domingo, 26 de maio de 2013

Soneto do sertão


Dois sonetos de Diniz Vitorino.

SERÁ JUSTO?



Esse velho infeliz que desmaiou!
Sem pousada, sem pão, sem agasalho,
Removeu mil montanhas, perlustrou
Pela íngreme vereda do trabalho.

Calejando as mãos magras semeou
Pólen fértil no ventre do cascalho.
Fecundou abundâncias e não passou
Dum fantoche vagante, um espantalho.

Será justo, meu Deus, que esses irmãos
Cavem terras adustas, plantem grãos,
Colham frutos nas glebas esquisitas,

Fartem mesas de loucos indiscretos,
Envelheçam e morram como insetos,
Esmagados nos pés dos parasitas?



SONETO AO FILHO

Filho meu nunca faças o que eu fiz
E o que eu fiz não procure nem saber
Veja bem meu semblante que ele diz
O que eu tenho vergonha de dizer

Não matei, não feri, porque não quis
Ceifar vidas humanas pra viver
Meu mau foi cantar pra ser feliz
Tendo dor pra chorar até morrer

Que loucura meu filho, é ser poeta
Fingir que é filosofo, que é profeta
Sem reunir multidões pregar a esmo

Aos espaços mandar cantos fingidos
Procurar consolar os oprimidos
Quando o mais oprimido sou eu mesmo.

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