sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Felizes instantes em 2011

Hoje acaba mais um ano. Como acontece sempre, trata-se de um momento em que os homens manifestam sua porção de Deus e, confraternizados entre si, propagam suas palavras gentis, juram amor ao próximo, desejam a paz e o bem à toda humanidade.
A palavra, porém, precisa expressar algo mais. Precisa levar ao entendimento, mesmo que traga na sua essência a verdade de nossas mentiras. Que esclareçam que o amor é limitado ao meio e que a paz em nosso universo é impossível e carrega em sua lógica, apenas a simbologia de momentos como o que vivemos agora.
É preciso saber que pelo modelo de sociedade em que vivemos, amor, paz, liberdade, felicidade não são bastante para todos e, nada mais são que o resultado de uma grande competição, onde para um ganhar, o outro tem que perder.
Então, nossos votos neste fim de ano serão diferentes.
Desejamos que todos vocês tenham seus momentos de paz, de amor, de liberdade, de felicidade e de tudo de bom, porque é o que eles são: momentos. E que todos vocês possam ter saúde e força para lutar nessa grande arena da vida.

Felizes instantes, por menores que sejam, em 2011.

É o que desejamos.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Folclo-rindo

Vitor, lá do sitio Aguilhadas, era um cego desses que não conhecem dinheiro, nem pelo valor de mais, nem pelo de menos. Ele, como todos os moradores do lugar, plantava cebola na vazante do rio. Com a ajuda dos sobrinhos plantou uma dezena de canteiros, colheu, limpou e amarrou mais de cem molhos. Na época de vender o produto, chegou um comprador na casa de Vitor, Seu Manoel Bacatela, homem de confiança, pela honestidade e, principalmente, pela proximidade que tinha com a família de Vitor.


__Bom dia Vitor!

__Ôpa! Bom dia!

__A cebola é pra vender?

__ É, Sim senhor!

__ Quanto é? Perguntou Manoel?

__ É setenta!

Manoel viu que o preço pedido por Vitor estava abaixo do que vinha sendo praticado e disse:

__ Vamos fazer o seguinte Vitor, eu vou lhe dar cem contos pela cebola! Tá bom assim?

E o cego respondeu:

__Não senhor! Por meno de setenta daqui ela num sai pra canto nenhum!

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Esse assunto é FEDERAL!

Kildare de Medeiros Gomes
Jornalista e Professor da UERN


Vez por outra a vida se encarrega de nos chamar à responsabilidade. Da infância para aadolescência, desta para a vida adulta e, por fim, uma vida senil permeada de experiências. Há duas situações em que não podemos nos desviar: ou se fomenta uma relativa análise contínua de nossas ações e atos, ou seremos empurrados pelos fatos e acontecimentos do cotidiano. A segunda opção nem sempre nos chega na calmaria. Do contrário, empurra-nos para as valas de profundos mergulhos interiores dolorosos a fim de promover uma auto-análise forçada. Essa lógica de esperar para ‘ver acontecer’ é a mais utilizada, contudo é a menos recomendada. Devemos adquirir experiências fitando o horizonte de frente.

A vida acadêmica não se furta a essa mesma lógica. Quando não fomentamos as discussões que fazem parte do próprio sistema de ensino superior há que perdermos uma oportunidade institucional que apontará os rumos e o futuro da universidade. Não é diferente em relação a federalização da UERN. Um assunto que deve estar presente nas discussões da academia, sob pena de nos colocarmos na situação de quem não tem
responsabilidade o suficiente para amadurecer idéias e posições acadêmicas.

Furtar-se da discussão sobre a federalização da UERN e acreditar que o atual sistema está tão bem sucedido que, discutir a transmutabilidade institucional do âmbito estadual para o federal, seria um grande disparate. O mais razoável é que possamos discutir e aprofundar o estudo, provocando o debate e aquilatar os resultados a curto, médio e longo prazo com a federalização instituída.

A resistência na discussão do assunto levará a UERN ao patamar do retrocesso e do cerceamento do diálogo, perdendo uma oportunidade singular em sua história, que se vislumbra a nossa frente e que reclama uma análise mais detalhada. Com o estudo da federalização podemos verificar que a universidade rionortegrandense terá vantagens imediatas, tais como: autonomia financeira, garantia de um aporte orçamentário próprio, interiorização do ensino superior federal em cidades do Estado do Rio Grande do Norte (como Açu, Patu, Pau dos Ferros, Caraúbas, Areia Branca, Apodi, Macau, João Câmara, São Miguel, Alexandria, Umarizal, Touros, Caicó – além de Mossoró e Natal), fortalecimento de uma política de pós-graduação e pesquisa (hoje quase inexistente na instituição), além de um avanço considerável na política de ensino superior – sem que haja uma intervenção direta de parlamentares, que sistematicamente vêm intervindo na implantação de cursos de graduação, castrando dessa forma a autonomia da instituição em definir sua política de expansão do ensino.

A federalização da UERN não apagará, como um passe de mágica, todas as suas deficiências a partir do ato que oficializará sua condição de IFES. Mas, certamente, abrirá portas que dificilmente seriam oferecidas pelo Governo do Estado do Rio Grande do Norte. O movimento de estudos da federalização deve ser instituído imediatamente na UERN, para que a universidade possa definir uma posição acerca do tema que está na pauta do dia. É urgente a institucionalização do debate, haja visto que esse tema que trata da federalização da UERN já vem sendo abordado fora da universidade há algum tempo. Nesse caso é importante salientar que a não inclusão da comunidade acadêmica nessa discussão temática representa o pacto da ‘preguiça intelectual’, o medo de confrontar-se com o novo e a falta de capacidade em respeitar o contraditório.

Insano é acharmos que a UERN deverá manter-se no mesmo lugar de sempre, sempre a postos para atender as particularidades de cada um daqueles que se preocupa apenas em atender as suas necessidades. O silêncio induzido sobre a federalização revela apenas a falta de capacidade dos que ainda não entenderam que a UERN precisa crescer e, como instituição de ensino superior, galgar novos e profícuos horizontes. Quem tem medo da federalização? Transferir para a universidade a falta de capacidade de aceitar novos desafios e não evoluir é uma posição extremamente egoísta, de quem não se movimenta e nem busca o crescimento, nem tampouco aceita o sopro da mudança que nos chega sem envio de correspondência antecipatória dos acontecimentos. Embalados pelos ventos da mudança devemos procurar, então, refletir acerca do pensamento chinês do I CHING, abordado por CAPRA, quando nos afirma que: “Depois de uma época de decadência chega o ponto de mutação.”

É chegada a hora de nos despirmos do preconceito, da vaidade, da sacralização narcisística de olhar para o próprio umbigo, e, invertendo essa premissa, aprendermos a trabalhar sempre olhando para frente e para cima, a fim de produzir efeitos positivos na coisa pública. Nada melhor do que desanuviar o pessimismo e acreditar concretamente no avanço, trocando o retrocesso administrativo pela eficiência acadêmica.


quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Liberdade

Cecília Meireles



Deve existir nos homens um sentimento profundo que corresponde a essa palavra LIBERDADE, pois sobre ela se têm escrito poemas e hinos, a ela se têm levantado estátuas e monumentos, por ela se tem até morrido com alegria e felicidade.

Diz-se que o homem nasceu livre, que a liberdade de cada um acaba onde começa a liberdade de outrem; que onde não há liberdade não há pátria; que a morte é preferível à falta de liberdade; que renunciar à liberdade é renunciar à própria condição humana; que a liberdade é o maior bem do mundo; que a liberdade é o oposto à fatalidade e à escravidão; nossos bisavós gritavam "Liberdade, Igualdade e Fraternidade! "; nossos avós cantaram: "Ou ficar a Pátria livre/ ou morrer pelo Brasil!"; nossos pais pediam: "Liberdade! Liberdade!/ abre as asas sobre nós", e nós recordamos todos os dias que "o sol da liberdade em raios fúlgidos/ brilhou no céu da Pátria..." em certo instante.

Somos, pois, criaturas nutridas de liberdade há muito tempo, com disposições de cantá-la, amá-la, combater e certamente morrer por ela.

Ser livre como diria o famoso conselheiro... é não ser escravo; é agir segundo a nossa cabeça e o nosso coração, mesmo tendo de partir esse coração e essa cabeça para encontrar um caminho... Enfim, ser livre é ser responsável, é repudiar a condição de autômato e de teleguiado é proclamar o triunfo luminoso do espírito. (Suponho que seja isso.)

Ser livre é ir mais além: é buscar outro espaço, outras dimensões, é ampliar a órbita da vida. É não estar acorrentado. É não viver obrigatoriamente entre quatro paredes.

Por isso, os meninos atiram pedras e soltam papagaios. A pedra inocentemente vai até onde o sonho das crianças deseja ir (As vezes, é certo, quebra alguma coisa, no seu percurso...)

Os papagaios vão pelos ares até onde os meninos de outrora (muito de outrora!...) não acreditavam que se pudesse chegar tão simplesmente, com um fio de linha e um pouco de vento! ...

Acontece, porém, que um menino, para empinar um papagaio, esqueceu-se da fatalidade dos fios elétricos e perdeu a vida.

E os loucos que sonharam sair de seus pavilhões, usando a fórmula do incêndio para chegarem à liberdade, morreram queimados, com o mapa da Liberdade nas mãos! ...

São essas coisas tristes que contornam sombriamente aquele sentimento luminoso da LIBERDADE. Para alcançá-la estamos todos os dias expostos à morte. E os tímidos preferem ficar onde estão, preferem mesmo prender melhor suas correntes e não pensar em assunto tão ingrato.

Mas os sonhadores vão para a frente, soltando seus papagaios, morrendo nos seus incêndios, como as crianças e os loucos. E cantando aqueles hinos, que falam de asas, de raios fúlgidos linguagem de seus antepassados, estranha linguagem humana, nestes andaimes dos construtores de Babel...

Texto extraído do livro "Escolha o seu sonho", Editora Record Rio de Janeiro, 2002, pág. 07.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Carta a Papai Noé

Luiz Campos

Seu moço eu fui um garoto,
Infeliz na minha infança,
Eu sube que fui criança,
Mas pela boca do ôto,
Só binquei cum os gafanhoto,
Qui achava no tabuleiro,
Debaixo do juazeiro,
Cum minhas vaca de osso,
Essas catrevage seu moço,
Que se arranja sem dinheiro.

Quando eu via um gurizim,
Brincando de velocipe,
De caminhão e de jeep,
Bola, revóver e carrim,
Sentia dentro de mim,
Desgosto qui dava medo,
Ficava chupando o dedo,
Chorava o resto do dia,
Só pruque eu num pudia,
Pegar naqueles brinquedo.

E preguntei uma vez,
A uns fio de doutor,
Diga fazendo favor,
Quem dá isso a vocês?
Me arrespondeu logo uns três,
_Isso aqui é os presente,
Que a gente é inocente,
Vai drumir, as vez nem nota,
Papai Noé vem e bota,
Perto do berço da gente!

Fiquei naquilo pensando,
Inté o natá chegar,
E na noite de natá,
Eu fui drumir me alembrando,
Acordei, fiquei caçando,
Por eu tava deitado,
Seu moço eu fui enganado,
Que de presente o que tinha,
Era de mijo uma poçinha,
Que eu mesmo tinha botado.

Saí com a bixiga preta,
Caçando os amigo meu,
Quando eles mostraram a eu,
Caminhão, carro, carreta,
Bola, revólver, corneta,
E trem elétrico inté,
Boneca, máquina de pé,
Mas num brinquei só fiz ver,
E resolvi escrever,
Uma carta a Papai Noé.

Papai Noè é pecado,
Os outro lhe martratá,
Mas eu vou lhe arrecramá,
Uns troço qui ta errado,
Qui a fio de deputado,
O sinhô dá tanto carrim,
Mas o sinhô é muito rim,
Que lá im casa num vai,
Pro certo num é meu pai,
Que num se alembra de mim!?

Eu já to certo qui você,
Só balança o povo seu,
E um pobre qui nem eu,
Você vê, faz qui num vê,
E se vê num sei purque,
Que aqui im casa num vem?
O ranchim a gente tem,
É pequeno, mas lhe cabe,
Pru certo você num sabe,
Que pobre é gente também?

Você de roupa incarnada,
Colorida, bonitinha,
Nunca arreparou que a minha,
Já tá toda remendada,
Seja mais meu camarada,
Pra eu não lhe chamar de rim,
Para o ano faça assim,
Dê meno pos fi dos rico,
De cada um tire um tico,
E traga um presente pra mim.

Meu endereço eu vou dá,
Da casa que eu moro nela,
Que eu moro numa favela,
Que o sinhô nunca foi lá,
Mas quando o sinhô chegá,
Que avistá uma palhoça,
Coberta com uma lona grossa,
E dois buraco bem grande,
Uma porta véia de frande,
Pode bater que é a nossa.

A ARIDEZ DOS MEUS DEZEMBROS

Por Fabiano Régis



          Não tem “jingle bells”, “noite feliz”, ou “bom velhinho” que me comova. O motivo da minha aridez é a sanha voraz do capitalismo, que a cada dezembro transforma a singela beleza e profundidade que é o natal, num momento de compra e troca de presentes, despertando nas crianças o instinto consumista.
          Como eram felizes as noites de natal da minha infância! No terreiro da minha casa, bem pertinho da janela da frente, ficava a minha árvore de natal, um frondoso pé de limão com vaga-lumes num piscar constante. A mesa preparada para a ceia, era de imburana ladeada com bancos de carnaúba, não tinha laços em vermelho e verde, nem luz de candelabro, mas uma toalha branca, novinha, ainda com cheiro de mala e luz de lamparina a encandear. Espalhados sobre a mesa, pratos de ágata brancos, alguns descascados, alguidar, e panelas de barro guardando fartura. E a sua volta uma família feliz. E a ceia? Como era saborosa a minha ceia. Nada de comida com nome estranho: “estrogonofe”, “panetone”, “tender ao molho de damascos” e “chester à califórnia”. Na minha ceia, tinha peru de verdade (criado no chiqueiro de pau-a-pique, para a engorda), farofa torrada, arroz solto e hortaliças do meu quintal.
          Terminada a ceia, eu e meus irmãos íamos para o terreiro e sob a luz das estrelas brincávamos até a hora da missa do galo, que começava próximo da meia noite. Seguíamos juntos: Meus pais, eu, e meus irmãos, formando uma pequena procissão. Ao chegar na igreja, logo na entrada, uma breve parada para espiar o presépio feito de caixa de papelão e papel de embrulho, com animais e santos de barro, encenando o nascimento do menino Deus. Durante a celebração enquanto minha mãe rezava, eu dormia em seu colo, devido ao adiantar da hora. De volta pra casa, lavava os pés com água guardada em pote e depois dormia.
          Nos meus sonhos nas noites de natal da minha infância não tinham “velhinho de barba branca” com trenó voador puxado por renas, invadindo chaminé para entregar presentes, mas um estábulo, feno, animais, o aniversariante, um carpinteiro e uma grande mãe chamada Maria. Como eram felizes as noites de natal da minha infância.



quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

DVD Caminhos

Foi neste cenário natural, no município de Grossos, que foi gravada a primeira fase do DVD Caminhos, do Cantor e compositor Genildo Costa.
A equipe formada pelos radialistas Zenóbio Oliveira, Fabiano Régis, Josué Damasceno e Fernando Leite e pelos Jornalistas Fabiano Morais e Anna Paula Brito passaram o último final de semana, na cidade, trabalhando na gravação. O patrocinador do DVD Arimatéia da Roma Rolamentos também esteve presente durante as gravações. Genildo recebeu o apoio dos conterrâneos, principalmente na cessão de barcos e canoas, mostrando o quanto é querido no lugar.
Em breve traremos mais informações sobre a quantas anda o projeto do DVD Caminhos.

Fotos: Anna Paula Brito

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Poesia

DESPERDÍCIOS
Zenóbio Oliveira



Foram-se os momentos mais bonitos,
De um amor que nem criou raízes,
E que deixou muitas cicatrizes,
Num coração que hoje lança gritos.

Foram-se todas as palavras puras,
Que, amiúde, falaste ao meu ouvido.
E hoje sem tua voz estou perdido,
Num imenso deserto de amarguras.


Foram-se todos os carinhos,
Muitas vezes trocados em nosso leito,
E hoje essa dor me espeta o peito,
Como fortes rosetas de espinhos.


Foram-se as noites coloridas,
Que passamos em beijos e abraços,
E hoje longe dos teus braços,
Não existe mais beleza em minha vida.

Filosofia

A dialética de Hegel



A dialética de Hegel era a do idealismo – doutrina filosófica de negação da realidade individual das coisas diferentes do “eu” que só lhes admitia a idéia. Hegel idealizou uma evolução na lógica. Reouve o termo “dialética” (que para os gregos antigos significava a arte do discurso e da contradição) e a ela introduziu seu método de pensamento.

O método de Hegel consistia no seguinte: Todo conceito tem seu contrário, isto é, toda afirmação pode ser negada. Para ele, o desenvolvimento das coisas e das idéias é o surgimento das forças negativas, ou seja, da contradição. Aliás, a contradição para Hegel, era a fonte de toda a vida.



A dialética hegeliana pode ser assim sistematizada:

Uma proposição – TESE

A negação – ANTÍTESE

A negação da negação – SÍNTESE – que seria sua evolução.



Exemplificando:

Um ovo – coisa positiva – contém um germe que se desenvolve aos poucos e devora o conteúdo do ovo – NEGAÇÃO – que não é simplesmente uma destruição, porque produz o desenvolvimento do germe, transformando-o em um ser vivo. Ao fim desta negação, o pinto, que se formou no interior do ovo, rompe a casca. Aí temos a negação da negação, ou seja, a síntese. Houve uma evolução, porque, do ponto de vista orgânico, o pinto é superior ao ovo.

Vale salientar que Hegel era idealista. Para ele, a idéia, o espiritual, o absoluto, o divino, desempenhavam o papel e a força primária, que se move por si mesma e que movimenta todo o universo. O universo seria apenas o envoltório exterior desta força que, de etapa em etapa, se eleva a um nível cada vez mais alto até que, no homem, ela se transforma em divindade. Segundo Hegel, diferentes períodos históricos são fases sucessivas de um processo de desenvolvimento do espírito absoluto, da etapa da idéia até à de divindade. Desse modo, seria possível falar de providência divina na História. Em outras palavras: o próprio Deus seria um futuro que no homem alcançaria sua mais elevada forma.



terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Opinião

O cavalo manco e o puro sangue


          Os trabalhadores têm muito a aprender, mas não podemos negar que apontaram a seta do governo na direção de deixar de ser colônia extrativista. Isto já surtiu efeito no enfrentamento da última crise mundial, se o país estivesse com o modelo econômico anterior teria quebrado, isto foi dito por todos os segmentos da mídia (fora do contexto partidário) antes do processo da campanha política.
          Se o governo não tivesse aberto agressivamente novos mercados com economias emergentes os efeitos seriam devastadores, isto é sério, e só aconteceu porque a direção foi mudada, as bases econômicas do governo FHC foram aproveitadas até um certo ponto, mas se não mudasse a estratégia, o Brasil teria quebrado como ocorreu nas outras crises.
          A aposta no mercado exterior emergente e no mercado interno, via inclusão social, é reconhecido no mundo inteiro como uma grande sacada deste governo que salvou o país de um grande desastre. O interessante é que foi apenas uma questão de auto estima. Por incrível que pareça, o governo Lula adotou a estratégia nacionalista dos governos militares e deu certo.
          O que aflige o pessoal que governou nas décadas passadas é que o novo posicionamento foi ideológico, deu certo, o país se protegeu e cresceu. A fome, a miséria, as desigualdades não seriam resolvidos em oito anos, basta um pouquinho de bom senso pra enxergar isto.
          A priorização no resgate dos pobres via programas de renda mínima e estímulo ao micro-crédito, o aumento em "dólar" de mais de 300% no salário mínimo, entre outras medidas, foram fundamentais para reduzir as desigualdades, irrigar de forma bem pulverizada a economia com dinheiro que gera emprego e germinou o ciclo virtuoso da economia.
         Com o aproveitamento e o aperfeiçoamento das bases econômicas bastou a decisão política de acreditar que podemos sonhar em deixar de ser colônia extrativista. Ainda estamos longe, não temos estradas, portos, aeroportos, escolaridade, sistema de saúde, centros de pesquisa, universidades qualificadas, mas para que possamos ter um dia todas estas coisas é preciso que tomemos a decisão política de apostar no Brasil, no trabalhador do Brasil, no empreendedor brasileiro, na distribuição de renda via salários dignos, no ciclo virtuoso do bom capitalismo, e esta decisão foi tomada neste governo.
         Nesta decisão de política nacionalista, deflagrou-se um programa de investimento maciço em infraestrutura de longo prazo, que só vai repercutir em oito ou dez anos, visando viabilizar o desenvolvimento do país (reindustrialização nacional, agrobusiness, infraestrutura, geração de energia, etc), o programa de aceleração do crescimento, PAC, representando mais uma vez a aposta no Brasil, deu certo, o iluminado Lula novamente pontuou onde os tucanos falharam.
          Quando a crise do primeiro mundo chegou o ciclo virtuoso se tornara auto-sustentável. O capital produtivo já havia apostado no Brasil e o país já se mostrava como uma decisão acertada.
          Em todas estas frentes estratégicas, o governo anterior apostou que as multinacionais tomariam nossas frentes produtivas sem interferência do estado, via privatização, etc, e gerariam novos empregos porque os trabalhadores venderiam sua mão-de-obra barato e os recursos naturais estariam a sua mercê para extrair e produzir fartos lucros.Ledo engano, as multis são fiéis às suas origens, seu compromisso é de envio dos fartos lucros para as matrizes.
          Esta decisão estratégica errada estava transformando o país em quintal extrativista do mundo, deixando os industriais locais à margem do processo, com a maioria da população condenada ao sub desenvolvimento enquanto uma minoria fazia compras nos shoppings de New York e Londres.
          O mundo desenvolvido antes de ser o que é passou por decisões estratégicas de governo, as coisas não acontecem sozinhas. Esta foi a direção errada do governo anterior, acreditar que o lobo seria o melhor guardião do galinheiro e não apostar na capacidade do empreendedor e do trabalhador brasileiro.
          Os trabalhadores tem muito a aprender e isto ficou evidente nos poucos anos de poder, mas os neocapitalistas de visão curta estiveram no poder a vida inteira e já mostraram muito bem o modelo de sociedade que desejam.
          Prefiro levar meu cavalo manco para a fonte do que seguir de puro-sangue pro deserto.



Antonio Ermírio de Moraes - Empresário à frente do Grupo Votorantim

Extraído do blog do Carlos Santos

Crônica

 A tecnologia a serviço do homem
                          Zenóbio Oliveira

          Estamos na era da modernidade. Época dos avanços tecnológicos, responsáveis pela queda das fronteiras econômicas e sociais do mundo, agora globalizado. No setor das comunicações, por exemplo, essas evoluções foram magníficas: satélite, televisão digital, rádio digital, internet, fibra ótica, GPS, ipod e  o escambau. Para se ter uma idéia desse progresso, basta que façamos a comparação: a notícia do assassinato do presidente dos Estados Unidos, John F. Kennedy, há quarenta e sete anos, levou treze dias para chegar à Europa, enquanto que o primeiro tiro do exército americano no Iraque, de Sadan Hussaim, não demorou treze segundos para ser sabido em todos os continentes. Isso sem contar que o rebolo de dois aviões nas torres do Word Trade Center feito, em 2001, pela patota de Osama Bin Laden, foi transmitido ao vivo e a cores para todos os quadrantes do planeta.
          No meio desse contexto digital, de toda essa virtualização desenfreada fico meio perdido. Mas também, nos tempos da minha infância, remota, lá nos confins de um cafundó sertanejo, a comunicação era feita através do bom e velho recado. Quando queríamos que uma informação fosse levada a um parente mais distante, escrevíamos uma carta - vovô chamava de missiva - ou por outra recorríamos à Rádio Rural de Mossoró e a notícia ganhava o mundo na voz rouca de Seu Mané da Coalhada, pelo programa "Notas e "Avisos".
__ Aviso para o Sítio picadinha, Gov. Dix-Sept. Abílio, sua filha Noca avisa que já está em Mossoró e que deixou a chave de casa debaixo do pilão, assina Noca.
Era batata. pois toda casa do sertão, praticamente, tinha um rádio ABC, A voz de ouro.
          Pois bem, voltando ao assunto em questão, considero o computador o grande responsável por essa unificação de fronteiras, o divisor de águas entre o antigo e o novo no mundo das comunicações, se analisarmos somente esse viés. É ele o maior causador dessa alavancagem da comunicação, mas, de outros setores também, tanto econômicos, quanto sociais, como é o caso, por exemplo, da comercialização de produtos pela internet. E são significativos os benefícios para quem pode contar com uma máquina dessas. Comparando as potencialidades de conhecimento e a facilidade de acesso a produtos e serviços entre os que dispõem e os que não dispõem dessa tecnologia, evidenciamos uma enorme diferença, de avião pra carroça.
          O interessante é que, dispondo uma vez dessa parafernália, você se torna dependente. Sorte, então, de quem contar com um equipamento de ponta, porque longe disso, amigo, você vai está encrencado. Tiro por mim. Tentei realizar uma pesquisa de preços na grande rede. Sentei diante de um computador já bastante velho e, claro, muito ultrapassado, fruto de doação. Um modelo submetido a várias reciclagens operacionais e a gambiarras de acessórios, ou seja, um modelo obsoleto, ressuscitado de algum lixo eletrônico. O gabinete não tinha nem mais a cor original, o processador lento demais, o disco rígido pequeno e muito pouca memória RAM, como diria um amigo, não tem memória, mas uma vaga lembrança.
          O bicho demorou mais de quinze minutos só para abrir a área de trabalho, uns oito para se conectar à rede e outros dez para abrir o site de navegação. Juntando minha lerdeza com a da máquina, foram mais quarenta minutos pra encontrar o produto que, pelo menos estava em promoção, com vinte por cento de desconto. O problema é que quando eu cliquei na opção a tela ficou branca. Esperei um tempo. Nada. Com um bom pedaço apareceu escrito no canto inferior esquerdo da tela:  "fazendo download da imagem". De repente, sem quê nem mais a praga travou. Aquela setinha do mouse, rato em nosso dialeto, nem se bulia. Pra completar apareceu uma caixa de texto com a mensagem: "o programa não está respondendo, precisa ser fechado". Fiquei com a molesta, quem já viu? Seiscentos diabos, arte do cão. Repeti a operação algumas vezes, mas não obtive sucesso.
          O resultado de tudo isso foi que perdi a promoção e a paciência. Depois pra comprar o que eu queria, tive que recorrer aos préstimos de um vendedor de crediário que todo sábado rodava pela comunidade, numa Belina Del Rei, mil novecentos e começo do mundo, equipada com uma boca de ferro, alardeando aos quatro ventos a qualidade dos seus produtos e serviços. Tudo para não abrir mão de encomendar a mercadoria no conforto do meu lar. O ruim foi que o objeto, de extrema necessidade, ficou pelo dobro do preço lá da loja online, porem, com a consolação de ser dividido em vinte e oito suaves prestações, sem entrada e com quarente e cinco dias para dar a primeira. Então, compra realizada com sucesso e, em vez de número de pedido, protocolo de venda, IP de identificação e essa coisa toda, apenas um ZEARNOB OLIVERA na caderneta de fiados de "Seu Quincas da Belina".

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Folclo-rindo

TÁ ESCRITO!
Por Fabiano Régis


Ao sair de um desses restaurantes que vende comida no peso os chamados “self service”, “Chico de Adolfo” um grande amigo de infância, fez o seguinte comentário:
__ ”Está na bíblia sagrada que quando o mundo estiver perto do fim, até a comida do homem será pesada!”
A minha filha que é uma leitora assídua da bíblia disse:
__”Chico eu leio quase que diariamente a bíblia, e nunca vi isso!”
Chico perguntou:
__“escute aqui menina, você já leu a bíblia toda?”.

sábado, 4 de dezembro de 2010

Audiovisual

Estes são alguns dos cenários, no município de Grossos, em que será gravado o DVD do cantor e compositor Genildo Costa.

E aqui está parte da equipe que irá realizar esse projeto.

Crônica

A bodega


Zé de Pedro montou um comércio sortido na sala de casa, no Sítio Aguilhadas, mandou abrir um letreiro bem grande “Mercearia São José – Aqui tem tudo” e, nos primeiros quinze dias, correu a vizinhança fazendo a propaganda na base do boca a boca. Em cada residência do lugar pregava os argumentos em favor de sua venda:
            __Não precisa mais ir bater na rua pra fazer suas compras, porque agora tem a minha mercearia que vende o que você precisar!
Zé tinha razão. A distância pra cidade dava quase uma légua, uma hora de caminhada, em passada de metro, pouca coisa menos no espinhaço dum jumento ligeiro – bicicleta, nesse tempo, era coisa de rico – e se na quitanda dele tinha até, como dizia, “alpargata pra cobra e brida pra gato”, não havia necessidade de perder um tempo danado com uma viagem dessas.
Situada entre as comunidades de Aguilhadas e Cantinho, a bodega de Zé podia também abarcar a freguesia de boa parte do Sítio Gangorrinha, que ficava do outro lado do rio.
Cavaquista, Zé de Pedro foi não foi se estranhava com quem que tentasse diminuir o valor do seu mercadinho. Uma vez virou bicho, porque um freguês, chateado por não ter milho de pipoca, chamou o estabelecimento de bodega de beira de estrada.
__ Só vende Farinha e cachaça!
O troço ficou feio. Troca de impropérios, um “Cão de bico” daqui, um “Infeliz das costas ocas” de lá. A coisa quase vai às vias de fato.
Certo dia, o comerciante estava sentado na calçada em sua cadeira ginga-ginga de fitilo, quando avistou Seu Romão apontar na curva do córrego do velho Panta. Entrou na bodega, espanou o balcão e aguardou a chegada do comprador. Seu Romão era da comunidade de Cafundó, morava um pouco distante das Aguilhadas, sinal de que o negócio estava se expandindo. Alem disso era ele um patriarca de respeito, muito querido nas redondezas, ia agregar valor à quitanda. Porem, toda expectativa do bodegueiro caiu por terra, quando ele notou que o jumentinho preto que conduzia seu virtual freguês não desviou, sequer um palmo, da estrada que levava à cidade. Intrigado, pulou o balcão, correu porta afora e gritou:
__ Seu Romão!
__ Opa! Respondeu o senhorzinho puxando o cabresto do jegue Gavião e dando meia volta para encarar seu interlocutor.
__ O que foi?
__ Pra onde o senhor vai, homem de Deus?
__ Ora, vou pra rua!
__ Vê o quê? Que mal lhe pergunte?
__ Comprar umas coisinhas!
__ E por que não compra aqui mesmo?
__ Aí nessa sua venda tem o que eu quero?
__ Aqui tem de tudo!
__ Tem envelope pra carta?
__ Oh! Rapaz, tem não!
__ Então me deixe seguir minha viagem em paz!


                                                                         Zenóbio Olioveira

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Poesia

Triste.

Vago sem rumo pelas noites frias,
Absorto, penetro à solidão das ruas,
Na alma, o peso das lembranças suas,
No peito um fardo de melancolias.

Latejam, em meu ser, feridas nuas,
De tristezas, de mágoas, de agonias...
Arquejam minhas últimas alegrias,
No desconforto dessas dores cruas.

Na solidão tumular que me devora,
Sinto que o meu sonho estertora,
No leito tosco da infelicidade,

Sobre o lajedo dessas ruas ermas,
Deixo ficar as ilusões enfermas,
Para o socorro d’alguma piedade.

Zenóbio Oliveira

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Poesia

A greve do bispo contra a transposição
Do Rio São Francisco.

Corre a notícia por aqui, na vizinhança,
Que em Cabrobó, no sertão pernambucano,
Um bispo católico apostólico romano,
Um mensageiro da bem-aventurança,
Com a missão de pregar a esperança,
Ta isolado num canto de parede,
Definhando-se dentro de uma rede,
Jejuando numa tal greve de fome,
Contra um bem, que virá pra quem não come,
Não precisar também morrer de sede.

O bispo nos demonstra que essa igreja,
Que tem como política doutrinária,
A igualdade dos povos é contrária,
À redenção da vida sertaneja,
Sua atitude extrema apedreja,
As vidraças da ética do bem,
E os estilhaços que saltam mais além,
Vão ferindo de morte a boa-fé,
O sujeito não comer porque não quer,
Contra um povo que o faz porque não tem.

Pra entender a natureza desta ação,
Faz-se necessária a análise crítica,
A posição do bispo é política?
Ou em defesa ambiental da região?
Na verdade a atual situação,
Adquiriu o caráter do abjeto,
Deixando todo um povo inquieto,
Porque o ato dessa tal greve de fome,
Ganhou, na mídia louca, mais renome,
Que a discussão profunda do projeto.

É bem certo que a tal transposição,
Enfrenta a resistência dos “caciques”
Portanto esses tipos de chiliques,
Devem ser vistos sempre com atenção,
Porque enquanto o povo do sertão,
For tratado como é: a sub-raça,
Bebendo o amargo sobejo dessa taça,
Que os manda-chuvas têm a oferecer,
Com certeza pra sempre irá comer,
A lavagem da cuia da desgraça.

Os coronéis usarão, neste contexto,
Toda espécie de ardil, de artimanha,
Pra garantirem vantagens na barganha,
E manterem o sertanejo no cabresto,
A saúde do rio é um pretexto,
Pra esconder interesses diferentes,
Pois enquanto existirem indigentes,
O osso do poder dos coronéis,
Manterá proletários “cães fiéis”,
Cada vez mais subservientes.

Para esse antagonismo episcopal,
Não há nenhuma base da ciência,
Assim, portanto, é pura incoerência,
Esse tipo de atitude irracional,
O que o nordeste setentrional
Com seu povo não quer ver nesse mote,
É que a fome do dito sacerdote,
Comprometa a feitura dessa obra,
Pra que se possa ter água aqui de sobra,
Enchendo rio, barragem, açude e pote.

O que vai se tirar do São Francisco,
É somente um por cento do volume,
Então, meu Deus, por que tanto ciúme?
O Velho Chico não corre nenhum risco,
Essa água representa um lambisco,
Em relação à vazão de sua foz,
É preciso, então, folgar os nós,
Dessa corda de intriga e presunção,
Exterminar de vez essa ambição,
E não criar por aí falsos heróis.


Em outras regiões deste país,
Transposições já foram efetuadas,
Com vazões bem mais acentuadas,
De mais da metade da matriz,
E os rios não morreram D. Luis,
Ao contrário, continuam muito vivos,
Sem prejuízo algum para os nativos,
Derramando naquelas redondezas,
Águas promissoras de riquezas,
Que afogam projetos paliativos.

Não se nega um gole de cachaça,
Uma xícara de sal e um bom conselho,
Aprendi, quando ainda era fedelho,
Que a água também se dar de graça,
Mesmo sendo a última da cabaça,
Negá-la a quem tem sede o faz cruel,
Ainda que este seja um coronel,
Ou alguém por ele alienado,
Se um gesto assim não for pecado,
É porque não tem justiça lá no céu.

Zenóbio Oliveira

domingo, 28 de novembro de 2010

Relíquia

Em 1985 tivemos a maior cheia da história do Rio Apodi/Mossoró. Morávamos no sitio Aguilhadas, em Gov. Dix-Sept Rosado e a nossa casa ficou submersa nas grandes enxurradas de 11 de abril e 17 de maio. Dois dias antes da água cobrir nossa casa meu pai, conhecido no lugar como Chico Carlos professor, escreveu um texto de desabafo e que estava escondido nos baús lá de casa. Revirando esses baús encontrei esse texto e reproduzo aqui esse desafogo emocional do meu pai. 



Hoje são 9 de abril de 1985. É um dia de grande apreensão. Mesmo assim não estou preocupado, mas tomando minhas providências, porque já estou bem baseado com esses tipos de inverno. Sei, por experiência própria, quando vai inundar. Já passamos por dezenas de aperreios, alguns bem grandes: 1961, 1965, 1967, 1974, 1975, 1980 e agora passamos por mais este, 1985. Já fiz a mesma casa três vezes, quase no mesmo lugar. A conta é só mesmo três. Se tiver que passar pra quatro, tem que mudar. Aqui onde moramos, não dá mais para morar gente, já deu, hoje só serve pra morar cururu, pois que esses animais já se apoderaram das nossas casas desde o verão, aliás, isso foi o primeiro prenúncio. Hoje, 9 de abril, há notícias de um absurdo número de chuvas nas cabeceiras do rio Apodi e não vai ficar só nesses. Daqui para 31 de maio outros se seguirão, a pisada é essa. Mas, como disse, não estou mais preocupado, é que agora já perdi o medo, com todas as angústias que vivi no passado por conta de enchente, já me acostumei. Disparei pra fora de mim toda a carga de emoção que estava sentindo e agora sou um homem que que só teme a miséria enquanto ela não vem, porque depois que ela chega meu amigo, eu faço como diz Chico Jurema:
__Beleléu!

Francisco José de Oliveira
Professor aposentado

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Opinião

A cor do Brasil
            O racismo é um assunto que se manteve historicamente polêmico e que ainda hoje permanece tema de debates em nossa sociedade. Para uma análise mais profunda dessa questão vamos partir de dois pontos chaves: o preconceito e a democracia raciais. Antes, porem de adentrarmos no cerne desse tema, precisamos levantar alguns acontecimentos que marcaram a história da formação do povo brasileiro.
O nosso povo teve sua formação fundamentada em três bases étnicas continentais: uma européia especificada nos portugueses colonizadores, os brancos, outra africana formada pelos negros trazidos para servir de mão de obra escrava e a terceira, a dos índios nativos. O processo formativo se deu por entrechoques classistas, raciais e principalmente interétnicos, que envolveram esses três contingentes – índios, brancos e negros – de forma extremamente conflituosa. Todos esses conflitos, que se configuraram como força motora da história e da organização social brasileiras, culminaram na supremacia dos brancos e conseqüentemente na subjugação de índios e negros.
O intenso contato étnico entre essas três matrizes originais possibilitou a aculturação e os cruzamentos inter-raciais. Uma espécie de caldeamento que misturou índios, negros e brancos, desde o período da colonização, e que resultou numa miscigenação da cultura brasileira. Podemos apontar como resultado desses cruzamentos inter-raciais o caboclo, mistura do branco com o índio, o mulato, mistura do branco com o negro e cafuzo, do negro com o índio. A partir daí, dessa mistura de etnias, é que surgiu a idéia de que o mestiço, produto desse caldeamento, fosse o elemento constitutivo da identidade nacional brasileira.
Essa miscigenação garantiria naturalmente uma unidade para nossa raça, que, composta por mestiços, teria necessariamente igualdade social e jurídica, a chamada democracia racial, consolidada, no Brasil, na década de 1930. A coisa, porem, não é bem assim e aqui compactuamos com o pensamento do sociólogo Ronaldo Sales, da Fundação Joaquim Nabuco, quando este diz que “a miscigenação não conduz à democracia racial porque, na prática, não cria uma categoria homogênea de mestiços, mas, sim, uma hierarquia de subcategorias pela qual quanto mais perto um indivíduo estiver da ‘matriz branca’, maiores são suas chances de inclusão social”.
A bem da verdade, o mito da democracia racial foi construído sobre uma integração subordinada, de maneira progressiva pela abolição da escravatura, pela proclamação da república e pela revolução de 30, como forma de calar os movimentos de luta negros. Atualmente este mito se manifesta nas formas de tratamento – afro-descendente. Nossa sociedade foi conduzida ao regime de cordialidade racial, o chamado regime assimilacionista, em que o negro vai perdendo sua identidade, já que sua negritude se dilui na “branquização” gradativa.
A discriminação racial saiu do geral para o particular. O racismo passou a ser entendido como preconceito isolado. Mas basta que um negro ascenda à classe social superior, como o novo emergente, o preconceito até então latente se manifesta e logo se diz: ele está aqui, mas não é um de nós! isso porque o negro foi estigmatizado pelo estereótipo racial. Se for negro é pobre ou marginal. Lembro de uma história que ouvi de um amigo, quando este dizia que seu pai ao ver um repórter negro na televisão sempre dizia: “olhe aí um negrinho que se deu bem na vida”!  E aí, voltamos ao Ronaldo Sales, quando este afirma que “o estereótipo define, assim, um conjunto de expectativas socialmente estabelecidas e que visam à definição de situações cotidianas”. É o que ele chama de demarcação racial. Isso faz parte de uma competência social, e essa demarcação até pode ser corrigida, no entanto a correção que se é feita em relação às pessoas negras, aponta para uma quebra de expectativa individual, classificando o negro que transpõe o estereótipo como uma exceção: Negro que venceu, negro bem sucedido... são negros de alma branca.
Tudo isso promove a criação de estamentos sociais onde o preconceito se estabelece, impossibilitando a equidade racial, a implantação da justiça e a consolidação da cidadania. A democracia racial até seria possível, mas como bem avalia Darcy Ribeiro, isso só ocorrerá com uma democracia social. Ou há democracia para todos ou não há para ninguém.
Se pensássemos raça pelo seu conceito científico teríamos uma postura democrática verdadeira, porque a ciência classifica raça como espécie, categoria, sem, contudo, atribuir-lhe distinções biológicas e/ou morfológicas. Dizendo de outra forma, raça nada mais é que a condição humana. O que existe é uma classificação cultural que hierarquiza as raças em superiores e inferiores. Em nossa sociedade, infelizmente para negros, índios, pobres, homossexuais, os valores da nossa cultura não traduzem integralmente as idéias da nossa ciência.

                                                                                                                                         Zenóbio Oliveira

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Mídia

Dez estratégias de manipulação midiática
Reproduzido do Blog do Rodrigo Vianna
http://www.rodrigovianna.com.br/outras-palavras/noam-chomsky-10-estrategias-de-manipulacao-midiatica-2.html
O lingüista estadunidense Noam Chomsky elaborou a lista das “10 estratégias de manipulação” através da mídia:
1- A ESTRATÉGIA DA DISTRAÇÃO.
O elemento primordial do controle social é a estratégia da distração que consiste em desviar a atenção do público dos problemas importantes e das mudanças decididas pelas elites políticas e econômicas, mediante a técnica do dilúvio ou inundações de contínuas distrações e de informações insignificantes. A estratégia da distração é igualmente indispensável para impedir ao público de interessar-se pelos conhecimentos essenciais, na área da ciência, da economia, da psicologia, da neurobiologia e da cibernética. “Manter a atenção do público distraída, longe dos verdadeiros problemas sociais, cativada por temas sem importância real. Manter o público ocupado, ocupado, ocupado, sem nenhum tempo para pensar; de volta à granja como os outros animais (citação do texto ‘Armas silenciosas para guerras tranqüilas’)”.
2- CRIAR PROBLEMAS, DEPOIS OFERECER SOLUÇÕES.
Este método também é chamado “problema-reação-solução”. Cria-se um problema, uma “situação” prevista para causar certa reação no público, a fim de que este seja o mandante das medidas que se deseja fazer aceitar. Por exemplo: deixar que se desenvolva ou se intensifique a violência urbana, ou organizar atentados sangrentos, a fim de que o público seja o mandante de leis de segurança e políticas em prejuízo da liberdade. Ou também: criar uma crise econômica para fazer aceitar como um mal necessário o retrocesso dos direitos sociais e o desmantelamento dos serviços públicos.
3- A ESTRATÉGIA DA GRADAÇÃO.
Para fazer com que se aceite uma medida inaceitável, basta aplicá-la gradativamente, a conta-gotas, por anos consecutivos. É dessa maneira que condições socioeconômicas radicalmente novas (neoliberalismo) foram impostas durante as décadas de 1980 e 1990: Estado mínimo, privatizações, precariedade, flexibilidade, desemprego em massa, salários que já não asseguram ingressos decentes, tantas mudanças que haveriam provocado uma revolução se tivessem sido aplicadas de uma só vez.
4- A ESTRATÉGIA DO DEFERIDO.
Outra maneira de se fazer aceitar uma decisão impopular é a de apresentá-la como sendo “dolorosa e necessária”, obtendo a aceitação pública, no momento, para uma aplicação futura. É mais fácil aceitar um sacrifício futuro do que um sacrifício imediato. Primeiro, porque o esforço não é empregado imediatamente. Em seguida, porque o público, a massa, tem sempre a tendência a esperar ingenuamente que “tudo irá melhorar amanhã” e que o sacrifício exigido poderá ser evitado. Isto dá mais tempo ao público para acostumar-se com a idéia de mudança e de aceitá-la com resignação quando chegue o momento.
5- DIRIGIR-SE AO PÚBLICO COMO CRIANÇAS DE BAIXA IDADE.
A maioria da publicidade dirigida ao grande público utiliza discurso, argumentos, personagens e entonação particularmente infantis, muitas vezes próximos à debilidade, como se o espectador fosse um menino de baixa idade ou um deficiente mental. Quanto mais se intente buscar enganar ao espectador, mais se tende a adotar um tom infantilizante. Por quê? “Se você se dirige a uma pessoa como se ela tivesse a idade de 12 anos ou menos, então, em razão da sugestão, ela tenderá, com certa probabilidade, a uma resposta ou reação também desprovida de um sentido crítico como a de uma pessoa de 12 anos ou menos de idade (ver “Armas silenciosas para guerras tranqüilas”)”.
6- UTILIZAR O ASPECTO EMOCIONAL MUITO MAIS DO QUE A REFLEXÃO.
Fazer uso do aspecto emocional é uma técnica clássica para causar um curto circuito na análise racional, e por fim ao sentido critico dos indivíduos. Além do mais, a utilização do registro emocional permite abrir a porta de acesso ao inconsciente para implantar ou enxertar idéias, desejos, medos e temores, compulsões, ou induzir comportamentos…
7- MANTER O PÚBLICO NA IGNORÂNCIA E NA MEDIOCRIDADE.
Fazer com que o público seja incapaz de compreender as tecnologias e os métodos utilizados para seu controle e sua escravidão. “A qualidade da educação dada às classes sociais inferiores deve ser a mais pobre e medíocre possível, de forma que a distância da ignorância que paira entre as classes inferiores às classes sociais superiores seja e permaneça impossível para o alcance das classes inferiores (ver ‘Armas silenciosas para guerras tranqüilas’)”.
8- ESTIMULAR O PÚBLICO A SER COMPLACENTE NA MEDIOCRIDADE.
Promover ao público a achar que é moda o fato de ser estúpido, vulgar e inculto…
9- REFORÇAR A REVOLTA PELA AUTOCULPABILIDADE.
Fazer o indivíduo acreditar que é somente ele o culpado pela sua própria desgraça, por causa da insuficiência de sua inteligência, de suas capacidades, ou de seus esforços. Assim, ao invés de rebelar-se contra o sistema econômico, o individuo se auto-desvalida e culpa-se, o que gera um estado depressivo do qual um dos seus efeitos é a inibição da sua ação. E, sem ação, não há revolução!
10- CONHECER MELHOR OS INDIVÍDUOS DO QUE ELES MESMOS SE CONHECEM.
No transcorrer dos últimos 50 anos, os avanços acelerados da ciência têm gerado crescente brecha entre os conhecimentos do público e aquelas possuídas e utilizadas pelas elites dominantes. Graças à biologia, à neurobiologia e à psicologia aplicada, o “sistema” tem desfrutado de um conhecimento avançado do ser humano, tanto de forma física como psicologicamente. O sistema tem conseguido conhecer melhor o indivíduo comum do que ele mesmo conhece a si mesmo. Isto significa que, na maioria dos casos, o sistema exerce um controle maior e um grande poder sobre os indivíduos do que os indivíduos a si mesmos.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Folclo-rindo



Carnaval.

               Foi em 2005. Fazíamos a cobertura jornalística para a TV Cabugi de um evento denominado de “Carnaval da Terceira Idade”. Embalados pelas marchinhas e frevos, senhores e senhoras recordavam aqueles tempos áureos, tempos em que a festa momesca não tinha o estigma maculador do Bonde do Tigrão, nem o galope devastador da Eguinha Pocotó.
Começamos as entrevistas e a primeira foi com uma senhora vestida de colombina, que já trazia no rosto as perversas marcas dos setenta.
E a pergunta foi:
____A senhora tem alguma boa lembrança do carnaval?
E a resposta:
____Ah meu filho! bom não é aqui! Bom vai ser lá na casa de comadre Bina, nós vamos todo mundo pra lá quando acabar aqui viu?

Vaquejada.

              Foi em Apodi. Um sujeito havia adentrado a festa sem que fosse pelo método convencional, aquele em que você dá um papelzinho e o carinha da portaria deixa você passar. Como ele conseguiu entrar eu não sei, o certo é que ele estava clandestino no ambiente. Foi descoberto pelos seguranças, detido e levado à presença do dono do parque, S. Milton, cabra de poucas palavras e muita ação. Esse homem agarrou o penetra pelo colarinho e fez rebolo dele pra fora. O camarada caiu nos pés do povo que fazia fila pra entrar e pra disfarçar a vergonha, bateu a poeira e disse:
____Esse seu Milton tem umas brincadeiras chocas!!!

Paixão de Cristo.

              Foi em Areia Branca. Era uma apresentação teatral da morte de Jesus e os atores eram homens da cidade: pescadores, estivadores, práticos, trabalhadores de salinas e mulheres do lar. O indivíduo que interpretava o papel de Barrabás, uma figura que mais parecia ter saído de um filme de duendes e feiticeiras, mais feio que pancada na canela, já estava meio grogue, pra lá de GABIDÁ, como dizia meu amigo Guiné, em profundo estado de torpor, ou seja, ligeiramente embriagadíssimo.
             O repórter Fabiano Morais perguntou a Barrabás:
___O que representa pra você interpretar o papel de um criminoso que foi libertado em detrimento da condenação e morte de Jesus Cristo?
Ele respondeu:
___É massa!

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Crônica

                                                          


            NÃO BASTA SER ELEITOR, TEM QUE SABER NADAR!


Certa noite eu armei uma rede num canto de sala, fui até a cozinha, peguei um graúdo taco de rapadura, botei água num copo de alumino sem alça e bastante avariado (coisa de estimação), e deixei debaixo da rede, bem pertinho de mim. Peguei o controle remoto, apontei para a televisão, apertei o dedo, e o programa eleitoral “gratuito” estava lá. Não tive escolha, tive que assistir a propaganda dos candidatos. Alguns atrapalhados, de olhos arregalados, dizendo: ”Vou trabalhar pela educação, saúde, segurança, e emprego! Eu sou um “canidato” ficha limpa! O meu “númuro” é ““.
Na propaganda dos presidenciáveis, um lado dizia que tinha feito muito e ia continuar fazendo. O outro lado dizia que tinha pouca coisa feita, e que iria fazer muito mais. Mas o que me chamou a atenção mesmo foi um “efeito especial”, onde uma bolinha de papel jogada na cabeça de um candidato teve o mesmo impacto que uma ‘banda’ de tijolo!
            Como faz falta a velha cédula de papel! Ali agente escrevia um bocado de desaforo, endereçava a esses candidatos, e tava feito o desabafo! O fato é que naquela noite assisti ao programa até o final, desarmei a rede, e guardei o velho copo de estimação. Passada a campanha, já sabendo quem ganhou e quem perdeu, fui ‘bulir’ na internet e fiquei indignado com o que vi: Uma estudante de São Paulo, incitando a morte aos nordestinos por afogamento! Segundo ela, isso ia fazer um bem danado a São Paulo! Esse desatino me fez pensar: “Se São Paulo ficasse a mais ou menos umas dez léguas daqui, eu ia num carro da linha de manhã, voltava de tarde, só pra ter uma “conversinha” com essa estudante” (para minha segurança, na mala eu levaria um colete salva-vidas). Mas como São Paulo fica a muitas léguas daqui, resolvi mandar e-mail que dizia o seguinte: “Oxente, menina! Você ta com o cão nos couros, é? Você sempre foi tiririca com os nordestinos, ou só fica assim quando o seu candidato perde? Nas redes sociais na internet, muita gente fala mal dos nordestinos, mas fica no anonimato! E você foi mostrar as venta por quê? Ta correndo um boato, que você vai ser chamada aos “carretéis”. Fique sabendo, minha jovem, que neste país, só quem manifesta preconceito contra os nordestinos e nunca é chamado aos “carretéis”, são os roteiristas de telenovelas, programas de humor, cinema, e publicidade!”.
“Mensagem enviada com sucesso”. Até agora estou aguardando uma resposta da moça... Pelo jeito o e-mail foi deletado. Digo, afogado! É, morreu na podridão do rio Tietê.



                                                                                                                                   FABIANO REGIS