sábado, 16 de junho de 2012

VERBO AD VERBUM


América da Borborema
Marcos Bezerra, do Novo Jornal

No início de minha carreira jornalística fui repórter esportivo da TV Cabugi. Dia sim, o outro também, estava correndo atrás de ABC ou América, ou os dois ao mesmo tempo quando a pauta exigia. Os treinos do alvirrubro eram realizados na Pousada do Atleta, ali onde hoje funciona o Hiper Ponta Negra, e os do alvinegro na Vila Olímpica. O antigo campo foi ocupado por um condomínio de luxo, mas a sede continua lá servindo de alojamento para as categorias de base do clube. 
Eram tempos difíceis, aqueles. Do rico América e do pobre ABC. O primeiro, além do campo de treino num lugar bem mais valorizado, tinha sua sede da Rodrigues Alves, no nobre bairro do Tirol. E o ABC tinha o que? Um terreno grande com um buraco impossível de ser tapado, como diziam à época. Nos treinos, quando queriam sacanear com os zeladores que atuavam como gandulas, os jogadores miravam a depressão. No terreno de dunas, a bola só ia voltar 15 minutos depois. 
Mas, apesar da diferença patrimonial, os times se equivaliam em campo, num Machadão de públicos mirrados. Tanto espaço para quase nada. Lembro um campeonato que começou com cinco clubes, perdeu um – se não me engano o São Gonçalo – e depois o quarto participante, o Alecrim. Ficaram ABC, América e Atlético, o tal Moleque Travesso que os locutores da Rádio Cabugi, Hélio Câmara com seu vozeirão à frente, apregoavam, mas que nunca vi aprontar travessura nenhuma. Tinha ABC e América numa semana e América e ABC na outra. Não lembro o ano nem quem foi o campeão. Até tentei pesquisar, mas o site da Federação Norte-rio-grandense de Futebol não traz muito da história da principal competição potiguar. Na parte destinada à memória, só existe um breve “em breve”. E nem o sabe tudo do Google me respondeu. 
Naquele campeonato ouvíamos os gritos dos técnicos com os jogadores; destes reclamando faltas e chingando os adversários e mesmo os comentários dos torcedores, poucos metros abaixo das cabines de imprensa. Por tudo isso, e por não ter aprendido a torcer nem pelo ABC nem pelo América, ao mesmo tempo que torço pelos dois na segunda divisão do Campeonato Brasileiro, acabo sem entender como o “rico” não pode ceder seu estádio para o “pobre” da vez. Sem contar que a falta deste palco é consequência de uma Copa do Mundo. E o mundo do futebol também dá voltas. Claro que a pressão da torcida falou mais alto. Talvez por medo de ver o maior adversário fazer sucesso em sua própria casa. 
Como não vai poder contar com o Nazarenão no returno, o América ensaia jogar em Campina Grande; ironicamente, no estádio Amigão. Quem sabe não é adotado como representante da Paraíba na Segundona. De América de Japecanga, como tiram sarro os abecedistas, para América da Borborema, não deixa de ser um progresso. 

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