Quebra de contrato.
Zenóbio Oliveira
Pancadas sólidas no portão, nós dos dedos
talvez, contra a folha de ferro galvanizado. Cocorotes, num dialeto mais
rústico, mais campesino. Mas, tinha cadência. Por algum tempo até apreciei
aquele ritmo, aquela musicalidade. Ocupado, entretanto, ignorei o chamado,
aspirando pela desistência daquelas batidas cadentes.
Reincidiram. Teimaram.
Vencido, resolvi atender o dono do ato
veemente.
Olho na lente do olho mágico...
_ Pois não!?
Homem fardado. Roupa preta, botas, quepe, cacete...
_ Senhor, faço parte do Comando Grupo Força e
Vigilância Águia, proteção e socorro para as residências dessa rua aqui que o
senhor mora e demais adjacências!
Ofereceu-me um monitoramento ostensivo, regulamentado
por uma espécie de contrato de experiência com duração de um mês, onde eu
pagaria apenas metade do valor de um acordo futuro e mais longo, se acaso
ficasse satisfeito com o serviço referente àquela mensalidade, digamos,
promocional.
Tencionei recusar.
O homem listou seus argumentos à minha
persuasão. O histórico de arrombamentos, roubos e assaltos nessas redondezas
contava a seu favor.
Fiz minha própria leitura da situação e,
cotejando épocas, pude notar que os ladrões de hoje não querem apenas nossas galinhas.
Os mal amados e bem armados amigos do alheio adquiriram tarimba, abriram firma,
especializaram-se, como em qualquer atividade. Mão de obra qualificada, forjada
desde a infância. Os meninos hodiernos não carregam baladeiras, mas pistolas
automáticas. E têm um ingrediente motivacional: a droga. Pelo CRACK tornaram-se
craques na arte de roubar.
O homem ostentava números comparativos, antes
e depois da presença do Grupo Águia. Uma queda nos ocorridos de mais de cinqüenta
por cento, garantia.
_ E então senhor, vamos assinar?
Assinei.
O tal antecontrato ganhou validade naquela
mesma noite. A partir daí o meu sossego sucumbiu ao apitar grosseiro, à sirene
inoportuna, à falta de estilo do guarda da motocicleta.
Passei a sonhar com o fim daquele contrato. Elegi
todos os pontos negativos do acordo e ensaiei, por tempos, uma alegação capaz
de confrontar os argumentos daquele homem renitente. Só que, faltando dois dias
para findar a prestação do serviço, os larápios roubaram uma pia do quintal de
Dona Tetê, minha vizinha.
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