terça-feira, 19 de janeiro de 2016

RIMANDO

Invernia pueril
Zenóbio Oliveira

A nuvem no céu se move,
E abundante goteja,
No chão do meu eu criança,
Nos canteiros da lembrança,
Saudade é flor que viceja,
Todas as vezes que chove.

Vejo as manhãs borrifadas,
Do lugarejo pacato,
Sinto o cheiro bom do mato,
Do sertão das Aguilhadas...

Em revoltosos balanços,
De correntes opulentas,
O rio abaixo se expande,
Eu nado na Pedra Grande,
Por essas águas barrentas,
Rodopiando em remansos.

No imo das enxurradas,
Meu lembramento mergulha,
E minha alma é borbulha,
Do rio das Aguilhadas...

Toda campina se inunda,
Com o brilho verde do pasto,
Que vai além do que vejo,
Cada atalho sertanejo,
Tem a impressão de um rasto,
Dum pé que na lama afunda.

Minhas infantes passadas,
Neste gentil chão, impressas,
São marcações às avessas,
Na alma das Aguilhadas...

A minha vida é viúva,
Destes momentos felizes,
Que minha saudade encerra,
Minh ’alma é feita de terra,
E tem profundas raízes,
Com esperanças de chuva.

Pelas férteis semeadas,
Pululam tempos risonhos,
Como pululam meus sonhos,
Nas roças das Aguilhadas.

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