quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Opinião


Ponto de vista
Marcos Bezerra, do Novo Jornal

Chamo de Principado de Emaús, o bairro panamirinense onde moro, nas franjas de Natal. Lugar de ruas sossegadas que, um dia, há de ter São Nivaldo Monte como padroeiro. 
A BR-101 divide o bairro em dois e, do meu lado, Aeroporto Augusto Severo, Base Aérea de Natal e a Mata do Catre fazem do lugar um nicho. Só vai lá quem tem negócio. Da minha janela de apartamento popular, avisto e respiro o pedacinho de Mata Atlântica protegido pela Aeronáutica. Santa proteção! 
De incômodo só um ou outro tiro disparado no treinamento dos recrutas. Menos mal que o orçamento parece ser curto – calculo pelo número de tiros e fico a pensar na qualidade dos soldados formados em nossas Forças Armadas. Só se aprende a atirar atirando. Sei disso por experiência própria nas barraquinhas de tiro ao alvo da vida. R$ 2, cinco chumbinhos. Mas, em lugar de cinco chocolates sem gosto para levar para casa, dois ou três pirulitos derrubados pelo palito. Marcos “tiro certo” só precisa de um tempo para se acostumar à mira das espingardas de ar comprimido! Para não ser injusto, acredito não ser culpa dos comandantes militares, que vivem a pedir mais verbas para treinar suas tropas. 
Mas, ando meio aborrecido com eles. Só não sei a quem endereçar meu inconformismo: Aeronáutica ou Exército. E tudo por causa de um  muro.
Não sei quem teve a ideia. Sei que são os homens do Exército, trabalhadores da construção das marginais da BR-101, que estão executando. Tijolo a tijolo, o paredão de seus três metros de altura vai subindo bem na ponta do aterro da nova marginal, que consumiu algumas centenas de carradas de areia e barro até ser concluída. A estrada ficou a poucos metros do pedacinho de floresta que tanto prezo e, num trecho que vai até quase o Rio Pitimbu, os carros passam na altura da copa das árvores. Eu, que passo por lá dia sim e o outro também, curtia essa visão cada dia mais rara numa cidade que cresce a passos acelerados. Até me deparar com o primeito tijolo e entender, ou pelo menos tentar entender, o que estavam fazendo. 
Eu, que entre muitos defeitos não relaciono o egoísmo, pensei que outros motoristas bem poderiam sair da via principal para também desfrutar desse contato com o verde. Mesmo que fosse só o tempo de abrir a janela e respirar um pouco do ar que nós, moradores deste lado de Emaús, respiramos e que, apesar do obstáculo, ainda estará lá quando a obra for concluída. Chato vai ser encher os pulmões de cara para uma parede de tijolos. 
Como tudo tem seu lado positivo, a obra da marginal inclui também um calçadão, tocado pelos mesmos operários fardados. A revolta pelos tijolos que sobem serena com o cimento que se espalha, da pontinha de Emaús até quase Nova Parnamirim. Como consolo, na caminhada, ainda vamos ter um restinho da vista do Rio Pitimbu. 

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