueles tempos áureos, tempos em que a festa momesca não tinha o estigma maculador do Bonde do Tigrão, nem o galope devastador da Eguinha Pocotó.
Começamos as entrevistas e a primeira foi com uma senhora vestida de colombina, que já trazia no rosto as perversas marcas dos setenta.
E a pergunta foi:
____A senhora tem alguma boa lembrança do carnaval?
E a resposta:
____Ah meu filho! bom não é aqui! Bom vai ser lá na casa de comadre Bina, nós vamos todo mundo pra lá quando acabar aqui viu?

Vaquejada.

              Foi em Apodi. Um sujeito havia adentrado a festa sem que fosse pelo método convencional, aquele em que você dá um papelzinho e o carinha da portaria deixa você passar. Como ele conseguiu entrar eu não sei, o certo é que ele estava clandestino no ambiente. Foi descoberto pelos seguranças, detido e levado à presença do dono do parque, S. Milton, cabra de poucas palavras e muita ação. Esse homem agarrou o penetra pelo colarinho e fez rebolo dele pra fora. O camarada caiu nos pés do povo que fazia fila pra entrar e pra disfarçar a vergonha, bateu a poeira e disse:
____Esse seu Milton tem umas brincadeiras chocas!!!

Paixão de Cristo.

              Foi em Areia Branca. Era uma apresentação teatral da morte de Jesus e os atores eram homens da cidade: pescadores, estivadores, práticos, trabalhadores de salinas e mulheres do lar. O indivíduo que interpretava o papel de Barrabás, uma figura que mais parecia ter saído de um filme de duendes e feiticeiras, mais feio que pancada na canela, já estava meio grogue, pra lá de GABIDÁ, como dizia meu amigo Guiné, em profundo estado de torpor, ou seja, ligeiramente embriagadíssimo.
             O repórter Fabiano Morais perguntou a Barrabás:
___O que representa pra você interpretar o papel de um criminoso que foi libertado em detrimento da condenação e morte de Jesus Cristo?
Ele respondeu:
___É massa!

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Crônica

                                                          


            NÃO BASTA SER ELEITOR, TEM QUE SABER NADAR!


Certa noite eu armei uma rede num canto de sala, fui até a cozinha, peguei um graúdo taco de rapadura, botei água num copo de alumino sem alça e bastante avariado (coisa de estimação), e deixei debaixo da rede, bem pertinho de mim. Peguei o controle remoto, apontei para a televisão, apertei o dedo, e o programa eleitoral “gratuito” estava lá. Não tive escolha, tive que assistir a propaganda dos candidatos. Alguns atrapalhados, de olhos arregalados, dizendo: ”Vou trabalhar pela educação, saúde, segurança, e emprego! Eu sou um “canidato” ficha limpa! O meu “númuro” é ““.
Na propaganda dos presidenciáveis, um lado dizia que tinha feito muito e ia continuar fazendo. O outro lado dizia que tinha pouca coisa feita, e que iria fazer muito mais. Mas o que me chamou a atenção mesmo foi um “efeito especial”, onde uma bolinha de papel jogada na cabeça de um candidato teve o mesmo impacto que uma ‘banda’ de tijolo!
            Como faz falta a velha cédula de papel! Ali agente escrevia um bocado de desaforo, endereçava a esses candidatos, e tava feito o desabafo! O fato é que naquela noite assisti ao programa até o final, desarmei a rede, e guardei o velho copo de estimação. Passada a campanha, já sabendo quem ganhou e quem perdeu, fui ‘bulir’ na internet e fiquei indignado com o que vi: Uma estudante de São Paulo, incitando a morte aos nordestinos por afogamento! Segundo ela, isso ia fazer um bem danado a São Paulo! Esse desatino me fez pensar: “Se São Paulo ficasse a mais ou menos umas dez léguas daqui, eu ia num carro da linha de manhã, voltava de tarde, só pra ter uma “conversinha” com essa estudante” (para minha segurança, na mala eu levaria um colete salva-vidas). Mas como São Paulo fica a muitas léguas daqui, resolvi mandar e-mail que dizia o seguinte: “Oxente, menina! Você ta com o cão nos couros, é? Você sempre foi tiririca com os nordestinos, ou só fica assim quando o seu candidato perde? Nas redes sociais na internet, muita gente fala mal dos nordestinos, mas fica no anonimato! E você foi mostrar as venta por quê? Ta correndo um boato, que você vai ser chamada aos “carretéis”. Fique sabendo, minha jovem, que neste país, só quem manifesta preconceito contra os nordestinos e nunca é chamado aos “carretéis”, são os roteiristas de telenovelas, programas de humor, cinema, e publicidade!”.
“Mensagem enviada com sucesso”. Até agora estou aguardando uma resposta da moça... Pelo jeito o e-mail foi deletado. Digo, afogado! É, morreu na podridão do rio Tietê.



                                                                                                                                   FABIANO REGIS

Folclo-rindo

Por Fabiano Régis


Domingo era dia de feira em Campo Grande. Quando eu não estava escutando os cantadores de viola, estava em frente ao armazém de “seu Gregório”, olhando o vai e vem dos cabeceiros e os seus fardos geniais. O cabeceiro “João Curicaca” era conhecido por não levar desaforo pra casa. Certa vez, sua filha Terezinha flagrou “Curicaca” comendo um pão em frente ao armazém de “seu Gregório” e falou: Papai o senhor me mata de vergonha! O que foi que eu fiz minha “fia”? O senhor, comendo pão no meio da rua! Terezinha minha “fia”, será que eu vou ter que alugar uma casa, só pra comer um Pão?

domingo, 21 de novembro de 2010

Festa




Dia 27 de de novembro, essa menina aí da "chapa" vai reunir os amigos na praça da Convivência, no arco final, pra comemorar 10 anos de amor e aprendizado, como diz ela, na Comunicação.
O que é que ela vai comemorar? bom segue abaixo tudo esmiuçado, tim tim por tim tim.

Crônica

O especialista.

Era um grupo de oito lenhadores. Na verdade agricultores, desenvolvendo uma atividade provisória na entressafra do feijão. Aliás, o homem do campo é obrigado a se desdobrar numa série de tarefas complementares para garantir a papa dos meninos. Eles tinham ajustado com o dono da fazenda Marcolino, Seu Lino Pio, para fazer a broca do mato na propriedade. Estava no tempo do preparo das terras para o plantio, visto que o céu daquele janeiro de 1987 já se mostrava com cara de inverno. Em troca do serviço, poderiam vender a lenha para as caieiras da região.
A fazenda Marcolino ficava metida nos cafundós-do-judas, embrenhada no meio das juremas. Havia somente a casa grande, na qual vivia o proprietário com a esposa e dois empregados.
Os trabalhadores foram arranchados à sombra de uma enorme quixabeira bem longe do casarão. O trajeto dava umas três léguas bem medidas.
Na segunda semana de estância, o pessoal foi surpreendido pela visita de um dos criados da fazenda. Chegou a cavalo. Mostrava-se apressado. Nem apeou. Veio preveni-los da presença de uma onça que estava matando e comendo o gado ali pelos arredores da lenheira. Teria encontrado várias reses esquartejadas. Só restaram as cabeças.
Alguns homens do grupo ficaram preocupados, principalmente Xoxó e Luiz de Romão. Tanto que ficaram a tarde toda encoivarando garranchos e improvisando fogueiras para espantar a suposta fera. E olhe que os dois eram inimigos jurados. Esqueceram a rixa e, em dois tempos, estavam cúmplices contra o perigo iminente. Outros não deram importância à notícia. Onça por essas bandas? Isso é conversa pra boi dormir.
Durante três noites o rancho esteve sob proteção de intenso fogaréu.
Na madrugada seguinte, quando todos dormiam, dois rapazes da turma, que não botaram muita fé nas palavras do capataz, prepararam, em surdina, uma presepada para amedrontar ainda mais os colegas. Com os dedos unidos em forma de pata eles imprimiram dezenas de marcas no chão, pelas imediações de onde queimaram as fogueiras, arremedando as pegadas do feroz animal. Em seguida chamaram os outros para atestar que o bicho havia rondado o lugar.
O alvoroço dos homens foi imediato. Se não fosse o fogo, dizia Xoxó, num tinha mais ninguém vivo. Começaram a ajuntar os troços para darem no pé. Os meninos confessaram, em gargalhadas, o ato astucioso. Fomos nós que fizemos os rastros! Ninguém acreditou. Suspenderam o trabalho e foram para a casa da fazenda esperar o caminhão da lenha, que viria naquele mesmo dia.
Perto do meio dia, o caminhão chegou.  O motorista, que também era o comprador da lenha, estranhou ver todos na sede da fazenda. Os homens lhe contaram o que houve. A par do acontecido, ele tentou desvanecê-los da idéia de irem embora. Conseguiu. A duras penas. Em seguida foi ver os rastros. Dava pra ver que se divertia com a história. Prometeu trazer alguém que entendesse do assunto. No sertão há especialistas pra tudo no mundo: curandeiro, benzedeiro, rezador especializado em coriza, arroto choco, bucho inchado e outras mazelas.
O homem que ele trouxe no dia seguinte, por exemplo, era perito em rastrear animais. Muito bom, sabe o tipo de cobra pelo modo como ela se arrasta, garantiu. O rastreador experimentado agachou-se junto aos arremedos das pegadas felinas, observado pelo grupo de lenheiros apreensivos. Analisou uma aqui, outra mais detidamente ali, farejou o solo, ao modo dos cães, ergueu-se sisudo e proferiu a sentença:
__ É uma onçinha vermelha! Tadinha, a bichinha tá mancando de uma mão!




                                                                                                  Zenóbio Oliveira





Palco Nordestino


Todo domingo, das 6:00 às 9:00 da manhã
na RádioUniversitária FM 103,3.

Hoje é dia de acordar bem cedo,
Porque é domingo, e domingo é dia,
Dia de festa, dia de alegria,
Dia de bermuda, dia de brinquedo,

Dia de praia, dia de açude,
Dia de cantar, dia de sol,
Dia de assistir o futebol,
Dia de curtir a juventude,

Dia do velho, dia do menino,
Dia de cantiga e poesia,
Hoje é domingo e domingo é dia,
Dia de Palco Nordestino.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Poesia

Desejos de poeta
                           
Quero só um bêmio como amigo,
Uma flor, o luar, uma calçada,
E um poeta na minha madrugada
Pra cantar a canção que não consigo.
                        

Uma simples mulher beba comigo,
Totalmente de amor necessitada,
Eu conduza no drinque ou na tragada
Minha última esperança pra o jazigo.

                           
Quero, sim, um boteco na cidade,
Pra que eu possa esconder minha saudade
Colocando no copo a minha dor.

                          
E o meu corpo ao perder toda a estrutura,
Alguém bote na minha sepultura
"Aqui jaz um cativo do amor".
                                           

                                  Jomaci Dantas

Folclo-rindo

A aposta.

Raimundo Badu era um sujeito que gostava muito da feira de Gov. Dix-Sept Rosado. Era sempre o primeiro a chegar e o último a sair. Os comerciantes foram notando que
Raimundo quando tomava umas e outras não queria saber mais de ir pra casa. Um certo dia Armando Gato, que tinha uma venda no mercado público, chamou ele, quando ainda estava  sóbrio, para fazer uma aposta.
___ Raimundo! Eu aposto com você que quando for às cinco horas da tarde você ainda vai estar aqui na feira. 
__ Ta apostado! Disse ele.
E assim fizeram. Já passando das cinco da tarde lá estava Raimundo conversando miolo de quartinha na bodega de Fernando aleijado e quando avistou Armando disse:
__ êta Armando véi, perdi a aposta einh home!

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Poesia

Apelidos.

No meu lugar tem apelido pra chuchu,
Pé de urso, Foléu, Zé Pra Que Veio,
Bucobuco, Xoxó e José Feio,
Chico Velho, LQT e Gabiru,
Trisca, Primo, Pissica, Capuxu,
Galo branco, Zanôi, Peba, Capão,
Carapina, Veloz e Chico Pão,
Buá, Buzi, Cigano, Passarim,
Mané Grande, Bringel, Almir Cebim,
Cassói, Indê, Totó, Bia e Pilão.

Tôin Caminhão, Cabeça, Caritó,
Biba, Come Longe, Zé Buraco,
Gato, Lalau, Tatá, Cassaco,
Luiz Brejeiro, Machado, Mossoró,
Gulum, Priquitinho de Vovó,
Calu, Pelado, Dé e Zé Bundinha,
Carão, O Aleijado de Bobinha,
Chico Brabo, Selado, Véi, Tambor,
Cheque, Batué, Diá, Vovô,
Melado, Zé Gamela e Pinininha.

Paturi, gororoba, Antôin Cotó,
Arame, Bengobengo, Caolhim,
Brizola, Foinhoinhõ, Caôi, Lecrim,
Puti, Baié e O Doido de Coló,
Rolinha, Pacau, Mané Mocó,
Valmir Quininha, Badu, Xacom, Topinho,
Ziziu, Do Amor, Gelé, Cravinho,
Moleque, Tilouro, Pirroleta,
Zuza, Severino Boca Preta,
Bacatela, Zé Côco e Fantiquinho.

Maribone, Maceió, Chico Boré,
Neto Bobeira, Bié, Dió, Correia,
Zé de Panta, Fussura, Lou, Baleia,
João da Porca, Batera e Marcha Ré,
Cearense, Carpê, Russo, Gegé,
Galo Cego, Tidoca, Bil, Tuzim,
Gafanhoto, Rucana, Bó, Grilim,
Cuca, Toinh Bolota e Pato Rouco,
Raimundo Cachorro, Chico Brôco,
Macaco, Maloqueiro e Bacurim.

João Birrada, Gueguel, Bena, Nozim,
Zôba, Tota, Sula, Carestia,
Lunga, Ganso, Pechico, Milacria,
Gilson Batata, Nêgo e guaxinim,
Chico Cangalha, Cabeção, Pomba, Fiim,
João Cueca, Pé de Boi e Gavetinha,
Prefeito, Cheiroso e Cabecinha,
Catemba, Siricóia, Camelô,
Basto, Babá, Bebé, Bobô,
Baile, Chora, Mazola e Zé Galinha.

Chico Jurema, Juju, Relaxidão,
Barruada, Canapum, Pinto, Chapéu,
Didico, Coveiro, Van, Berel,
Bigode, Bronha e Queixo de Sabão,
Tamborete de Forró e Pajetão,
Simão Tubiba, Coleza, Liu, Chinim,
Antoin Bronze, Zé de Preto, Bel, Gordim,
Infunque, Tatu, China, Poioca,
Maria Home, Moré, Pitoco e Roca,
Branco, Pé de Quenga e Pneuzim.

Muita gente quando escuta o apelido,
Sai do controle, endoida, briga, apela,
Joga pedra, fala mal, se descabela,
Muitas vezes até perde o sentido,
Jura que vai matar o atrevido,
Que acredita: agrediu-lhe moralmente,
Mas pra mim isso é indiferente,
Até porque eu tenho mais de um,
Zé Arnobe, Negão, Nonon, Bobum,
E atendo a qualquer um, tranquilamente.

Crônica

A compra

Miguel de Adolfo pisou no batente da porta da loja “A Sertaneja” e ficou ali, parado, passeando os olhos pelos produtos, até esbarrá-los na seção dos eletros. Puxou a esposa Severina pelo braço e apontou: T’ali o bichão!
Há tempos que vinha planejando a compra daquele aparelho. Foram meses de economia. Um trocado aqui, outro ali. A aquisição só se tornaria possível, graças à venda do bode “Preguiça” e da cabra “Vidinha”. Agora com o dinheiro inteirado iria finalmente realizar seu sonho de consumo: aquele rádio “ABC, A Voz de Ouro”.
Um vendedor aproximou-se sorridente e prestativo, já que o deslumbramento de Miguel diante do objeto estava dando nas vistas. __Interessado no rádio, senhor? Ora se não estava. Tinha vindo decretado a Mossoró só para comprar o produto!? Inclusive já havia encomendado uma mesinha a Silvinha da serraria para o suporte e uma toalha bordada a Maria Bengobengo para o enfeite. Havia combinado também com Severina a localização no ambiente da sala, entre a cristaleira e o oratório de Nossa Senhora da Conceição. Ia ficar uma beleza.
O rapaz da loja esmiuçou as vantagens do equipamento. Tintim por tintim. Miguel quis saber: __pega com carrego? - carrego é pilha ou bateria na língua dos agrestes. Escutou que ele funcionava tanto com pilhas, quanto com energia elétrica. Miguel procurou a esposa com o olhar e recebeu dela um gesto de aprovação. __Vou levar!
O vendedor testou e encaixotou o produto. Miguel pagou, botou a caixa debaixo do braço e saiu satisfeito com seu “ABC, A Voz de Ouro”, a maior aquisição de sua vida.
Já na calçada lembrou-se que o moço tinha lhe dito que as pilhas não acompanhavam o equipamento.
__Ei moço! E os carregos? Eu compro aonde?
O rapaz saiu da loja e apontou indicando.
__Ali na Paraíba! Estava fazendo uma alusão ao bairro mossoroense homônimo do estado vizinho.
Miguel arribou para a estação com “Virina” – nome que dava carinhosamente à esposa – e pegou o trem às três e meia da tarde rumo a Gov. Dix-sept. Chegando lá, Miguel nem fez menção de sair do veículo. Sentado estava, sentado ficou. E diante da inquietação de Severina, foi enfático:
__Tu vai pra casa, fica com os meninos, que eu preciso ir a Sousa comprar os elementos desse rádio!



 Zenóbio Oliveira



sábado, 13 de novembro de 2010

Soneto

O grilo
Zenóbio Oliveira

Caí de corpo na rede, estropiado,
Em busca do repouso mais tranqüilo,
Mas ao primeiro esboço de cochilo,
Sobressaltei-me ao ruído estridulado.

Levantei-me ainda atordoado,
Procurando a origem do sibilo,
Descobri tão logo que era um grilo,
No reboco da parede camuflado.

Aí dei de garra de um cavaco,
E cutuquei buraco por buraco,
No afã de abafar tão rude trilo,

Mas neca de sucesso em meu intento,
E para resumir meu sofrimento,
Perdi o sono e não achei o grilo.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Poesia

Tenho saudades do meu lugar, Aguilhadas, e aí fecho os olhos e vivo das lembranças...


Manhãs de Aguilhadas


Desperto lentamente do meu sono de menino,
Meus olhos modorros apertam-se à luz dilucular,
Vibra em meu tímpano o sonoroso e doce trino,
De um gurinhatã que também veio saudar,
A beleza do crepúsculo matutino,
Sem-par...

Espicho o olhar na direção do rio nevoento,
A água mansa e serena parece estar dormindo,
Alheia ao flutuar do nimbo pardacento,
Que foge ligeiro à luz que vem surgindo,
Em borrifos que logo se dissipam ao vento,
É lindo...

Um raio, incontinênti, golpeia-me a retina,
O Lampejo me desperta dos sonhos infantis,
Para que eu veja o sol abraçar a campina,
Emprestando ao sertão o diverso matiz,
Que o meu olhar de êxtase descortina,
Feliz...

Rolam pelos limbos das folhas de milho,
Derradeiras gotículas do orvalho recente,
Refletindo, à luz da manhã, o alheio brilho,
Como fosse constelação tremeluzente,
No verde céu do milharal lustrilho,
Simplesmente...

A brisa setembrina lança-me ao olfato,
O hálito primaveril da recente florada,
Que impregna a manhã de um cheiro bom de mato,
Não sei de fragrância mais adocicada,
Nada se compara a este aroma grato,
Nada...

Fagueiras manhãs dos meus tempos de criança,
Onde habitou minha gentil felicidade,
Berço do meu sonho, da minha esperança,
Que a vida iníqua me levou com a idade,
Ainda as vejo no espelho da lembrança,
E na saudade.

Zenóbio Oliveira

Opinião


Educação


Ao colocarmos a educação dentro de um processo histórico da humanidade, temos obrigatoriamente que reconhecê-la como condição natural do homem, já que esta comporta uma das necessidades básicas para a sua sobrevivência.
A humanidade evoluiu sobremaneira, saindo das segregadas civilizações culturais antigas até desembocar nas sociedades contemporâneas submetidas ao processo de aculturação provocado pela queda das fronteiras mundiais. Dos povos primitivos, onde o processo educacional constitui um conjunto de práticas na realização de atividades essenciais para a vida e na assimilação de valores e preceitos tribais, às sociedades complexas do terceiro milênio dominadas pelo poder tecnológico, em que este processo educacional já se encontra extremamente institucionalizado e metodizado, a educação deixa de existir como condição humana e passa a caracterizar-se como instrumento de formação social.
Durante as transformações por que passou a sociedade, a escola, como instituição educacional, foi se firmando como alicerce da construção do conhecimento, requisito básico para o desenvolvimento social e não intelectual do homem. Ela, a escola, tirou da educação a possibilidade de ser comum a todos e, metodizando o aprendizado passou a determinar seletivamente quem deve ou não ser envolvido nesse processo.
A educação, compreendida no seu sentido mais completo, não pode está obrigatoriamente vinculada às estruturas físicas dos estabelecimentos escolares e seus métodos disciplinadores, que conduzem o homem ao fazer, mas não o ensinam a pensar.

Zenóbio Francisco de Sousa Oliveira.