Por Fabiano Régis
Às sete horas da manhã de um dia desses, eu estava parado no sinal de três tempos, num cruzamento de duas avenidas movimentadas, quando ouvi a voz do meu filho de cinco anos, em tom de espanto: “Olha o palhaço!” Uma silhueta trôpega entre os carros vinha em nossa direção, por um instante pensei que fosse um entregador de panfletos, anunciando a venda de mais um prédio de apartamentos. Mas ao aproximar-se, eu pude ver a cara pintada, camisa colorida, suspensório, calça de bolinhas e sapatos pontiagudos com meias de duas cores.
Era um palhaço.
Rapidamente baixei o vidro do carro doido para escutar a pilhéria. Sem destreza, o artista estendeu a mão e fez soar uma súplica: “Me dê um real?!” A cena não arrancou sorrisos, mas serviu para lembrar, que, o “GRAND CIRCUS BRASIL”, continua sem lona; A fachada permanece com chapa de lata de querosene, onde ler-se em letras garrafais na horizontal “GRANDE CIRCOS”, e na vertical, um buraco redondo com um indicativo: “BILETERIA”. A cerca de arame farpado em volta do pano de roda, está enferrujada e cheia de sacolas que o vento trouxe da imundice das ruas, mas ainda serve para evitar a entrada de incautos sem ingresso. Dois paus compridos no centro sustentam o trapézio e o serviço de alto-falante. O poleiro (arquibancada), amarrado com corda de piaçava, é garantia de segurança e conforto na hora de ver a arte circense num picadeiro de chão batido. Para fazer a divulgação do espetáculo, um palhaço (que não é o principal), sai pelas ruas esburacadas com esgoto a céu aberto, a perguntar, e o povo a responder: ”Hoje tem espetáculo? Tem sim senhor! Às oito horas da noite? Tem sim senhor! E o palhaço o que é? É ladrão de mulher... Olha o palhaço na rua! É ladrão de perua...” O feitio das apresentações continua dividido em duas partes: Na primeira parte, as rumbeiras seminuas endoidam os marmanjos com os seus requebrados e na segunda parte, o drama arranca lágrimas.
O sinal abriu, ouço buzinas. O burburinho azucrinante da cidade interrompe o silêncio das minhas lembranças e, pelo retrovisor, vejo a miséria vestida de palhaço sair de cena, numa avenida qualquer deste “Brasil mambembe”.
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