domingo, 9 de novembro de 2014

Cordel


Eita bixiga taboca
Isso só tem no sertão.
Zenóbio Oliveira

Xarope de Malvarisco,
Pra curar tosse puxada,
Um rosário na portada,
Pra proteger de corisco,
Um cordão de São Francisco,
Pra frear assombração,
Catuaba com limão,
Pra animar velho coroca,
Eita bixiga taboca,
Isso só tem no sertão.

Um pirão de Sabaru,
Na hora da gororoba,
Café de Mangirioba,
Com o mel do Capuxu,
Melador de Cumaru,
Pra curar constipação,
Uma piraca a carvão,
Pra espantar muriçoca,
Eita bixiga taboca,
Isso só tem no sertão.

Uma tigela de fuba,
Peneirada em urupemba,
Um cavalo de catemba,
De talo de carnaúba,
Reza braba que derruba,
Mau-olhado e maldição,
Duas moças num pilão,
Caçulando uma paçoca
Eita bixiga taboca
Isso só tem no sertão.

O povo escutando um jogo,
Num rádio antigo da SEMP,
Um bule em riba da trempe,
Com café pegando fogo,
Uma galinha com gogo,
Babando que só o cão,
Um galo ciscando o chão,
Doido pra achar minhoca,
Eita bixiga taboca,
Isso só tem no sertão.

Tarrafa malha miúda,
Pra pesca de sabaru,
Banha de tejuaçu,
Pra dor de garganta aguda,
O chá da folha de arruda,
Pra descer menstruação,
Ninho de palha no chão,
Pra deitar galinha choca,
Eita bixiga taboca,
Isso só tem no sertão.

Um baú na camarinha,
E um monte de troço dentro,
Uma horta de coentro,
No terreiro da cozinha,
Um poleiro de galinha,
Nos dois ganchos dum pinhão,
E o roçado de feijão,
Precisando duma broca,
Eita bixiga taboca,
Isso só tem no sertão.

Quixó, fojo, landuá,
Arataca e arapuca,
Tocaia, facho, cumbuca,
Mundé de pegar preá,
Anzol, rede de pescar,
Negaça, sangra, alçapão,
Garrucha, funda, facão,
E espingarda de soca,
Eita bixiga taboca,
Isso só tem no sertão.


Batata de macambira,
Pra fazer ração bovina,
Uma cerca de faxina,
Amarrada com embira,
Cortiço de Jandaíra,
Pendurado no oitão,
Um pinto na plantação,
Pinicando tamboroca,
Eita bixiga taboca,
Isso só tem no sertão.

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