A
culpa da regra dois
Marcos Bezerra, do Novo Jornal
Marcos Bezerra, do Novo Jornal
Fiquei
feliz outro dia com uma notícia que saiu neste NOVO JORNAL sobre o saneamento
básico no bairro Morro Branco: “Hoje, os proprietários de 90% dos 3,5 mil
domicílios do bairro já podem conectar as caixas de gordura instaladas em suas
calçadas pela Companhia de Águas e Esgotos do Rio Grande do Norte (Caern) à
tubulação principal embaixo da rua. As caixas dos 10% restantes deverão ser
instaladas ainda neste mês”, escreveu nosso jovem repórter Pedro Vale.
Os
moradores do bairro também ficaram felizes. Muitos deles nem sabiam que já
podiam fazer a ligação até as caixas disponibilizadas pela empresa de
saneamento em suas calçadas. Pedro colheu vários depoimentos e todos foram
unânimes em destacar os benefícios das obras, que “estavam sendo realizadas
desde 2010 e custaram R$ 5,96 milhões”. Só não entendo por que nossos
governantes relutam tanto em investir na área se, segundo a ONU, para cada R$ 1
investido em saneamento se economiza R$ 4 em gastos com saúde!?
Em
se tratando do Morro Branco, uma das regiões mais nobres de nossa bela capital,
acho que essa notícia tinha que ter sido dada há uns bons 40 anos, quando o
repórter ainda nem era um projeto de gente e eu não passava de um moleque
sambudo correndo pelas ruas de Caicó. Eram ruas saneadas, as da minha infância.
Talvez por isso, até hoje não me conformo com a falta de investimentos em
saneamento básico no nosso país. Por mais que tenha sido investido nos últimos
anos, ainda temos um déficit considerável e eu, que andei muito e ainda gosto
de andar pelas cidades do interior potiguar, acrescento o incômodo do mau
cheiro e as picadas de muriçoca ao meu pacote de indignação.
Para
mim não existe um quadro maior de descaso dos nossos gestores com o seu povo do
que as casinhas bem cuidadas com o esgoto correndo no pé da calçada. Os
moradores, em sua simplicidade, convivem com a situação como se ela fosse
natural. Em Janduís, meu ponto de referência familiar, ou se dorme debaixo de
um mosquiteiro, ou na frente de um ventilador em velocidade máxima. Divirto-me,
quando vou lá, com o meu tio Bertino e sua raquete elétrica. Todo fim de
tarde, começo de noite, ele sai pela casa praguejando contra e eletrocutando
muriçocas. Na cidade, quase toda casa tem uma. Imagino que em alguns pontos da
grande Natal também. Lá em casa mesmo já comprei uma made in China para
combater os insetos que o síndico atribuia à Mata do Catre e que, descobrimos
depois, vinham mesmo de brechas nos sumidouros. Os moradores de Morro Branco
vão ficar livres deles. Eu não. E ainda me sinto mal por poluir o lençol
freático. Sim, meu juízo é torto o suficiente para guardar essa culpa.
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