quinta-feira, 31 de março de 2011

KADAFFI E AS POTENCIAS OCIDENTAIS

* Frei Betto

As potências ocidentais, lideradas pelos EUA, botam a boca no trombone em defesa dos direitos humanos na Líbia. E as ocupações genocidas do Iraque e do Afeganistão? Quem dobra os sinos por um milhão de mortos no Iraque? Quem conduz à Corte Internacional de Justiça da ONU os assassinos confessos no Afeganistão, os responsáveis por crimes de lesa-humanidade? Por que o Conselho de Segurança da ONU não diz uma palavra contra os massacres praticados contra os povos iraquiano, afegão e palestino?
O interesse dos EUA e da União Europeia não é a defesa dos direitos humanos na Líbia. É assegurar o controle de um território que produz 1,7 milhão de barris de petróleo por dia, dos quais depende a energia de países como Itália, Portugal, Áustria e Irlanda.
O caso do Iraque é exemplar: os EUA inventaram as jamais encontradas "armas de destruição em massa” de Saddam Hussein para exercer o controle sobre um país que é o segundo maior produtor mundial de petróleo – 2,11 milhões de barris por dia, só superado pela Arábia Saudita. E possui uma reserva calculada em 115 bilhões de barris. Soma-se a essa riqueza o fato de ocupar uma posição geográfica estratégica, já que faz fronteiras com Arábia Saudita, Irã, Jordânia, Kwait, Síria e Turquia.
No próximo dia 20 de março completam-se oito anos que os EUA e parceiros invadiram o Iraque sob o pretexto de "estabelecer a democracia”. O governo de Maliki está longe do que possa ser considerado uma democracia. Em fevereiro último, milhares de iraquianos foram às ruas para reivindicar trabalho, pão, eletricidade e água potável. O exército os reprimiu brutalmente, com mortes, detenções arbitrárias e sequestro de ativistas. Nenhuma potência mundial clamou em favor do direitos humanos nem sugeriu que Maliki responda perante tribunais internacionais.
A ONU é, hoje, lamentavelmente, uma instituição desacreditada. Os EUA a utilizam para aprovar resoluções que justifiquem seu papel de polícia global a serviço de um sistema injusto e excludente. Quando a ONU aprova resoluções que contrariam a Casa Branca – como a condenação do bloqueio a Cuba e da opressão dos palestinos – ela simplesmente faz ouvidos moucos.
Kadafi está no poder desde 1969. São 42 anos de ditadura. Por que os EUA e a União Europeia jamais falaram em derrubá-lo? Porque, apesar de seus atentados terroristas, era conveniente manter ali um déspota que atraía investimentos estrangeiros e impedia que chegassem à Europa os imigrantes ilegais da África subsaariana, ou seja, todos os países ao sul do deserto de Saara.
Agora que o povo líbio clama por liberdade, os EUA ocupam posições estratégicas no Mediterrâneo. Barcos anfíbios, aviões e helicópteros são transportados pelos navios de guerra US Ponce e US Kearsarge. A União Europeia, por sua vez, não está preocupada com a democracia na Líbia, e sim em evitar que milhares de refugiados desembarquem em seus países combalidos pela crise financeira.
Temem ainda que a onda libertária que assola os países árabes produtores de petróleo elevem o preço do produto, onerando ainda mais as potências ocidentais, que lutam com dificuldade para vencer a crise do sistema capitalista.
Fala-se em estabelecer uma "zona de exclusão aérea” na Líbia. Isso significa bombardear os aeroportos do país e todas as aeronaves ali estacionadas. E exige o envio de porta-aviões às costas africanas. Em suma: uma nova frente de guerra.
O fato é que a Casa Branca foi surpreendida pelo movimento libertário no mundo árabe e, agora, não sabe como proceder. Era mais cômodo prosseguir cúmplice dos regimes autoritários em troca de fontes de energia, como gás e petróleo. Mas como opor-se ao clamor por democracia e evitar o risco de o governo de tais países cair em mãos de fundamentalistas?
Kadafi chegou ao poder com amplo apoio popular ao derrubar o regime tirânico do rei Idris, em 1969. Mordido pela mosca azul, com o tempo esqueceu todas a promessas libertárias que fizera. Em 1974, valendo-se da recessão mundial, expulsou as empresas ocidentais, expropriou propriedades estrangeiras, e promoveu uma série de reformas progressistas que fizeram melhorar a qualidade de vida dos líbios.
Finda a União Soviética, a partir de 1993 Kadafi deu boas-vindas aos investimentos estrangeiros. Após a queda de Saddam, temendo ser a bola da vez, assinou acordos para erradicar armas de destruição em massa e indenizou vítimas de seus atentados terroristas. Tornou-se feroz caçador de Osama Bin Laden. Pediu ingresso no FMI, criou zonas especiais de livre comércio, abriu o país às transnacionais do petróleo e eliminou os subsídios aos produtos alimentícios de primeira necessidade. Iniciou o processo de privatização da economia, o que fez o desemprego aumentar cerca de 30% e agravar a desigualdade social.
Kadafi mereceu elogios de Tony Blair, Berlusconi, Sarkozy e Zapatero. Como ao Ocidente, desagradou-lhe a derrubada dos governos tirânicos da Tunísia e do Egito. Agora, atira contra um povo desarmado que aspira vê-lo fora do poder.Para as potências ocidentais, Kadafi tornou-se uma carta fora do baralho. O problema, agora, é como derrubá-lo de fato sem abrir uma nova frente de guerra e tornar a Líbia um "protetorado” sob controle da Casa Branca. Se Kadafi resistir, Bin Laden pode ganhar mais um aliado ou, no mínimo, um concorrente em matéria de ameaças terroristas.
O discurso do Ocidente é a democracia. O interesse, o petróleo. E para o capitalismo, só isto interessa: privatizar as fontes de riqueza. Enquanto a lógica do capital predominar sobre a da liberdade, o Ocidente jamais conhecerá verdadeiras democracias, aquelas nas quais a maioria do povo decide os destinos da nação.

* Frei Betto é teólogo e ativista político

terça-feira, 29 de março de 2011

Verbo ad verbum

Fiz um acordo de coexistência pacífica com o tempo: Nem ele me persegue, nem eu fujo dele, um dia a gente se encontra.

Mário Lago

domingo, 27 de março de 2011

Folclo-rindo

Por Fabiano Régis

O CAIXA E A MELANCIA



Era começo de mês. Agência do Banco lotada. A maioria dos clientes eram aposentados e pensionistas do INSS, querendo receber os seus proventos. De repente uma cena inusitada: Se aproxima do guichê de caixa um idoso conduzindo uma melancia muito grande. O cidadão aproximou-se do caixa e disse: -“Roberto”, eu trouxe esta melancia pra você. Fui eu mesmo que plantei na minha vazante.” A melancia era tão grande, que “Roberto” só conseguiu tirar de cima da cabeça do aposentado, com ajuda de outro colega. Com a melancia colocada em segurança (no chão), “Roberto” disse: - “Seu “Juca” eu gosto muito de melancia, muito obrigado”. -”Por nada meu filho” –” Agora eu queria um favorzinho seu”. –” Pois não seu “Juca”.– “Pague o meu beneficio.” –” Claro seu “Juca”, cadê o cartão?” Ao passar o cartão na maquineta, percebeu que o pagamento era no último dia. Constrangido o colega disse:-“ Seu “Juca”, infelizmente o dia do seu pagamento não é hoje”. De pronto o seu “Juca respondeu: -“Sendo assim meu filho, eu quero a minha melancia de volta.”

quinta-feira, 24 de março de 2011

Notícias da guerra

Por Zenóbio Oliveira


Vejo em destaque no alto do seu pódio,
O nefando líder da fatídica gangue,
A ordenar o trágico bangue-bangue,
Num cântico mortal de som pouco melódio.

E uma voz solene narra o episódio,
E a imagem passeia entre poças de sangue,
Esbarrando, em close, nalgum rosto exangue,
Que ainda exibe última expressão de ódio.

É a televisão do século vinte e um,
Mostrando assim, da forma mais comum,
A guerra insana em nome do poder,

E a paz gerada no ventre dos meus sonhos,
Foi atacada por vírus tão medonhos,
Que pereceu bem antes de nascer.

P.S - Sangue por petróleo

Potiguar e Abc

Potiguar

Um time medíocre. Quem viu o jogo de ontem, no estádio Leonardo Nogueira, entre Potiguar e ABC, já pode compreender o baixo rendimento do Time Macho no campeonato estadual deste ano. Na soma geral dos turnos, o Potiguar está com nove pontos, à frente do Corintians de Caicó com oito e Centenário de Pau dos Ferros, o bônus, com dois pontos.

No jogo diante do ABC, abrindo o segundo turno, o time, de técnico novo, atuou no esquema 3-6-1 e com exceção de uma bola chutada no travessão, não fez nada para merecer a vitória.

A torcida ainda vai sofrer um bocado. O time não tem qualidade e pode ser considerado um dos mais fracos da história.

ABC

O time do ABC de Natal também é muito ruim, mas o que difere do Potiguar é que este possui alguns valores individuais com qualidade técnica suficiente para decidir, considerando o nível atual do nosso futebol.

Arbitragem

Já ouvi por diversas vezes elogios de alguns cronistas esportivos de nossa imprensa ao árbitro Suelson Diógenes. Ontem mesmo em entrevista a Intertv Cabugi, o presidente da Federação Norteriograndense de Futebol José Vanildo citou o homem como referência do apito no Nordeste. Confesso que já vi alguns jogos apitados por Diógenes e não consegui enxergar essa perfeição. Muito pelo contrário. Peca nos aspectos técnico e disciplinar. Na partida de ontem deixou de punir o volante Bileu, do ABC, que fez quinhentas faltas e cometeu uma lambança daquelas. Foram pelo menos três erros em um único lance em que o jogador Everton Grau do Potiguar roubou a bola do adversário e foi puxado na área. Alem de não marcar a penalidade, o juizão inverteu a falta e ainda aplicou cartão amarelo no jogador do alvirrubro. Se Suelson é nosso melhor árbitro, imaginem aí como não será o pior.

segunda-feira, 21 de março de 2011

Poeta Luiz Campos

O poeta e violeiro Luiz Campos pediu a um caçador amigo, um quilo de carne de veado e recebeu a negativa do mesmo, que justificou o não com a história de que já havia prometido tudo a um outro amigo, empresário.
Passados alguns dias, Luiz cantava num bar, na Lagoa do Mato, quando o homem, o dito caçador o interpelou pedindo um mote. Luiz então aproveitou a ocasião e cantou:

Nada dou de valor ao caçador,
Que de amizade leal não tem um tico,
Só bajula um sujeito quando é rico,
E esquece o poeta cantador,
Pois matou um veado corredor,
E um quilo da carne não me deu,
Quando acaba diz que é amigo meu,
Mas é corno, é sacana e é safado,
É veado que mata outro veado,
e vai dar prum veado amigo seu.

quinta-feira, 17 de março de 2011

Mal Tirano.

Por Zenóbio Oliveira


As palavras que se geram em ventre insano,
Das mentes podres e irracionais,
Ganham vida nas bocas imorais,
E perpetuam-se de vez. (Oh mal tirano).

Alimentadas pelo próprio engano,
Agigantam-se em formas colossais,
E tornam-se verdades surreais,
À custa, sempre, do alheio dano.

E hoje também me torno vítima,
Da palavra suja e ilegítima,
Do discurso ímprobo, da sandice,

Procurando no livro da razão,
O silogismo da minha alegação,
Pra poder desdizer o que eu não disse.

quarta-feira, 16 de março de 2011

LUTO

Estamos, eu e minha família, profundamente consternados com a morte do nosso ente querido Sebastião. Bastião, como o chamávamos, era o irmão caçula de minha mãe, um homem por quem eu (tinha) tenho muito apreço e consideração, além de lhe querer muito bem. Nosso relacionamento sempre foi muito bom, principalmente nos meus tempos de infância e adolescência.
Vou sentir saudades.
Descance em paz meu velho.

Zenóbio Oliveira.

domingo, 13 de março de 2011

O forró e Maciel Melo

A versão de que a palavra forró seria uma adaptação da expressão inglesa "for all', foi uma das primeiras tentativas de se explicar a origem desse estilo musical tipicamente nordestino. Segundo esta versão, os ingleses da companhia que montou as ferrovias no sertão do Nordeste, promoviam festas nos finais de semana e colocavam na porta do salão uma placa na qual escreviam "For all", para avisar que a festa era para todo mundo. Esta versão, no entanto, não resiste a nenhuma análise. Primeiro, porque não era da natureza dos esnobes britânicos misturarem-se aos peões brasileiros, seus empregados, segundo porque a grande maioria destes peões não sabia ler.
A versão mais aceita é a de que Forró vem de forrobodó, termo que designa as festas do povo. Segundo Luís da Câmara Cascudo, em seu Dicionário do Folclore Brasileiro, "o termo tem curso no Ceará, para determinar os bailes da canalha". Mas forrobodó era empregado com o mesmo sentido no Rio do Janeiro e era utilizado pelo menos desde 1833 e até bem antes disso em Portugal. Forró, ou samba, eram os bailes dos cabras nordestinos, onde se dançavam coco, arrasta-pé, xote e marchinha-de-roda. É comum o termo que designa a festa acabar como nome de gênero musical, como acontece com o próprio samba, com o fado, com o maxixe e o frevo. Com o forró não foi diferente. No início dos anos 50, no Nordeste, passou-se a chamar de forró o amálgama de ritmos estilizados por Luiz Gonzaga e seus parceiros, porém somente em 1956 foi laçando o primeiro disco em que forró aparece na etiqueta como um gênero. Este disco foi gravado, na RGE, por Zito Borborema e seus Cabras da Peste, trazendo no lado A do LP, "Forró no Alecrim", de Venâncio e Corumbá.
Zito Borborema, paraibano de Campina Grande, é da segunda geração do forró. Assim como Marinês, Abdias, Dominguinhos, ele também foi apadrinhado por Luiz Gonzaga, em cujo conjunto tocou até formar seu próprio trio. Por esta época, 1956, surgiu uma leva de autores de forró, onde podem ser destacados o maranhense João do Vale, o alagoano José Cândido e os pernambucanos Rosil Cavalcanti e Onildo Almeida. E mais outro cantor procedeu a uma nova estilização dos ritmos do Nordeste, o paraibano Jackson do Pandeiro, que acrescentou instrumentos de sopro e percussão, ao tripé
sanfona/triângulo/zabumba. Cantando com uma divisão rítmica, que influenciaria muita gente, como os contemporâneos, Jacinto Silva, Genival Lacerda e Ary Lobo, e mais tarde, Gilberto Gil, Alceu Valença e outros. O forró consolidou-se como a grande música do povo nordestino. Deixou de ser apenas sazonal, ou seja, tocada em época junina, para tornar-se permanente em qualquer baile de dia santo, feriado ou final de semana. Chegou a ser o gênero musical dominante nas emissoras da região, dividindo espaço com os sambas-canção e os bolerões.

Maciel Melo

Maciel Melo nasceu em Iguaraci, cidade do sertão pernambucano, a 363 km do Recife. O pai, Heleno Louro, tocador de sanfona, ensinou-lhe desde cedo que o autêntico forró pé-de-serra não se limita a sanfona, zabumba e triângulo. Vale utilizar também o violão com baixaria, os instrumentos de sopro, o cavaquinho, o banjo e até a guitarra elétrica.
Maciel já entrou na história da música nordestina com o clássico “Caboclo Sonhador”, um sucesso com Flávio José e Fagner. Virou uma referência para onde se voltam tantos cantores do gênero, que vivem na região, ou os que emigraram para o sudeste: Xangai, Santanna, os citados Flávio José e Fagner, Zé Ramalho, Elba Ramalho.
O primeiro disco de Maciel Melo, “Desafio Das Léguas”, foi lançado em 1989. Um disco ousado para um desconhecido, com participações de Vital Farias, Xangai, Dominguinhos e Dércio Marques, que comprovam o seu talento.
Sete anos depois o álbum "Janelas" deu continuidade ao trabalho iniciado com dificuldade. No ano seguinte (1997) ele gravou o disco "Retinas". Em 1998 o artista participou do primeiro número da coletânea Só Forró, pela Kuarup. O álbum conta com a participação de grandes artistas nacionais, como Sivuca, Xangai, Dominguinhos, Marinês e Petrúcio Amorim. Em 1999 Maciel gravou o disco "Jeito Maroto"; em 2000, "Isso Vale um Abraço"; em 2001 lançou "Acelerando o Coração". Ainda no mesmo ano ele emprestou seu talento à coletânea Só Forró II (Kuarup). Nesse CD Maciel Melo gravou ao lado de nomes como Jackson Antunes, Juraildes da Cruz, Heraldo do Monte, Dominguinhos e Genaro. Já “O Solado da Chinela” foi gravado em 2002.
A temática de suas letras é fundamental para a continuidade do forró que teve as bases assentadas por Gonzagão. Não menos importante, o forró de Maciel Melo é feito para dançar. Não tem nada de forró pé-de-serra de ocasião, universitário da moda, moderno produzido em linha de montagem. É simplesmente atemporal, como toda grande música que se preze.

Depoimentos de Maciel Melo

A fogueira ta se apagando...

Hoje, o moderno é não falar de rimas. Quando Zé Dantas empunhava a pena para escrever um verso, o universo inteiro a ele se curvava, e o rei chegava com a melodia, um baião surgia, e o povo cantava, e o povo ficava naquela euforia, uma fogueira acendia, uma moça gritava, o fole roncava, era aquela alegria. A fogueira de hoje seu moço, mal acende se apaga, não tem mais Gonzaga, não tem mais poesia.
Humberto Teixeira, Zé Dantas, Zé Marcolino, João Silva, e tantos outros menestréis que fizeram escrita para a majestosa obra de Luiz Gonzaga, também merecem o nosso apreço, naquele cantinho da história da música popular brasileira, e essencialmente nordestina.
Para se cantar Luiz Gonzaga, é preciso ter no sangue, a coragem de um povo farto de sol, à espera de que um dia a chuva venha. É preciso saber das crenças, dos costumes e ter o sotaque de quem traz na alma, a aridez aguda de um povo sofrido que depois de tudo ainda continua sendo forte. É preciso ser rasgadamente sertanejo e deixar se levar na dança pelos braços de uma cabocla sestrosa e suadeira, daquelas que se derrete toda quando entra num forró.
Gonzaga, não era só um sanfoneiro. Era um gênio. O rei do baião. O ídolo da gente. E quando se aproximava o mês de junho, lá vinha ele entoando alguma cantiga geralmente em parceria com Zé Dantas, Zé Marcolino, Humberto Teixeira, Onildo Almeida, e outros tantos vates que se eu for citar aqui, esse texto que não é artigo porra nenhuma, porque não tenho catilogência suficiente para tanto, vai ficar grande que só a BESTA FUBANA. Ê tempinho bom! É por isso que digo: Luiz Gonzaga era um divisor de águas. Dividiu a história da música brasileira em antes e depois dele. Era música popular e não música pra pular. Ê! Saudade. Saudade das machinhas juninas que Paulo Carvalho tanto sente falta, e por isso, com toda razão, não dar nenhum incentivo a essa folclorização urbana e que infelizmente, Pernambuco ainda insiste em absorver qualquer merda que vem de fora, mesmo sabendo do potencial interno bruto: bruto no sentido de autenticidade, não no sentido da ignorância que tanto se propaga. Que Pernambuco ta em num sei que lugar em índice de violência. Nós não somos coniventes com isso. O problema é dos cegos que não enxergam a razão desse povo. O meu Brasil é Pernambucano e a nossa música é universal. O buraco é mais em baixo companheiro.
É aí, que eu me encaixo, e assim me acho seguidor e fiel discípulo da imensa sabedoria desse cantador. Podem me chamar de cafona, eu gosto é de sanfona, eu gosto é de forró.

A música de protesto

A música de protesto tem sempre um lugar reservado em minhas composições, sem necessariamente ser panfletária, mesmo porque não vivenciei o auge da ditadura militar. Era muito menino na época. Além disso, lá no sertão de Iguaraci, os meios de comunicação eram precários e, como sempre, dominados pelos manda-chuvas, que nunca choviam nada. Sempre estive preocupado com as questões sociais, levantando a bandeira do povo de minha terra, hasteando sempre a coerência e o direito de cada cidadão, proclamando-os em versos como fiz, por exemplo, em “Meninos do sertão”, uma letra minha em parceria com o poeta Petrúcio Amorim, que diz: “Quando me lembro dos meninos do Sertão/ beijando flores era eu em meu jardim/ qual borboletas bailarinas de quintais / e um arco-íris de esperança só pra mim / e a liberdade feito um pássaro de seda/ voava alto nos meus planos de menino / nas travessuras imitava meus heróis/ Luiz Gonzaga, Lampião e Vitalino. / Quando me lembro dos meninos do sertão/ vejo Hiroxima nos olhares infantis/ vejo a essência da desigualdade humana / num verdadeiro calabouço dos guris / Meu coração bate calado enquanto choro / a Deus imploro mais carinho e atenção / tirai a canga do pescoço dessa gente / que só precisa de amor trabalho e pão. / Adeus meu carro de boi / Adeus pau-de-arara / no ano 2000 que mal virá / cola, Carandiru, Candelária / quando isso vai parar...”. Pois é. nos meus versos, eu declamo, clamo e reclamo se preciso for. Defensor ferrenho dos meus ideais, sempre estive junto aos que lutam pelo direito de existir, e não escondo minha vontade de ver um dia um Brasil de fato e de direito como sempre sonhamos. Estive presente nos movimentos mais importantes de minha época: Movimento pelas diretas, nas campanhas que elevaram a classe trabalhadora, nos movimentos estudantis, já no finalzinho dos anos 70, enfim... Para mim, a falta de ética é algo que abomino. Continuo acreditando em tudo que apostei, não me arrependo de nada, faria tudo novamente. Sei que ainda existem pessoas sérias e capazes de honrar a crença sem tirar proveito da carência do povo brasileiro.

Migalhas

(Maciel Melo)

Não me venha com migalhas de sorriso
Não deboche nem zombe desse povo
Que só quer que amanheça um sol mais novo
A acordar com a luz de um novo dia

Quando a flâmula tremula em rebeldia
Renegados semblantes causam estorvo
Tudo sem, tudo nada, tudo torvo
E a força do bem se principia

Estilhaços de vida rasgam o pano
Desse circo patético e desumano
De algozes gentis fenomenais

Não me venha com migalhas de sobejo
Não maltrate esse povo sertanejo
Se não for pra ajudar nos deixe em paz.

sexta-feira, 11 de março de 2011

Folclo-rindo

Era uma partida de futebol, lá nas Aguilhadas, em Gov. Dix-Sept Rosado, entre o Potiguar de Secundo e o Flamengo de Tião Carlos. Jogo quente, pegado. Uma rivalidade de tirar lasca, como se diz nas redondezas. Zé Carlos, do flamengo, recebe a bola junto à lateral do campo. Vaval de Zé Viana, do Potiguar, corre pra fazer a marcação. Zé Carlos, não ver a aproximação do adversário, mas é avisado pelo seu treinador, Tião Carlos:

__Zé! Olhe o ladrão! (gíria do futebol).

Vaval virou bicho. Abandonou a jogada e partiu pra cima de Tião, com o dedo em riste, perguntando:

__Tião, o que foi que eu roubei seu, pra você ta me chamando de ladrão?




Enchente


Era o ano de 1985. Os flagelados da enchente do Rio Mossoró - era assim que o povo do governo de JAJÁ nos chamava - limpavam a lama de suas casas, numa espécie de mutirão. As conversas sobre a possibilidade de novas inundações vinham de toda parte. De repente chega lá em casa Lucimar de Xoxó, com a notícia de chuvas na cabeceira do rio. Ofegante e com sua gagueira congênita ele começa:

__É B..bom n..nem ti..ti..rar ma..mais es..essa la..la..lama!

__Por que? Pergunta tia Ezilda.

__Cho..cho..choveu ma..ma..mais de cem me...me...tro em Ca..ca..Caraúbas!

Como cem metros de chuva é água pra ninguém botar defeito, minha tia arregalou logo os olhos, estupefata.

___Mais vixe, menino, quem disse uma coisa dessa?

___O ra..rádio!

O pai dele, Xoxó, vendo o terror nos olhos de todo mundo tentou corrigir a barbaridade que o menino havia dito:

__Num foi cem metro não! Esse menino é doido, num sabe das coisa não! __ Num é cem metro não, lezado, é cem quilômetro!

domingo, 6 de março de 2011

Vou não, quero não, posso não, não agüento a música não.

Por Zenóbio Oliveira

Na festa de rebolations e eguinhas,
De Saias, Aviões e outros elétricos,
Vi meus passos em falso, assimétricos,
Sucumbirem ao cemitério das marchinhas,
Em meio ao remexido das bundinhas,
E aos pocotós das loiras e morenas,
Eu, arlequim, chorei as minhas penas,
E as colombinas e confetes de anos idos,
Eram miragens nos olhos entupidos,
Com melaços, espumas e maizenas.

Cultura

Por Zenóbio Oliveira

A cultura de um povo é um legado,
De valores, conceitos, tradições,
A herança de antigas gerações,
Deixada como um bem sacramentado,
É o alicerce firme do passado,
Como base da peculiaridade,
Que serve de sustentabilidade,
Às paredes construídas no presente,
Aonde se vai fincar futuramente,
O patrimônio da sua identidade.

Distinguem-se os grupos culturais,
Por padrões de costumes e de crenças,
Respeitando também as diferenças,
Dos seus valores étnicos e morais,
Dos seus preceitos espirituais,
E dos valores, por eles, arraigados,
São princípios que os antepassados,
Deixaram ao seu povo em memória,
Pra que a cultura mantenha sua história,
Face aos modismos vãos, globalizados.

sábado, 5 de março de 2011

JOGRAL

Por Zenóbio Oliveira


Tema - Carnaval

Entra a música “Máscara Negra” – roda 20 segundos e vai a BG.

Loc. 1

Eh carnaval compade! Que saudade!
Inda se atreve a ir no frevo?

Loc. 2

Se me atrevo? Ora mais!
Frevo, marchinha!

Loc. 3 - Contraponto

Mas rapaz! Hoje é dança da bundinha!

Loc. 4

É o creu!

Loc. 1

Meu Deus do céu!
Beleléu!

Loc. 2 - Saudosismo

Carnaval, o que foi... o que é...

Loc. 3

É Funk, é Axé,
Timbalada!

Loc. 1

Nada! É uma praga!

Loc. 4

Praga?

Loc. 2

Cadê Chiquinha Gonzaga?

Loc. 1

E capiba? E Zé Ketti?

Loc. 3

Ei coroa, hoje é Chiclete!

Loc. 4

Cláudia leite! Margarete!

Loc. 3

É Ivete!
Poeira, poeira...

Loc. 2

Você ta de brincadeira!

Loc. 1

Pra quem teve jardineira!
Enh compade – (só sussurro incompreensível)

Loc. 3

Isso é museu!
Hoje é Bonde do Tigrão!

Loc. 2

Presta mais não!

Loc. 4

Num presta?

É festa!

Loc. 3

E então?

Eu quero é pular, brincar, sambar...

Sobe som da música – “Eu quero é botar meu bloco na rua”...

terça-feira, 1 de março de 2011

Contradições.

Por Zenóbio Oliveira

Disseram-me um dia que o amor,
Seria a causa dos meus sacrifícios,
Das renúncias que me causam dor,
E das entregas que se tornam vícios.

Disseram-me, também, que os meus suplícios,
São meus caminhos pra o jardim em flor,
E que são todos os meus benefícios,
As conseqüências do meu dissabor.

Mas não pude seguir esses caminhos,
Simplesmente por não poder acreditar,
Que é preciso andar sobre os espinhos,

Para ao jardim em flor poder chegar,
E sem renúncias meus atos são mesquinhos,
Talvez porque nunca aprendi a amar.

Voltando

Estive com dois problemas nos útimos dias: a falta de tempo e a falta de internet aqui na minha choupana. Mas estou de volta com as atualizações. Em breve o blog vai postar notícias, na medida do possível. Por hora vamos de poesia.