Zenóbio Oliveira
A expressão fechada e aborrecida da
professora já denunciava arrogância, confirmada logo, logo no primeiro verbo. A
brandura de sua interlocutora, uma jornalista, era um contraste que saltava aos
olhos. A fala da mestra golpeava ferindo, a de sua colocutora balsamava. A negação
contundente, em todos os sentidos polissêmicos da palavra, a uma solicitação
para uma filmagem da sala de aula aniquilava a conversa, ultimada num pedido de
desculpas da repórter, que foi quase uma súplica.
Eu e os alunos fomos testemunhas oculares e
auriculares daquela cena.
Confesso que não encontrei de imediato uma motivação
plausível que justificasse o destempero da educadora. Até achei estranho esse
comportamento. Talvez porque ainda ecoe na lembrança a voz imperativa de meu
pai: “Estude, se não quiser ser estúpido”, ou quem sabe seja parca a compreensão
que tenho da natureza humana.
Quem pode explicar?
Numa definição puramente científica, o
especialista em psicologia poderia atestar como causa provável uma alteração do
humor; no zunzunzum de ponta de rua os fofoqueiros diagnosticariam como uma alteração
do amor e o sertanejo, em sua sabença de vida, diria que se trata tão somente da
privação de uma necessidade fisiológica.
Não sei quem é aquela pessoa de palavras e
gestos exasperados, mas memorizei sua figura para evitar constrangimentos
futuros. Nos corredores disseram ser do curso de Direito e fiquei a imaginar
como alguém de Direito pode ser tão esquerdo.
Vá entender.
Zenóbio, falando assim, nesta crônica/comentário, quase que me achei dentro dessas linhas. Por um acaso, nesses mesmos corredores, com uma outra educadora, eu assisti cenas parecidíssimas. Claro que não seria milagre se uma fosse a outra... Mas, o bom nessa história são, como às vezes, um velho e bom conselho vai por água abaixo, quando nos deparamos com uma pessoa que, embora personifique, materialmente, o teórico de nossos avôs, nos faça pensar que até nos conselhos o danado do tempo os fez mudar.
ResponderExcluirUm abraço,
Raimundo Antonio