O
MESQUINHO E A BELEZA ANÔNIMA
Fabiano Regis é Radialista.
O
trote universitário, segundo pesquisadores, teve a sua origem na Europa, na Idade
Média e chegou ao Brasil por volta dos anos 1800, quando surgiram as primeiras
faculdades, com grande influência de Portugal. No apagar das luzes do ano de
2012, a Avenida Presidente Dutra voltou a ser palco desta mácula que perdura no
seio da cultura acadêmica brasileira por mais de dois séculos. É importante
ressaltar que o resultado do vestibular aguça o ego de quem tem o nome na lista
dos aprovados. Sabendo disso, os organizadores do trote que se imaginam
superiores, aproveitam o momento de deslumbramento de alguns para colocar em
prática um escárnio que se aproxima aos moldes medievais. O “trote pedágio”,
por exemplo, aquele em que os calouros são obrigados a pedir dinheiro nos semáforos
aos motoristas e só terminam a tarefa quando atingem o valor estipulado pelos veteranos,
é uma prática recorrente por aqui.
Na
primeira semana de dezembro eu parei num sinal e uma moça caminhou em minha
direção. Ao aproximar-se, observei que o produto misturado com tinta que
lambuzava o seu rosto, não era forte o suficiente para ocultar tanta formosura.
A caloura ainda cheirando a adolescência estirou a mão e mendigou: “me dê uma
moeda!” De pronto eu disse: “não”. A
minha negativa se justifica pelo fato de que a moeda pretendida serviria para financiar
a farra de um grupo de veteranos, que estava bem acomodado à sombra de uma
árvore, do outro lado da pista. A bela estudante ouviu o meu “não”, e com
serenidade continuou a sua andança entre os carros, sob o olhar sádico dos organizadores
do trote.
A
zombaria estudantil, seja ela realizada dentro ou fora do muro da universidade,
suscita algumas questões que a meu ver, interessa a muita gente: o que leva
alguns calouros a submeterem-se a situações vexatórias e constrangedoras, como
sendo uma simples “brincadeira” ou “tradição”? Será a garantia de não serem
excluídos do grupo e perseguidos pelos veteranos, ou a exibição pública do seu
novo status? O que acham os líderes de entidades estudantis sobre a mendicância
festiva nos sinais de trânsito, praticada pelos seus liderados? E os gestores
das universidades, como vêem o nome e o endereço das instituições sendo
coadjuvantes deste espetáculo medíocre?
A
postura deselegante e mesquinha de minha parte, ao negar uma moeda para aquela
beleza anônima, foi por entender que a aprovação no vestibular não deve ser
motivo de constrangimento, mas a celebração de uma conquista: a inserção do
jovem na universidade, no papel de agente transformador da sociedade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário