Fabiano Regis - bancário e radialista.
Embalado
pelo ócio naquela manhã de 07 de setembro, me espichei numa rede, e apontei o controle
remoto rumo à televisão num desses programas que ensina a cozinhar. O assunto
que temperava as panelas em fogo brando era a “paternidade depois dos 40 anos
de idade”. Na roda de conversa com a apresentadora estavam alguns pais
quarentões e um especialista. Os debatedores foram unânimes em dizer que a
decisão de ser pai “tardiamente” se dava em função da carreira, estabilidade
financeira e a experiência. No meu caso, fui pai do terceiro filho depois dos 40
anos, e confesso que não vejo nos atributos “carreira, estabilidade e
experiência”, argumentação suficiente para convencer que eu não sou o “avô” do
meu filho.
Ainda
me lembro que na maternidade, uma enfermeira de rosto angelical ao passar por
mim no corredor e me ver com o bebê no colo, perguntou: - “é o seu primeiro
neto?” Cerca de um mês depois, a minha filha de 14 anos -toda orgulhosa – segurava
o irmão para a primeira visita ao médico pediatra. De repente entra no
consultório um amigo de infância do meu pai. Sem dizer uma palavra, ele olhou
fixamente para a minha filha, e saiu. No dia seguinte telefonou para reclamar:
- “Bela criação a sua, em rapaz? Não orientou e olha o que aconteceu. Além da
mãe adolescente, agora tem um neto pra sustentar”. Já por volta dos 03 anos,
quando meu filho tinha idade para ingressar na pré-escola, fui a uma papelaria
com o objetivo de comprar o seu material escolar. No local das compras, o meu
filho se engraçou por uma mochila que viu na televisão. Tentei convencê-lo a
comprar outro modelo, com preço módico, mas não teve jeito, fez birra, acabei
cedendo. A vendedora que presenciava tudo escorada no balcão sentenciou: - “avô
é tudo igual, só muda o endereço”. Há um mês, entrei numa padaria para comprar
um bolo e antes resolvi degustar. Do meu lado estava o meu filho, silente,
observando o meu mastigar. Nesse momento, a atendente muito comovida falou: - “Que
avô desnaturado. Não ofereceu um pedaço de bolo a essa pobre criança!” Por
ultimo, fui buscá-lo na escola recentemente.
Enquanto caminhávamos pelo pátio em direção ao portão de saída, ele pediu que
eu parasse se dirigiu até uma coleguinha, e falou: - “este é o meu pai!”. Depois
de tantas dúvidas a esse respeito, essa afirmação me deixou bastante
emocionado. De volta para casa, com a família reunida, resolvi contar o quanto
eu estava feliz, com a atitude do meu filho. Sem pestanejar, a fonte
inspiradora do que você está lendo agora, arrematou: - “eu só falei aquilo, papai,
porque a minha colega vive dizendo pra todo mundo que você é o meu avô!”
Quero
deixar claro que não sou contra a paternidade depois dos
40 anos de idade, mas tenho que admitir o quanto é difícil e embaraçosa, quando
já se tem uma penca de cabelos brancos.
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