RELICÁRIO
Palavras
de sincera gratidão!
Genildo
Costa, cantor e compositor
Numa
dessas manhãs de céu cinzento tomei a liberdade de olhar, mais de perto, algumas
daquelas fotografias que nos remetem medo e temeridade. Mesmo sem ter os
cuidados básicos, penso que não fui tão relapso com umas dezenas de retratos
que me atormentam e a mim mesmo denunciam.
Não
tenho lembranças de todas as trilhas. Obviamente, apenas, me encorajo de tornar
público e notório o tamanho de minha devoção para com todos os gestos tão bem
postados a cada fotografia que consigo salvar. Não tenho nenhuma dúvida, foram
tempos memoráveis. Nem todas estão sob aminha batuta. Devo, ainda hoje, revirar
o meu relicário na tentativa de reencontrá-las. Caso isso aconteça, vou ter a
felicidade de olhar bem dentro de meus olhos e, certamente, vou ter que
enxergar bem no fundo de minhas retinas os primeiros passos ensaiados rumo ao
caminho das pedras.
Nada
de muito esforço para se ver diante do espelho da vida. Apenas, algumas veredas
de sombras podem nos conduzir a uma profunda retomada quanto a nossa posição
nesse picadeiro de múltiplas facetas. Nada contra ao imediatismo. Confesso até
de minha admiração por aqueles que não comungam com àquela idéia de que nem
todo atalho diminui uma distância. Devo manifestar consideração, porque só
assim, é possível garantir para a posteridade o mínimo de respeito aos que
conseguem divergir de minha maneira de ser frente aos embates do cotidiano.
Mas
o que me comove, realmente, é saber que as lágrimas que brotam podem fazer
renascer um sonho antigo, desses de um tempo também antigo. Tão velho e
desbotado que até se confunde com a nossa coragem, às vezes, de dizer de nossas
decepções e desencantos para com o que haveríamos de fazer e não fizemos.
Foi
nossa culpa? Creio que não! Lamento a essa altura ter que prosseguir livre, incólume,
convicto, já bem próximo da última parada, filtrando o chão ainda de minha terra
para buscar a coragem necessária e, assim, seguir viagem rumo ao cais do porto
de minha possível redenção.
As
máscaras que ora definham são as mesmas que enxerguei a um tempo não muito
remoto. Elas foram muito bem lapidadas para servir, evidentemente, ao príncipe
que na sua infezação, convoca os seus súditos e cobra compromisso. Sempre lembrando
que é dando, que se recebe e que as coisas devem permanecer inalteradas, intactas
e bem preservadas. É ai onde o perigo reside... que venha de Heráclito a máxima
de que não se toma banho duas vezes com as águas do mesmo rio... tudo passa...!
Cuidar
bem dessa seara que serve a alguns poucos e posterga toda e qualquer iniciativa
de se fazer, coletivamente, não seduz na totalidade. Por isso é que sempre vai
existir no último vagão da locomotiva, minimamente, o sentimento de altruísmo, de
se ver mais próximo do outro sem atropelar a construção de um projeto de
humanidade onde todos possam ser verdadeiramente, cidadãos de seu mundo e de
sua pátria.
Talvez
tenha cometido muitos vacilos, mas, na tentativa de acertar, alguns passos, neguei
toda e qualquer perspectiva de engajamento que me levasse a ser o mais bem
apresentado cidadão da ordem legal. A mim não interessa. O que me move nessa
teia de relação de promiscuidade que se estabelece no universo da política é
ter a consciência de que mais cedo ou mais tarde a história sabiamente, sepultará sozinha, algozes e tiranos de nosso povo.
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