terça-feira, 18 de setembro de 2012

Verbo ad verbum

A culpa de cada um 
Marcos Bezerra, do Novo Jornal


Emaús e um pedaço de Mata Atlântica, à frente de minha janela. Moro num pedaço de sossego e, sossegado no meu canto, pouco convivo com pessoas longe do universo familiar. Meus vizinhos; conheço poucos pelo nome e, mesmo estes, pouco conhecem de minhas ideias tortas, que aprumo aqui, pelo menos esteticamente, graças às ferramentas deste computador que tanto me serve e de quem tanto reclamo. Esta bolinha circulando, traduzida como espera, dá-me nos nervos.
Dá para perceber que ando um pouco perturbardo.
Culpa do corre-corre do dia a dia; do dinheiro pouco que deixa a conta encarnada no banco; dos juros que serão cobrados no início do mês e que comprometerão ainda mais meus parcos recursos.
Culpa de um inacabada marginal, que nunca se finda por causa da burocracia. Os senhores responsáveis pelas concessionáris de energia, telefone, gás e água bem podiam colaborar com o Dnit e liberar seus postes, canos e cabos para a construção dos complementos dessa bendita BR-101, que leva e traz, todos os dias, este cidadão de casa para o trabalho, do trabalho para casa e que tanto se aperreia com os perigos do semáforo de Cidade Satélite.
Ou, talvez, culpa da agitação que tem tomado conta da nossa querida terra dos Reis Magos, onde a prefeita resolveu dar um reajuste inesperado nas passagens de ônibus, os estudantes protestar e a Polícia coibir os manifestos com gás de pimenta, bombas de efeito moral e balas de borracha.
Cruzei com o movimento de ontem aqui na velha Ribeira; ou o movimento cruzou comigo em frente ao Banco do Brasil. Fiquei arrepiado, querendo virar estudante de novo – no meu tempo não sabíamos nem o que era protesto. Não fosse o trabalho e, talvez, incorporasse um anarquista de meia idade e me juntasse ao protesto. Eu, que nem ando de ônibus, mas sou a favor da livre manifestação... Eu que, confesso, amaldiçoaria os estudantes e dirigiria palavras pouco elogiosas a suas genitoras, caso estivesse no imenso engarrafamento provocado por eles. Contradição? Não, aí seria minha, a livre manifestação.
Na verdade, os jovens fazem o que todos nós que moramos e/ou trabalhamos nessa terra Natal gostaríamos de fazer. Dizer à senhora prefeita que não suportamos tanta falta de cuidado com a coisa pública. O aumento das passagens, depois de um longo tempo sem reajuste nas tarifas, com insumos e salários subindo, pode até ser justo, mas não precisava ter sido feito dessa forma. De supetão, e no apagar das luzes de um governo que cai pelas tabelas, é de se pensar que argumentos fizeram a Borboleta esquecer a birra inicial de que não daria, de jeito nenhum, o aumento que ora causa tanta discórdia.
Ou, ainda, culpa da lua azul, que prateia minha floresta.

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