América da Borborema
Marcos Bezerra, do Novo Jornal
No início de minha carreira jornalística fui
repórter esportivo da TV Cabugi. Dia sim, o outro também, estava correndo atrás
de ABC ou América, ou os dois ao mesmo tempo quando a pauta exigia. Os treinos
do alvirrubro eram realizados na Pousada do Atleta, ali onde hoje funciona o
Hiper Ponta Negra, e os do alvinegro na Vila Olímpica. O antigo campo foi
ocupado por um condomínio de luxo, mas a sede continua lá servindo de alojamento
para as categorias de base do clube.
Eram tempos difíceis, aqueles. Do rico
América e do pobre ABC. O primeiro, além do campo de treino num lugar bem mais
valorizado, tinha sua sede da Rodrigues Alves, no nobre bairro do Tirol. E o
ABC tinha o que? Um terreno grande com um buraco impossível de ser tapado, como
diziam à época. Nos treinos, quando queriam sacanear com os zeladores que
atuavam como gandulas, os jogadores miravam a depressão. No terreno de dunas, a
bola só ia voltar 15 minutos depois.
Mas, apesar da diferença patrimonial, os
times se equivaliam em campo, num Machadão de públicos mirrados. Tanto espaço
para quase nada. Lembro um campeonato que começou com cinco clubes, perdeu um –
se não me engano o São Gonçalo – e depois o quarto participante, o Alecrim.
Ficaram ABC, América e Atlético, o tal Moleque Travesso que os locutores da
Rádio Cabugi, Hélio Câmara com seu vozeirão à frente, apregoavam, mas que nunca
vi aprontar travessura nenhuma. Tinha ABC e América numa semana e América e ABC
na outra. Não lembro o ano nem quem foi o campeão. Até tentei pesquisar, mas o
site da Federação Norte-rio-grandense de Futebol não traz muito da história da
principal competição potiguar. Na parte destinada à memória, só existe um breve
“em breve”. E nem o sabe tudo do Google me respondeu.
Naquele campeonato ouvíamos os gritos dos
técnicos com os jogadores; destes reclamando faltas e chingando os adversários
e mesmo os comentários dos torcedores, poucos metros abaixo das cabines de
imprensa. Por tudo isso, e por não ter aprendido a torcer nem pelo ABC nem pelo
América, ao mesmo tempo que torço pelos dois na segunda divisão do Campeonato
Brasileiro, acabo sem entender como o “rico” não pode ceder seu estádio para o
“pobre” da vez. Sem contar que a falta deste palco é consequência de uma Copa
do Mundo. E o mundo do futebol também dá voltas. Claro que a pressão da torcida
falou mais alto. Talvez por medo de ver o maior adversário fazer sucesso em sua
própria casa.
Como não vai poder contar com o Nazarenão no
returno, o América ensaia jogar em Campina Grande; ironicamente, no estádio
Amigão. Quem sabe não é adotado como representante da Paraíba na Segundona. De
América de Japecanga, como tiram sarro os abecedistas, para América da
Borborema, não deixa de ser um progresso.
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