DESPEDIDAS
Zenóbio Oliveira
Muitas vezes me chamam para despedidas, as
alegres, mas não gosto delas, seja qual for a sua natureza. Foram tantas em
minha vida, as tristes, que já poderia até ter-me acostumado. Algumas
inesperadas de tal forma, que até hoje não se estabeleceram como uma verdade
consciente em mim.
Por muito tempo concordei com uma asseveração
popular sobre o amadurecimento da alma pela amargura, até esbarrar na primeira
despedida triste e grave da minha vida para compreender que ela, essa tal amargura,
é elemento que descende justamente de acontecimentos como a despedida, na
genealogia geral dos sofrimentos.
Eu fujo delas.
Não quero que o momento de sua ocorrência seja
o ponto de relação referencial das minhas lembranças. Não aceito que meu
pensamento constitua uma simbolização imagética do seu acontecimento triste, como
indício categórico da memória, porque isso toldaria cada instante da
convivência predominantemente alegre que o precedeu.
Se bem que a despedida nem é tão pungente
quando o apartamento não é efetivo. Hoje principalmente, pois com toda essa
disponibilidade tecnológica na comunicação, as distâncias estão cada vez mais
encurtadas. A mediação da palavra, escrita ou verbalizada, produz essa ilusão
de constância, quando compartilhada diariamente nesses suportes virtuais. Mas
uma relação, seja de qual tipo for, carece mais que isto. Necessita
substancialmente da presença física, porque carrega no bojo elementos
peculiares, que a palavra, por si só, não consegue traduzir. O olhar, o abraço,
o carinho, por exemplo, não são coisas que possam viajar no espaço cibernético
e isso faz com que a ausência do ente querido continue amargurando os corações
distanciados.
Mas a despedida é doída mesmo quando é
peremptória, quando termina uma relação de vida, porque transforma a esperança
do reencontro em saudade irremediável.
De todo modo não sou afeito a despedidas,
mesmo as que encerram a promessa do reencontro.
E me agarro na filosofia de “que a gente não
precise das despedidas para lembrar o quanto gostamos de quem está perto. Que a
gente não precise da saudade para lembrar o quanto gostamos de quem está
longe.”
E me
valho da poesia para pedir aos meus que: “se acaso algum dia eu cismar de
partir, me peça pra ficar”.