INVASÃO NO TEMPLO
Fabiano Régis
O destino para a primeira reza da semana ficava a meia légua da minha casa. Não tinha tempo ruim que diminuísse a minha fé. Com chuva ou sol, nas manhãs de domingo, eu e a prole seguíamos livres pela Avenida, sem buzinas e sem insultos, para a reza que começava as oito. Eu saía bem cedo. É que o meu filho de cinco anos, só queria sentar-se na primeirafila, como se quisesse a bênção de Deus primeiro. Do pé de sombra que se avizinhava ao adro, olhei o incansável relógio entre vitrais, que marcava um quarto de hora para começar a reza. O templo naquele domingo parecia pequeno para tantos fiéis. _Perdi a hora. Pensei.
_Pode deixar doutor! Tá comigo, tá seguro. – O flanelinha sempre vigilante.
Acostumado, subi a calçada e fui pelo corredor para a primeira fila. De longe observei que os primeiros bancos estavam isolados com fitas amarelas.
_Meu filho, hoje nós vamos ficar em pé escorados ali naquela janela, que é mais ventilado. Duas horas de missa, num instante passa. – Argumentei.
_ De jeito algum. Eu não sou besta como você, para assistir uma missa de pé, com tantos bancos vagos! – foi incisivo com as palavras.
O instinto de pai zeloso falou mais alto do que a razão. Depois de escutar o meu filho, passei por baixo da fita amarela que isolava uma fileira de bancos e sentei. Sem avisar, chega um homem alto, de cor branca, carregando um crucifixo no peito, do tamanho da sua fé. Sentou-se ao meu lado, e olhando para o altar, sussurrou:
_ Você não pode sentar-se aqui, de jeito nenhum.
_ O senhor pode me dizer por quê? _Perguntei desconfiado.
_ Você tá cego? Esses bancos isolados com fitas amarelas são para autoridades convidadas. Hoje é acomemoração dos cinquenta anos de episcopado?! -Respondeu abusado.
_ Escute aqui cidadão. Eu só saio daqui se Jesus Cristo, o dono da casa mandar. Falei em tom desafiador.
No final da reza, saí do templo aborrecido e pecador.
_ E aí doutor, você viu? Meio mundo de carro e gente! Domingo o senhor vem de novo? -Perguntou o flanelinha, satisfeito com o faturamento.
_Não sei. Até lá, é bem possível que eu mude de religião.
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