quarta-feira, 22 de outubro de 2014

É o que eu digo

A queda da bolsa
Zenóbio Oliveira

Muito tem se falado sobre os tais indicadores econômicos nos últimos dias. Há uma tentativa momentosa de se pejorá-los, através de um linguajar técnico e siglado, como se economia fosse uma entidade fantástica, que não pode ser apreendida por nossa parca inteligência de comedores de feijão de corda.
Aí basta que você ligue o rádio, a tevê, abra um jornal qualquer e lá estão eles: IPCA, IPGM, INPC, IPC, PTAX, SELIC, DI, TR...
Mas a febre do momento mesmo é a tal Bolsa de Valores. Essa cai dia após dia. Nem juá cai desse jeito. A gente liga o rádio e... queda da bolsa; liga a televisão e... queda da bolsa; lê o jornal e... queda da bolsa. E é pra você ficar preocupado, porque quando a bolsa cai a coisa vai mal, ora pois.
Aí eu me lembro que já tive essa preocupação com a queda da bolsa, ou melhor, já tive muito cuidado, mas muito cuidado mesmo, pra não deixá-la cair. Eu devia ter uns oito ou noves anos de idade e, todo dia, eu ia à Ramadinha pegar o leite pra fazer o mingau da minha irmã caçula. Trazia num vasilhame de vidro, dentro de uma bolsa de palha de carnaúba, pendurada no guidão da velha Merck Suisse e o medo que eu tinha da bolsa cair se justificava, pois ali estava em jogo a fome da minha irmãzinha pequena e a integridade dos couros do meu espinhaço.

Hoje em dia não me preocupo mais com queda de bolsa. O leite agora é vendido em saco plástico e transportado de automóvel. A outra bolsa caindo não vai derramar o leite das nossas caçulas, então não somos nós, os comedores de feijão, que temos que nos preocupar em costurar as aselhas dessa bolsa, pois se cair não seremos nós a chorar o leite derramado.