sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Esse assunto é FEDERAL!

Kildare de Medeiros Gomes
Jornalista e Professor da UERN


Vez por outra a vida se encarrega de nos chamar à responsabilidade. Da infância para aadolescência, desta para a vida adulta e, por fim, uma vida senil permeada de experiências. Há duas situações em que não podemos nos desviar: ou se fomenta uma relativa análise contínua de nossas ações e atos, ou seremos empurrados pelos fatos e acontecimentos do cotidiano. A segunda opção nem sempre nos chega na calmaria. Do contrário, empurra-nos para as valas de profundos mergulhos interiores dolorosos a fim de promover uma auto-análise forçada. Essa lógica de esperar para ‘ver acontecer’ é a mais utilizada, contudo é a menos recomendada. Devemos adquirir experiências fitando o horizonte de frente.

A vida acadêmica não se furta a essa mesma lógica. Quando não fomentamos as discussões que fazem parte do próprio sistema de ensino superior há que perdermos uma oportunidade institucional que apontará os rumos e o futuro da universidade. Não é diferente em relação a federalização da UERN. Um assunto que deve estar presente nas discussões da academia, sob pena de nos colocarmos na situação de quem não tem
responsabilidade o suficiente para amadurecer idéias e posições acadêmicas.

Furtar-se da discussão sobre a federalização da UERN e acreditar que o atual sistema está tão bem sucedido que, discutir a transmutabilidade institucional do âmbito estadual para o federal, seria um grande disparate. O mais razoável é que possamos discutir e aprofundar o estudo, provocando o debate e aquilatar os resultados a curto, médio e longo prazo com a federalização instituída.

A resistência na discussão do assunto levará a UERN ao patamar do retrocesso e do cerceamento do diálogo, perdendo uma oportunidade singular em sua história, que se vislumbra a nossa frente e que reclama uma análise mais detalhada. Com o estudo da federalização podemos verificar que a universidade rionortegrandense terá vantagens imediatas, tais como: autonomia financeira, garantia de um aporte orçamentário próprio, interiorização do ensino superior federal em cidades do Estado do Rio Grande do Norte (como Açu, Patu, Pau dos Ferros, Caraúbas, Areia Branca, Apodi, Macau, João Câmara, São Miguel, Alexandria, Umarizal, Touros, Caicó – além de Mossoró e Natal), fortalecimento de uma política de pós-graduação e pesquisa (hoje quase inexistente na instituição), além de um avanço considerável na política de ensino superior – sem que haja uma intervenção direta de parlamentares, que sistematicamente vêm intervindo na implantação de cursos de graduação, castrando dessa forma a autonomia da instituição em definir sua política de expansão do ensino.

A federalização da UERN não apagará, como um passe de mágica, todas as suas deficiências a partir do ato que oficializará sua condição de IFES. Mas, certamente, abrirá portas que dificilmente seriam oferecidas pelo Governo do Estado do Rio Grande do Norte. O movimento de estudos da federalização deve ser instituído imediatamente na UERN, para que a universidade possa definir uma posição acerca do tema que está na pauta do dia. É urgente a institucionalização do debate, haja visto que esse tema que trata da federalização da UERN já vem sendo abordado fora da universidade há algum tempo. Nesse caso é importante salientar que a não inclusão da comunidade acadêmica nessa discussão temática representa o pacto da ‘preguiça intelectual’, o medo de confrontar-se com o novo e a falta de capacidade em respeitar o contraditório.

Insano é acharmos que a UERN deverá manter-se no mesmo lugar de sempre, sempre a postos para atender as particularidades de cada um daqueles que se preocupa apenas em atender as suas necessidades. O silêncio induzido sobre a federalização revela apenas a falta de capacidade dos que ainda não entenderam que a UERN precisa crescer e, como instituição de ensino superior, galgar novos e profícuos horizontes. Quem tem medo da federalização? Transferir para a universidade a falta de capacidade de aceitar novos desafios e não evoluir é uma posição extremamente egoísta, de quem não se movimenta e nem busca o crescimento, nem tampouco aceita o sopro da mudança que nos chega sem envio de correspondência antecipatória dos acontecimentos. Embalados pelos ventos da mudança devemos procurar, então, refletir acerca do pensamento chinês do I CHING, abordado por CAPRA, quando nos afirma que: “Depois de uma época de decadência chega o ponto de mutação.”

É chegada a hora de nos despirmos do preconceito, da vaidade, da sacralização narcisística de olhar para o próprio umbigo, e, invertendo essa premissa, aprendermos a trabalhar sempre olhando para frente e para cima, a fim de produzir efeitos positivos na coisa pública. Nada melhor do que desanuviar o pessimismo e acreditar concretamente no avanço, trocando o retrocesso administrativo pela eficiência acadêmica.


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