terça-feira, 9 de novembro de 2010

Um cordel pra você

Vida de estudante.

Comecei estudar aos cinco anos,
Procurando construir o meu futuro,
Não pensei que poderia ser tão duro,
E que viessem tamanhos desenganos,
Mesmo assim, eu tinha em meus planos,
Transformar minha lágrima num sorriso,
E pra fazer do meu inferno um paraíso,
Eu teria que transpor qualquer barreira,
Mas, estudando assim dessa maneira,
Vou acabar perdendo meu juízo.

Numa pequena escola isolada,
Matriculei-me, então, para aprender,
Consoantes, vogais, o á-bê-cê,
E as quatro operações da tabuada,
E com a lição devidamente assimilada,
Fui mandado para o primeiro ano,
Eu me sentia um rei, um soberano,
Achando-me um estudante de primeira,
Mas, estudando assim, dessa maneira,
Vou estourar o tecido craniano.

Com os três primeiros anos terminados,
Fui estudar o quarto na cidade,
E eu vibrava com a felicidade,
De ter alguns sonhos meus realizados,
E com objetivos maiores planejados,
Quando entrei para o ginasial,
Fechei o ciclo do meu primeiro grau,
E a alegria tomou conta de mim,
Mas, sei que estudando tanto assim,
Vou estrompar a máquina cerebral.

Pra cursar o ensino secundário,
Transferi-me, então, pra Mossoró,
Era um tempo ruim de fazer dó,
O dinheiro da gente era precário,
Mas, o filho de um homem proletário,
Acostumado à lida desumana,
Tava estudando com filho de bacana,
E botando muito nego no chinelo,
Mas, estudando assim, eu desmantelo,
A engrenagem da caixa craniana.

Fiquei dois anos na terra de Luzia,
Depois voltei para governador,
O projeto de um bom vereador,
Botou segundo grau na freguesia,
Mas, a luta ainda prosseguia,
Mesmo tendo passado o mais difícil,
E com afinco, vontade e sacrifício,
Fui vencendo as barreiras pouco a pouco,
Mas, estudando assim, eu fico louco,
E acabo amarrado num hospício.

Confesso que vivi horas de tédio,
Imaginando como a vida é cruel,
Mas, sabia que o lápis e o papel,
Seria para mim único remédio,
Conclui, enfim, o nível médio,
E fui para o vestibular com tudo,
Fui correr atrás do meu canudo,
Pois é com um diploma que se medra,
Mas, sei que vou ficar doido de pedra,
Estudando assim, como eu estudo.

Foi então que ingressei na faculdade,
A Educação Física era meu curso,
Muito mais pela falta de recurso,
Do que por vocação ou afinidade,
Porque o que eu queria na verdade,
Era ser engenheiro ou jornalista,
Um homem do direito, um bom jurista,
Ou um advogado de carreira,
Mas, estudando assim, dessa maneira,
Vou acabar no divã de um analista.


Estudos sociais, geografia,
Ciências, matemática, português,
Religião, desenho, arte, inglês,
Química, física, comércio, biologia,
Estudando essas coisas todo dia,
Um ser humano não pode ser tranqüilo,
E o destino final será um asilo,
Ou no pior dos males, um divã,
Ou tomar, pra sempre, DIASEPAN,
Num quartinho qualquer do São Camilo.

E só peço a Deus que eu não padeça,
De nenhuma espécie de loucura,
E que alcance ao fim dessa procura,
Somente a posição que eu mereça,
E pra não ser um louco da cabeça,
De qualquer riqueza eu abdico,
Desta vida é melhor levar um tico,
Desde que mentalmente seja estável,
É melhor ser pobre e ser saudável,
Que ter dinheiro e ser um doido rico.


Nenhum comentário:

Postar um comentário