VERBO
AD VERBUM
Zenóbio
Oliveira
A
dicção de certas palavras muitas vezes não leva ao entendimento fiel daquilo
que se quer dizer. A palavra quando não sai bem articulada provoca uma série de
interpretações. Inda tem a questão dos homófonos, dos homógrafos e dos
cacófatos. Some-se a isso, principalmente nos casos de cacofonia, o complicador
de uma deficiência vocal, como aquela história da discussão amorosa entre o
casal de gagos.
__Vo-você
mimijo, mimijo, mimi-jogou fora!
__Vo-você
Tam-tam-bem nuncago, nuncago, nuncagostou de mim!
Ou por
outra de uma deficiência auditiva, como a história do cara surdo que ouviu mal
no velório que o defunto tinha morrido de infarto do miocárdio e quando foi
perguntado sobre a causa da morte do finado respondeu com toda segurança.
__Foi
um fato lá do mercado! Só podia tá estragado, num é não?
E a
tal da homografia?
O
camarada ganhou uma chapa (dentadura) na campanha eleitoral e no dia do pleito depois
de marcar a chapa (cédula de votação), ao invés de depositá-la na urna meteu a
bicha no bolso da camisa. Um dos fiscais vendo o disparate gritou:
__Ei
Seu Zé! Num pode levar a chapa não!
O
eleitor meteu a mão na boca, arrancou a dentadura, jogou no fiscal e disse:
__Pode
ficar cum essa merda, eu sabia que vocês ia tumar!
Toda
língua tem seus dialetos, seus patoás. A língua portuguesa é muita rica nesse
aspecto. Tem o linguajar específico para cada região geográfica ou grupo
social. Há uma diversidade de vocabulário, de pronúncia e de sotaque.
O
cruzamento desses dialetos contribui para o surgimento de novas palavras. Não
se trata dos neologismos literários, mas da derivação da própria língua.
Quer
ver?
O
sujeito recebe do oculista o diagnostico:
__O
senhor está míope!
E
quando chega em casa a mulher lhe pergunta:
__E
aí, tá mesmo curto das vista?
__Não!
O doutor disse que eu tava NILTE!
O
outro se sente destratado pelo vizinho e grita:
__Vou
lhe processar por DAMAS IMORAIS!
O
camarada que presenciou uma briga na sua rua comenta na roda de conversa:
_ A
puliça levou todos dois pro IPEPS, pra fazer exame de CORPO DELÍCIA!
Alguns
cantores de seresta corroboram essa prática alterando as letras da canção
original.
A
música: “Nesta casa tem goteira, PINGA NI MIM”
O
seresteiro: “Nesta casa tem goteira, LINDA MININA, LINDA MININA...”
A
música: “AÇAÍ GUARDIÃ, zum de besouro, um imã...”
O
seresteiro: “AO SAIR DO AVIÃO...”
A
música: “MEU FLAMBOAIÃ NA PRIMAVERA, que bonito que ele era...”
O
seresteiro:”MEU FRANGO OLHANDO A PRIMAVERA, que bonito que ele era...”
É de
se entender que comunicação depende muito mais do repertório cultural do
falante do que mesmo das regras gramaticais.
É de
se entender também que são muitas as maneiras linguísticas de se dizer a mesma
coisa.
“O ORIFÍCIO CIRCULAR CORRUGADO, LOCALIZADO NA
PARTE ÍNFERO-LOMBAR DE UM SUJEITO ACOMETIDO DE ALTO TEOR ETÍLICO, DEIXA DE
ESTAR SOB A ÉGIDE E A PROTEÇÃO DOS DIREITOS INDIVIDUAIS DE PROPRIEDADE!”
Ou
seja,
“CU
DE BEBO NUM TEM DONO!”
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