terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Artigo

“L”
Marcos Bezerra, do Novo Jornal

Tinha decidido usar este espaço para escrever sobre a insônia que tem me perseguido nos últimos dias. Já ia, inclusive, lá pela metade nessas linhas retas de ideias tortas. O título seria “Altas Horas”; nada de muito original, mas bacana para combinar com minha rotina de pouco sono e muitas horas à frente da telinha. Aí me aparece um outro assunto igualmente de tirar o sono, não só o meu, mas de todos os que habitam ou gravitam em torno desta bela cidade chamada Natal... Altas Loras.


Para quem não é tão antigo quanto eu, lora é um diminutivo para lorota e os de antanho usam, normalmente, para dizer isso é lora, ou fulano está de lora. Mas, tem uma gíria mais nova e ainda mais diminuta que vai traduzir tudo o que já escrevi: a letrinha do título acima.


Aprendi com os estagiários da pauta lá na Inter TV Cabugi. De vez em quando eles tentavam me dar um “L” em alguma coisa. Ou diziam que eu tinha dado um nas pessoas que ligavam pedindo para fazer uma matéria que não rendia. Era um não com cara de sim. Um “L”, como o que a Prefeitura de Natal parece tentar emplacar.


Catei no Google Earth a localização da rua onde se daria o ponta-pé inicial das obras de mobilidade desta cidade para a Copa do Mundo de 2014 - Rua São Geraldo, nas Quintas, nas proximidades da Rua dos Pegas. Tentei descobrir, na foto aérea, qual a relação de acessibilidade do aeroporto de São Gonçalo com o dito cruzamento. Em vão. A não ser que a intenção do visitante seja se perder nas ruas estreitas do bairro, não há como ele chegar lá. Mesmo assim foi na São Geraldo que começaram as obras de mobilidade da Copa. Ela e outras 27 ruas do bairro vão ser recapeadas. Você não leu nem eu escrevi errado. Em Natal, as obras que vão facilitar o acesso dos turistas à Arena das Dunas começaram com o recapeamento de ruas das Quintas. Assim, quando as obras no complexo da Urbana começarem, os motoristas vão ter vias alternativas para trafegar... Justificativa ou “L” em todos nós?


Falta saber se combinaram com os Russos, os integrantes do Comitê Local da Copa e os indefectíveis homens da Fifa. Ia ser bacana a missão, que deve vir ao Brasil mês que vem, baixar nas ruas do bairro popular para checar o andamento das obras. À frente Jérôme Valcke, aquele capaz de botar defeito até na receita de ginga com tapioca. Atrás, nossas autoridades, cheias de rapapés. São Geraldo, Pêgas, Coemaçu, Ipanema, Rio Potengi, Um Mil e Dezenove... Rua acima, rua abaixo, todos perdidos.


Menos mal que a ia dar para tomar uma cerveja gelada. No Bar do Picado, Calçadas Bar, Labrase, Bar do Dodoca e/ou no Xibatão Mui La Xibata. Ia ser difícil encontrar uma Budweiser, mas aí a gente dá outro “L” nos gringos.

FOLCLO-RINDO

Chuva pra mais de metro.

Era o ano de 1985. Os flagelados da enchente do Rio Mossoró - era assim que o povo do governo de JAJÁ nos chamava - limpavam a lama de suas casas, numa espécie de mutirão. As conversas sobre a possibilidade de novas inundações vinham de toda parte. De repente chega lá em casa Lucimar de Xoxó, com a notícia de mais chuva na cabeceira do rio. Ofegante e com sua gagueira congênita ele começa:
__É B..bom n..nem ti..ti..rar ma..mais es..essa la..la..lama!
__Por que? Pergunta tia Ezilda.
__De...deu uma Chu...chuva em Ca..ca..Caraúbas de cen..cento e vin...vinte me..me..metro!
Como cento e vinte metros de chuva é água pra ninguém botar defeito, minha tia arregalou logo os olhos, estupefata.
___Mais vixe, menino, quem disse uma coisa dessa?
___O ra..rádio!
O pai dele, Xoxó, vendo o terror nos olhos de todo mundo tentou corrigir a barbaridade que o menino havia dito:
__Num foi cento e vinte metro não! Esse menino é doido, num sabe escutar as coisa direito! Foi cento e vinte quilômetros!

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Artigo

Herói torto
Marcos Bezerra, do Novo Jornal

A violência subiu de escala e virou assunto obrigatório na imprensa potiguar. Entrou também no cotidiano dos habitantes de Natal e região metropolitana. Não mais apenas das vítimas, reais ou potenciais – os noiados e moradores de áreas de risco. Quem, nos últimos dias, não comentou com um colega de trabalho, com um amigo no bar, com alguém em casa, essa tal onda de violência que bate à nossa porta? No dizer de quem não tem números para comparar – o jornalismo não deveria, mas é fértil nisso –, ela, a onda, é cada vez mais intensa. É cada vez maior o número de assaltos; o de fugas também é cada vez. E por aí a banda toca. 
Mas, é fato, uma ação criminosa como a ocorrida na padaria Pão Petrópolis, tem o poder de despertar a atenção de todos para o problema. Talvez pela violência gratuita. Some-se a isso a fuga, tudo indica criminosa, de 41 criminosos e a ação destes para recuperar o tempo perdido na cadeia, e temos um bombardeio de más notícias. Nos jornais, na TV, na internet e, no meio do redemoinho, o cidadão. Eu, você, os meus e os seus. 
Falo pelos meus e cito os seus porque acredito que o sentimento é semelhante. A moça que foi baleada na coluna e, apesar da esperança da família de uma evolução no diagnóstico, segue paralisada da cintura para baixo. E se fosse um dos nossos?
Na fatídica quinta-feira, 2 de fevereiro, recebi a notícia do assalto em casa. Minha filha trabalha num shopping exatamente em frente à padaria Pão Petrópolis. Um frio correu minha espinha. Perguntei depois e ela confirmou que já havia almoçado mais de uma vez por lá. Lembrei que também já provei da sopa da padaria. Mais tarde, no mesmo trecho da Afonso Pena, um ciclista morreu atropelado, dizem, em fuga depois de roubar a bolsa de uma senhora. Nos outros dias, mais e mais ações criminosas. Muitas num curto espaço de tempo. Muito para quem acredita na cultura da paz, na gentileza que gera gentileza. 
Metrópole segura: o governo garante que botou 1.200 policiais nas ruas e, dia seguinte, acrescenta outros 300 homens ao efetivo. No caminho para casa cruzo com mais de uma viatura policial e não escapo dos olhares perscrutadores dos policiais. Em cima de uma moto, altas horas da noite, sou um suspeito para eles... Sou apenas um pai de família voltando para casa, assustado, como o resto da população. Chegar é um alívio e o sinal da cruz um agradecimento.
No descanso de minha espriguiçadeira, percebo como, em situações críticas, aumenta o apego pela família, que ganha um pouco mais de carinho. Os filhos pequenos, que costumam ter o pai como herói, sofrem com tantos cheiros. Cafungo e, torto que sou, roubo deles a coragem contida na inocência. Energia para seguir em frente.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Artigo

Um beijo no sonho
Marcos Bezerra, do Novo Jornal

Preencher este espaço com minhas ideias tortas, de hoje e de antanho, do meu sertão que não sai de dentro de mim e da nesguinha de Mata Atlântica que se avizinha da minha janela, tem me dado uma alegria besta. Quem escreve quer leitores e vez ou outra aparece alguém para me perguntar disso ou daquilo que leu em algum artigo meu. Jorli, um cão sarnento batizado por mim lá em Janduís, por exemplo, virou meu cachorro e mais de um amigo me perguntou se ainda está vivo. Outro dia o professor Cassiano Arruda Câmara me questionou sobre a defesa que fiz dos invasores do Pinheirinho, em São José dos Campos. Não concorda comigo, mas, igual Voltaire, defende meu direito de externar o pensamento. Ainda teve dona Salete, que ligou para mim para agradecer o artigo que fiz sobre ela e a filha, Kyberli Samara – descobri o segundo nome.
Até exportada minha verve está sendo; para o blog de Zenóbio Oliveira, filho de agricultor como eu, poeta das imagens televisivas e da cultura nordestina e antigo companheiro de trabalho lá em Mossoró. Diz ele que meu trabalho está bom demais. E eu vou engolindo corda. Dele e de todos. Criando coragem para concluir um livro que já anda na metade e iniciar outro, com roteiro praticamente pronto, embora vagando neste cérebro de grandes proporções.
Para o primeiro - O Ataque de Mossoró ao Bando de Lampião - não, que é de interesse local, mas o segundo - O Alto do Louvor - me faz sonhar um sonho que, descobri, é também de outros candidatos a escritor: todos nós queremos, um dia, ser entrevistados do maior talk show do país. Já ouvi coisas como: “com esse livro vou para o Jô Soares” e “queria uma coisa grande, que rendesse até uma entrevista no Jô”. Aí, cato memórias recentes e reconheço que já ensaiei respostas para o apresentador da Globo. Será que a produção dele vai ligar para meus familiares e amigos para saber de alguma presepada? Até a roupa que usarei nesse dia glorioso entra na lista dos pensamentos. São castelos construídos, tal e qual quem faz as contas de como gastar uma Mega Sena acumulada. E, senhor editor de Cultura, não pense que o sonho deixa de incluir uma boa página deste NOVO JORNAL. Entrevista no Cores & Nomes também, senhora Margot Ferreira!
Devo estar ficando doido... Viajando ainda mais, chego à conclusão que quem tem uma ideia de livro na cabeça, guarda material escrito ou mesmo já tem a boneca pronta e não publica, tem um trunfo na vida: o de que o livro pode ser um sucesso. E dessa esperança vai se alimentando. Ela dura até o dia que o autor quiser. Até o dia em que o esboço vai para o prelo.
Livro é a mercadoria que mais quebra. Costumo dizer com a experiência de meu “Toalha de Mesa - casos do meu mundinho”. Tiragem de 300 volumes, poucos vendidos, muitos doados e ainda uma boa quantidade guardada. Mas, fazer o que, se há muito fui picado pela tal mosca azul da literatura.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Rimando

SOMBRAS
Zenóbio Oliveira

Faltou-me a luz nestes caminhos baços
Desde os meus idos tempos de criança
E o marasmo da vida hoje alcança
A lenteza dos meus últimos passos

Na escuridão tropeço nos fracassos
E sinto esmaecer minha esperança
Sem o brilho da bem-aventurança
Agarro-me aos últimos sonhos lassos

E se sonhar é tudo o que me resta
Quando a noite em mim se manifesta
Como um véu negro de angústia e dor

Eu, como um cego, na estrada escura.
Vou tateando na eternal procura
Pela chama fulgurante do amor

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

VERBO AD VERBUM

Mais do mesmo.
Zenóbio Oliveira

O campeonato estadual de futebol de 2012 segue os mesmos moldes de suas edições passadas. O baixo nível técnico das equipes e as condições precárias dos estádios tiram a atratividade. A costumeira ajudinha do apito amigo, a quem mereça, vai compondo a crônica de um campeão anunciado. A imprensa esportiva, pela cumplicidade e, ou omissão, garante a alegoria, fazendo com que a objetividade e a imparcialidade morram no campo das abstrações. E as novidades nos elencos esse ano? Poderão perguntar. Elas são incapazes de dissolver a base estrutural em que foi montado o enredo arquetípico. E como diz a canção: “outras notas vão entrar, mas a base é uma só”. Nosso campeonato Potiguar, como na música, apresenta aqui, acolá alguns acordes dissonantes, mas acaba sempre num samba de uma nota só.
Que os Deuses do futebol não digam amem.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Rimando

Destino.
Zenóbio Oliveira

De posse do meu sonho alcandorado,
Vestido pelas cores da aurora,
Lancei-me menino pela vida afora,
Viçoso, tenro, crente, esperançado.

A vida sujeitou-me ao triste fado,
Ao duro dissabor, sorte caipora...
Sem glórias, nem paixões carrego agora,
Um fardo de angústias do passado.

Pela estrada que caminho a esmo,
Eu procuro, disperso de mim mesmo,
Os restos do meu sonho de outrora,

Mas, até a saudade do que fui,
Num mar de sofrimento se dilui
Num vento de incerteza se evapora.



Artigo

Comunicação em rede
Zenóbio Oliveira
                                                                                            

Do grito primitivo ao bit contemporâneo, a comunicação percorreu a história da civilização como protagonista substancial de sua própria evolução. Derrubou fronteiras econômicas e socioculturais num processo de estreitamento universal capaz de integralizar todas as qualidades e defeitos humanos, evolvendo para velocidades de transmissão de dados cada vez maiores e mais inimagináveis.
O advento das Novas Tecnologias de Informação e Comunicação (NTIC’s), no bojo da chamada Terceira Revolução Industrial, rompeu o curso vertical da Comunicação, comum no Rádio e na Televisão, criando os recursos necessários para o compartilhamento da informação e promovendo uma interação entre os povos, jamais vista, capaz de conceber uma nova cultura, fundamentada na prática dessa sociedade da informação.
A aculturação nesse novo sistema informativo é inevitável. O contato entre tradições, costumes, crenças, valores e preceitos, como choque de contrários, apresenta alguns casos de xenofobia e, embora não garanta sua unificação, traz em sua síntese a criação gradual de uma nova simbolozição coletiva, numa espécie de dialética cultural.  A graduação se explica pela falta de políticas de inclusão digital, o que retarda o processo. Mas isso é proposital, porque pelos objetivos de sua criação, as NTIC’s se caracterizam como um tiro que saiu pela culatra.
A comunicação em rede rasga o filtro ideológico do poder, demove o controle da informação, anarquiza seu curso unidirecional premeditado para democratizá-la. Essa pluralidade de idéias, ideologias e idiossincrasias nesse campo de virtualização da realidade, em sua plenitude, reúne todas as potencialidades para a efetivação da verdadeira liberdade de expressão.