domingo, 21 de agosto de 2011

Soneto

DESENGANOS
Por Zenóbio Oliveira

Estou fadado a viver de maus auspícios
Exposto ao poder da alheia cobiça
Ao sopro nocivo do mal que atiça
A fogueira voraz de todos os suplícios

E na sombra eterna destes malefícios
A alma sucumbe em angústia maciça
A minha vida, então, se desperdiça.
Em favor de profusos sacrifícios

E da longa jornada, a desesperança.
É tudo quanto trago de herança
Dos meus pobres e fanados anos

Sem amor, sem ventura, sem destino.
Tornei-me um errante peregrino
Na estrada ruim dos desenganos

sábado, 20 de agosto de 2011

Rimando


D. Maria, por favor, me atenda,
Quero um par de sapatos Bonivanti,
O cinto da fivela mais brilhante,
Que a senhora tiver na sua venda,
Vou querer um corte de fazenda,
Pra fazer uma camisa esporte fino,
Uma calça de tergal boca de sino,
Com nesgas do lado de outra cor,
Pois sábado vou levar o meu amor,
No forró da capela de Paulino.

domingo, 14 de agosto de 2011

Folclo-rindo

 Humor do Sertão

 Era um domingo de manhã. Debaixo do Tamarindo frondoso eu, meu pai e alguns vizinhos botávamos a prosa em dia. Entrementes, minha mãe aparece na porta a reclamar:
__ Dois homens em casa e os potes secos!
Diante da Reclamação pai faz uma constatação:
__ Se pegassem a água que carreguei nos ombros, de galão, desde os meus oitos anos de idade e derramassem lá na Serra de Luis Gomes, esse rio aqui ficava com água no pescoço!

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 Vendo minha mãe de saída para a feira, meu pai fez um pedido:
__ Compra uma carninha!
 E minha mãe... __ Ambom, Comesse carne ontem?!
Nova constatação do meu pai:
__ Juntando toda carne que eu comi na minha vida num dá um bode de oito quilos!
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Cheguei lá em casa para uma visita dominical e não tinha ninguem. Porem eu sabia o esconderijo da chave e entrei. Liguei a TV pra assistir a Fórmula 1. Pouco tempo depois chegou meu pai.
__ Vem da feira? perguntei. __ É! respondeu.
__ Viu mãe? perguntei de novo.
__ Não! Até procurei! Em Maria Emília, Em Antônia Boi, na banca de Luzanira, em Leôncio... Nada.
__ Aliás, tua mãe é como alma, só vê quem tem merecimento!

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Meu pai disse que se preparou para ver um jogo do Botafogo na cidade (ainda não tinha luz elétrica nas Aguilhadas) quando o tempo começou a se fechar. Pensou: "se eu sair agora vou levar essa chuva nas costas." Nessa hora lembrou de sua mãe Marcelina e de suas lições religiosas, que rezando-se  o credo três vezes se alcançaria a graça. Então começou a oração para espantar a chuva iminente. Só que resolveu rezar do fim para o começo: Rezou a primeira vez e foi à porta verificar o resultado de sua fé. O tempo já tinha ficado mais aberto, disse. Já dava, inclusive, para ver algumas estrelas. Então rezou a segunda e foi olhar. Até a lua já brilhava no céu...
__ Aí não precisou nem rezar a terceira vez, einh tio, perguntou-lhe o sobrinho Zé Carlos.

__ Não! Mas não rezei, porque tive medo do sol sair!



Homenagem, neste dia dos pais, a Francisco José de Oliveira, o meu.

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Lembra da PEG - Propaganda eleitoral Gratuita?

Candidatos no horário eleitoral.
 Zenóbio Oliveira

Na “briga” das eleições municipais,
Tem candidatos de todos os recantos,
Uns “guerreiros”, uns “sofridos”, outros “santos”,
De ofícios vários e classes sociais.
Alguns, é claro, já bem profissionais,
Nessa arte do desdobro labial,
Iludindo de forma genial,
Com juramentos, promessas e desvelos,
Tem candidato de todos os modelos,
Desfilando no horário eleitoral.

Tem os que já desfrutam de mandatos,
Com larga experiência nessa lida,
E os que são nautas de primeira ida,
Componentes do time dos novatos,
Eu só sei que são tantos candidatos,
Disputando voto a voto essa campanha,
Tem eleitor puta velha na artimanha,
Que já diz por aí que não é tolo,
__Se não me der um milheiro de tijolo,
O meu voto, com certeza ele não ganha!

Tem candidato de todos os ofícios,
Prometendo por aí todos os dias,
Garantir para as categorias,
A conquista de grandes benefícios,
É no jornal, no rádio, nos comícios,
É na telinha do seu televisor,
É no batente da porta do eleitor,
É no retrato do santinho que entrega,
Com o pedido: vote em mim caro colega,
Para que eu possa ser o seu vereador!

Tem engraxate, estudante, eletricista,
Advogado, médico, protestante,
Guarda de trânsito, bancário, vigilante,
Aposentado, cantor, radialista
Comerciante, petroleiro, taxista,
Empresário, locutor, fiscal, leiteiro,
Publicitário, ambulante, seresteiro,
Dona de casa, padeiro, vendedor,
Sindicalista, açougueiro, professor,
Policial, autônomo e até pexeiro.

Tem cordeiro, Niô, Comunitário,
Tem Mutuca, Burrego, Passarinho
Baia, Gigi, Gaguim do espetinho,
Mala Véia, Mundica, Missionário,
Da Charanga, Três Vintém, Dibá, Canário,
Tem Do Gesso, Do Lanche, Bigodão,
Das agulhas, Bahia, Seu Leão,
Do Psiu, De Doquinha, De Dodoca,
Tem Machado, Da Caixa, Malhas, Doca,
Da Prefeitura, De Gumércia e Furacão.

Eu me empolgo quando a televisão,
Anuncia o programa desse povo,
Pelo menos é conteúdo novo,
Recheado de humor e diversão,
Melhor do que Gugu, do que Faustão,
Que Ratinho, Sílvio Santos, Raul Gil,
E em termos de comédia no Brasil,
Essa turma realmente é puro dom,
Eu assisto, recomendo e acho bom,
Esse tal de horário eleitoral,
Não tem Casseta, CQC, Zorra Total,
Até acho melhor que o Show do Tom.














terça-feira, 9 de agosto de 2011

Soneto

Soneto
Por José Albano

Poeta fui e do áspero destino
Senti bem cedo a mão pesada e dura.
Conheci mais tristeza que ventura
E sempre andei errante e peregrino.

Vivi sujeito ao doce desatino
Que tanto engana, mas. tão pouco dura;
E ainda choro o rigor da sorte escura,
Se nas dores passadas imagino.

Porém, como me agora vejo isento
Dos sonhos que sonhava noite e dia,
E só com saudades me atormento;

Entendo que não tive outra alegria
Nem nunca outro qualquer contentamento
Senão de ter cantado o que sofria.

Soneto

Mundo Interior
Por Alfredo Cumplido de Sant'anna

Eu tenho uma alma nômade e sombria,
Que não espera prêmio ou recompensa,
Trago nos lábios um riso de ironia,
E nos meus olhos a cor da indiferença.

Para viver as horas do meu dia,
Sem que me doa a humana malquerença,
Protejo-me no véu da fantasia,
E na luz auroral de minha crença.

Quanto haja em derredor homens e feras,
Transformo-os, qual um mágico, em severas,
E nobres expressões da natureza,

E passo como um Deus sereno e altivo,
Nesse mundo alegórico em que vivo,
Construindo meu sonho de beleza.

domingo, 7 de agosto de 2011

Poesia

Segredo. 
Por Zenóbio Oliveira

De quem eu gosto não digo,
Não quero correr perigo,
De revelar meu segredo.
Trago este amor desmedido,
Secretamente escondido,
Nos porões deste meu medo.

É um amor impossível,
Que eu mantenho invisível,
Aos olhos torpes do alheio,
Por este e outros entraves,
É que o fecho a sete chaves,
Nos cárceres do meu receio.


E tenho muito cuidado,
Pra que não seja notado,
Por ela, nem por ninguém,
Oculto enquanto puder,
O nome dessa mulher,
A quem quero tanto bem.

Um dia, talvez, quem sabe,
Esse amor que já não cabe,
Nessa minha timidez,
Transborde, irrompa, se rasgue,
E então me desengasgue,
Dessa profunda mudez