quinta-feira, 28 de novembro de 2013

VERBO AD VERBUM


VERBO AD VERBUM
Zenóbio Oliveira


A dicção de certas palavras muitas vezes não leva ao entendimento fiel daquilo que se quer dizer. A palavra quando não sai bem articulada provoca uma série de interpretações. Inda tem a questão dos homófonos, dos homógrafos e dos cacófatos. Some-se a isso, principalmente nos casos de cacofonia, o complicador de uma deficiência vocal, como aquela história da discussão amorosa entre o casal de gagos.
__Vo-você mimijo, mimijo, mimi-jogou fora!
__Vo-você Tam-tam-bem nuncago, nuncago, nuncagostou de mim!
Ou por outra de uma deficiência auditiva, como a história do cara surdo que ouviu mal no velório que o defunto tinha morrido de infarto do miocárdio e quando foi perguntado sobre a causa da morte do finado respondeu com toda segurança.
__Foi um fato lá do mercado! Só podia tá estragado, num é não?
E a tal da homografia?
O camarada ganhou uma chapa (dentadura) na campanha eleitoral e no dia do pleito depois de marcar a chapa (cédula de votação), ao invés de depositá-la na urna meteu a bicha no bolso da camisa. Um dos fiscais vendo o disparate gritou:
__Ei Seu Zé! Num pode levar a chapa não!
O eleitor meteu a mão na boca, arrancou a dentadura, jogou no fiscal e disse:
__Pode ficar cum essa merda, eu sabia que vocês ia tumar!
Toda língua tem seus dialetos, seus patoás. A língua portuguesa é muita rica nesse aspecto. Tem o linguajar específico para cada região geográfica ou grupo social. Há uma diversidade de vocabulário, de pronúncia e de sotaque.
O cruzamento desses dialetos contribui para o surgimento de novas palavras. Não se trata dos neologismos literários, mas da derivação da própria língua.
Quer ver?
O sujeito recebe do oculista o diagnostico:
__O senhor está míope!
E quando chega em casa a mulher lhe pergunta:
__E aí, tá mesmo curto das vista?
__Não! O doutor disse que eu tava NILTE!
O outro se sente destratado pelo vizinho e grita:
__Vou lhe processar por DAMAS IMORAIS!
O camarada que presenciou uma briga na sua rua comenta na roda de conversa:
_ A puliça levou todos dois pro IPEPS, pra fazer exame de CORPO DELÍCIA!
Alguns cantores de seresta corroboram essa prática alterando as letras da canção original.
A música: “Nesta casa tem goteira, PINGA NI MIM”
O seresteiro: “Nesta casa tem goteira, LINDA MININA, LINDA MININA...”
A música: “AÇAÍ GUARDIÃ, zum de besouro, um imã...”
O seresteiro: “AO SAIR DO AVIÃO...”
A música: “MEU FLAMBOAIÃ NA PRIMAVERA, que bonito que ele era...”
O seresteiro:”MEU FRANGO OLHANDO A PRIMAVERA, que bonito que ele era...”
É de se entender que comunicação depende muito mais do repertório cultural do falante do que mesmo das regras gramaticais.
É de se entender também que são muitas as maneiras linguísticas de se dizer a mesma coisa.
 “O ORIFÍCIO CIRCULAR CORRUGADO, LOCALIZADO NA PARTE ÍNFERO-LOMBAR DE UM SUJEITO ACOMETIDO DE ALTO TEOR ETÍLICO, DEIXA DE ESTAR SOB A ÉGIDE E A PROTEÇÃO DOS DIREITOS INDIVIDUAIS DE PROPRIEDADE!”
Ou seja,
“CU DE BEBO NUM TEM DONO!”



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