sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Poesia

Tenho saudades do meu lugar, Aguilhadas, e aí fecho os olhos e vivo das lembranças...


Manhãs de Aguilhadas


Desperto lentamente do meu sono de menino,
Meus olhos modorros apertam-se à luz dilucular,
Vibra em meu tímpano o sonoroso e doce trino,
De um gurinhatã que também veio saudar,
A beleza do crepúsculo matutino,
Sem-par...

Espicho o olhar na direção do rio nevoento,
A água mansa e serena parece estar dormindo,
Alheia ao flutuar do nimbo pardacento,
Que foge ligeiro à luz que vem surgindo,
Em borrifos que logo se dissipam ao vento,
É lindo...

Um raio, incontinênti, golpeia-me a retina,
O Lampejo me desperta dos sonhos infantis,
Para que eu veja o sol abraçar a campina,
Emprestando ao sertão o diverso matiz,
Que o meu olhar de êxtase descortina,
Feliz...

Rolam pelos limbos das folhas de milho,
Derradeiras gotículas do orvalho recente,
Refletindo, à luz da manhã, o alheio brilho,
Como fosse constelação tremeluzente,
No verde céu do milharal lustrilho,
Simplesmente...

A brisa setembrina lança-me ao olfato,
O hálito primaveril da recente florada,
Que impregna a manhã de um cheiro bom de mato,
Não sei de fragrância mais adocicada,
Nada se compara a este aroma grato,
Nada...

Fagueiras manhãs dos meus tempos de criança,
Onde habitou minha gentil felicidade,
Berço do meu sonho, da minha esperança,
Que a vida iníqua me levou com a idade,
Ainda as vejo no espelho da lembrança,
E na saudade.

Zenóbio Oliveira

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