CONCERTO E DISSONANTE
Nunca fui de subestimar os ensinamentos de nossos sábios pensadores. Eles,
sem dúvida, não morreram de overdose. Estiveram sempre atentos e, quando saíram
de cena, deixaram a tolerância, a humildade, o amor ao próximo, como parâmetros
indispensáveis para a formatação do processo civilizatório. Creio que houve
tempo de sobra para, desses ensinamentos, celebrar com sucesso o inevitável espetáculo da vida.
Tenho tido, basicamente, prudência para não tornar-se intransigente e, nem
tampouco, criatura de múltiplas facetas. Acredito, muito mesmo, que é possível
de ser ter o mínimo de compreensão quanto a nossa milenar tarefa de continuar
acreditando que ainda haverá tempo de pensar uma nova proposta de humanidade
onde a vida possa ser contemplada em toda sua plenitude.
Como seria, então, o conteúdo programático dessa nova empreitada? imagino
como haveria de ser, reinventar essa possibilidade de não mais ter que
sacrificar o outro quando da busca de nossas comodidades. Creio que buscar
subsídios para reencontrar-se pela palavra é, simplesmente, correr o risco de
ser reincidente. O que se propõe é muito mais que uma releitura de tudo que
aprendemos no curso de nossas vidas. O expediente de agora é de profunda
perplexidade. É o devir. O ajustar-se. O não ser mais. O que nos aguarda pode ser
a última oportunidade reservada para o exercício, urgente, da depuração.
Aos que antecederam ao estágio superior da barbárie, todos saíram de
cena. Alguns, esporadicamente, lembrados. Outros, há tempo que transitam pelos
corredores do ostracismo. Mas, sem dúvida, não se negaram a se expor com suas
idéias. Fizeram-se de homens. Pagaram um preço muito alto por saber definir
critérios que os levariam a outros parâmetros de civilidade. Por sinal, de convivência
humanitária. Alguns desses renomados pensadores construíram a vanguarda da
manutenção do status quo e a defesa intransigente da perpetuação da ordem. Da
conciliação de interesses. Ou seja, é o antagonismo. O confronto das idéias. O
conflito, motor da história, peça fundamental desse imenso teatro onde todos
exercem, distintamente, diferentes papéis nesse tablado de ininterruptas
batalhas. Que seja a nossa teimosia um mal necessário. Não tenho dúvida de que
vamos ter que aprender um pouco mais para não cometer os mesmos equívocos. As
mesmas contradições.
Muito oportuno a nossa quase permanência diária de se ver. De aproveitar
o Estado democrático de direito com serenidade e elegância, até. Imagino que as
palavras não são tão ácidas, apenas carregam consigo a ternura de alguns
descaminhos que certamente nunca vou ter o privilégio e a alegria de
refazê-los. Não tenho pressa. Ando taciturno. Não perdi, absolutamente, nada. Tudo
outra vez sem ter que minimizar o tamanho do entusiasmo que tenho sempre quando
vejo passar em pesadelos todos os dobrados e dissonantes da banda de minha revolução.
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