segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Poesia do Sertão


BIBIA DE JOÃO BRAZ
Louro Branco

Passei déis ano casado
Com Bibia de João Braz
Acochado muito mais
Do que cobra de viado
Nunca tivemo um danado
Nunca quizemo brigá
Jurei nunca laigá
Pro fim, fiquei sem muié
Que muié e cascavé
So pega sem avisá
Eu andando um certo dia
Lá pras banda de Assaré
Cheguei em casa de pé
Cacei, num achei Bibia
Preguntei a minha tia
— Cadê a minha criôla ?
A véia matuta e tola
Me dixe escorando a fonte
Bibia fugiu antonte
Cum “seu”Raimundo Carrôla
Eu dixe será possive
Bibia fez deu boi?
A véia dixe: — mai foi!
Fez um papé muito horrive
Só do desgosto que tive
O mundo ficou azul
O norte passou pro sul
Senti uma coisa choca
Que me deu uma frivioca
Do gogó pro mucumbú
Fui à mala que nós tinha
Coberta com uma estopa
Fui procurá nossa roupa
Quase caí na camarinha
Achei toda a roupa minha
Mas fartava a de Bibia
Minhas roupa sem as dela
Só se parece eu sem ela
Na cama que nóis drumia
Um parpite me bateu
Fui à outra maletinha
Inda achei a cuequinha
Dela tumá banho mais eu
Num era mais pareceu
Cum ela quando vestia
Aí, não, quase eu morria!
Pinotei pelo terreiro
Inda dei catorze cheiro
Na cueca de Bibia
Ainda fui na cancela
Da nossa roça pequena
Vi a jumenta morena
Que nóis botava água nela
Aí rescordei mais ela
Das água que nós trazia
Me deu uma agonia
Uma coisa tão nojenta
Ainda bejei a jumenta
Pensando que era Bibia
Eu padeço todo dia
É tão grande o meu martrato
Quando vô cumê um prato
Sobra o prato de Bibia
Na cama é uma agonia
Quando tem eu farta ela
Até a rede amarela
Tá pensa que tá danada
Cum eu na minha berada
Sabrando a berada dela
Pro caso dum vagabundo
Tô numa vida medonha
E aquela sem-vergonha
Sendo ruim no meio do mundo
Ai, meu Deus! Se “seu”Raimundo
Tomasse ódio de Bibia
E ela vortasse um dia
Nem que lascasse o meu nome
Do jeito que eu tô cum fome
Se ela vortasse, eu queria.

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