Cascudo fez falta
Marcos Bezerra, do Novo Jornal
Acho que já escrevi isso
aqui, mas a memória pouca não me dá certeza. Por esses dias vou tirar minha
carteira de estudante. Não fiz no fim do ano passado porque o documento teria
pouco tempo de validade e eu queria o novo.
Dá uma alegria besta ter
voltado à sala de aula para fazer uma especialização em Literatura e Arte do
Núcleo Câmara Cascudo de Estudos Norte-Rio-Grandenses. No início nem sabia de
onde ia tirar o dinheiro para pegar a mensalidade, mas mandei um e-mail para mim mesmo com o título:
“o que eu quero”. E vou me virando com um ou outro boleto atrasado.
Virei um aluno mais participativo do que fui na escola e só
depois do retorno, mais de 20 anos depois, à UFRN, é que fui descobrir minha
ignorância sobre a literatura potiguar. Não me ensinaram isso no ensino médio e
muito menos na faculdade.
Somente fui apresentado recentemente
ao poeta Jorge Fernandes, nosso primeiro modernista, e que muito me
impressionou pela qualidade de seus versos. Outros nomes, como Auta de Souza e
Nísia Floresta, conhecia mais de ouvir falar. Também não sabia que Henrique
Cartriciano tinha sido, além de educador, poeta. E Câmara Cascudo, por que
ninguém disse na escola que ele também tinha feito algumas poesias, como esta,
publicada no Jornal do Comércio de Recife em 1925?
Kakemono
Deixa, meu fino lírio
japonês
Que o vento ulule fora da
vidraça.
Tens o corpo sonoro de uma
taça
E o teu quimono
Que envolve tua cinta esguia
e fina
Dá-te um ar de princesa de neblina
Num castelo de outono...
Bem vês
Que o vento ulula fora da
vidraça
E a chuva passa
Para ver-te, meu lírio
japonês...
Gostei do que li estudando,
mas acho que o mestre exagerou em “Não gosto de sertão verde”. Talvez porque
ele não vivia no sertão, para onde ia apenas passar férias. Quem viveu o semiárido
em seus períodos de seca sabe que aquela paisagem ressequida pode até guardar
alguma beleza, mas é nada comparada ao sertão cheio de vida quando a chuva dá o
ar da graça, em quantidade suficiente para correr e juntar água. Mas, ao poeta,
a liberdade.
Consta que, enfurecido com a
sugestão de Mário de Andrade de fazer modificações em sua obra poética e até
duvidar da autoria, Cascudo teria desistido do gênero literário. Uma pena. O
mestre teria dado a visibilidade que a poesia potiguar merece.
Cara como pode alguém não gosta do sertão vede é o que ha de mais lindo "só acho"
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