sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

O que penso...

Ilusão e expectativa
Zenóbio Oliveira

A ilusão e a expectativa não são totalmente congêneres, embora carreguem na essência características comuns. São filhas legítimas da imaginação, são imunes à razão e inteiramente apartadas da realidade. Por isso têm o poder de envolver o coração no pano romanesco dos sonhos volúveis. Ambas podem levar ao contentamento ou à decepção, em maior ou menor grau, dependendo da construção dos nossos valores emotivos e da importância que dedicamos às situações que as envolvem. Principalmente quando fazemos das circunstâncias e das esperanças reflexos dos nossos desejos.
Apesar de possuírem relação idêntica de causa e efeito, não são coincidentes no tempo de ocorrência. A ilusão atua na situação presente, a expectativa age no porvir. A ilusão é a abstração do momento vivido, a expectativa, a promessa de realização dele.
Já tive ilusões, expectativas, ainda as tenho.
Posso dizer que as duas já me causaram prazeres minguados e frustrações desmedidas, mas que foram responsáveis pela minha evolução cognitiva e pelo estabelecimento da razão em mim. Aprendi, por exemplo, a não mais atribuir culpa a terceiros e a me retratar dos desabafos desaforados com quem nada tenha a ver com os meus desenganos. Aprendi também a administrar o desapontamento advindo delas
O aprendizado da experiência é doloroso, mas é substantivo, porque estimula a capacidade de apreensão da realidade e acura a idiossincrasia. Faz saber que é saudável ponderar ações e sentimentos e que a prudência, mesmo que não possa anular o dano, vai diminuir suas atribulações. Estimula o discernimento e a inteligência filosófica diante daquilo que nos envolve.
Não estou isento de nenhuma delas, nem de seus resultados negativos, posto que a esperança que as impulsionam é a mesma que me move. No entanto hoje sou mais resistente às suas ocorrências. Tenho ciência de suas efemeridades e de que assim como destroem a esperança também se destroem na rigorosidade do tempo, promovendo na alma a condição para a verdadeira liberdade.

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